Capítulo 13

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LEON

Phoebe para de andar. Ela olha para mim como se eu fosse completamente louco, mas eu nunca me senti tão certo em toda minha vida. 

- Eu não posso me casar com você, Leon! - ela diz finalmente, colocando o copo de uísque em uma mesinha de vidro. 

- Por que não? 

- Porque você já está prometido a outra mulher! - dessa vez sua voz sobe algumas oitavas.

Ah. 

Por um momento eu havia simplesmente me esquecido de Margery. É claro que nosso casamento estava combinado há anos, mas agora, olhando para Phoebe, isso não me parecia um problema. Na verdade, me casar com Phoebe parecia muito mais uma solução, para ela e para mim. 

- Isso é apenas um problema que precisaríamos resolver, Phoebe. Mas pense bem, casar-se comigo é a melhor alternativa, para nós dois. Você estaria livre para fazer o que sempre sonhou, porque eu jamais a impediria, e eu ganharia a vantagem de me casar com uma amiga, alguém com quem posso conversar, o que é muito mais do que tenho com Margery - dou alguns passos em direção a Phoebe e seguro suas mãos - E quem sabe, talvez um dia nós poderíamos ver esse casamento como algo a mais, poderíamos nos amar... - digo, com cuidado, sem querer demonstrar meus verdadeiros sentimentos. 

Phoebe solta minhas mãos e se vira de costas, afastando-se.

- Isso seria impossível, Leon. 

E meu coração está despencando. Suas palavras cortam minha pele e percebo como elas doem, porque Phoebe está dizendo que seria impossível me amar e a simples ideia de que talvez seus sentimentos não estejam derivando na mesma direção que os meus me machuca. Eu desejo Phoebe desde o primeiro dia em que a vi. A desejo como nunca desejei mulher nenhuma e não apenas por ela ser tão inacreditavelmente fascinante. Há algo em meu peito que queima por ela. Como Heathcliff, eu sei que, independente do que as almas são feitas, a minha e a dela são a mesma. 

- Por que seria impossível me amar, Phoebe? - pergunto em voz baixa. 

Então Phoebe se vira de súbito para mim e parece muito, muito irritada quando grita:

- Porque eu já te amo, seu completo idiota! 

Abro meus lábios sem conseguir dizer nada e Phoebe está novamente se afastando na fração de segundo que levo para digerir essa informação. Mas quando meus sentidos voltam a mim, puxo Phoebe pelo braço. 

Seguro seu rosto em minhas mãos, tomando um segundo para sentir seu hálito quente em minha pele e para estudar as pequenas sardas em seu nariz. 

- Leon... - ela sussurra. 

E então eu a beijo. Eu a beijo como vinha desejando fazer desde o dia no terraço, desde que ela me contou a primeira vez sobre seus sonhos. Eu a desejo tanto que meu coração está martelando no meu peito, tentando segurar esse momento suspenso no tempo, quando os lábios dela também tocam os meus e ela retribui meu beijo de maneira voraz. 

Ela está puxando meu cabelo e eu a estou tomando para mim, buscando cada canto da sua boca na minha. E ela faz o mesmo, como se os meus sentimentos e os dela fossem reflexos um do outro. 

Eu nunca me senti tão completamente entregue como me sinto nesse momento. Phoebe me tem nas mãos por inteiro e percebo que estou irremediavelmente preso a ela. 

Quando nos afastamos, um pouco ofegantes, encosto minha testa na dela  e observo os pequenos sorrisos que escapam de seus lábios vez ou outra. Então ela levanta o olhar e diz:

- O que você está fazendo, Leon Hayes? 

- O que eu já queria fazer há muito tempo, Phoebe - passo um dedo por sua bochecha e ela inclina a cabeça em minha mão. 

- Por que você me fez pensar que não me queria? - ela se afasta um pouco mas a puxo de volta. 

- O que eu podia fazer? Eu estava disposto a ser seu amigo e tentar me aproximar aos poucos, mas tinha medo de afastá-la, ainda mais por já estar prometido a alguém. 

- Exatamente, você já tem alguém...

- Alguém que eu sempre disse que não amava - interrompo-a - Eu não quero passar a minha vida ao lado de Margery e imaginando o que eu poderia ter tido com você. Eu não posso suportar a ideia de viver uma vida na qual você não está inserida. Você é minha amiga, a pessoa para quem eu posso contar cada segredo e ouvir uma opinião sincera como resposta. Mas se fosse só isso eu não estaria aqui te propondo para se casar comigo.

- E como isso funcionaria? Em termos pragmáticos. Porque seus pais não te arranjaram um casamento com Margery por ela ser simplesmente uma garota bonita. A empresa da sua família depende disso. 

- Eu não sei. Eu preciso pensar em algo e vou, prometo. Mas tudo o que eu sei, Phoebe, é que eu não quero que os negócios da minha família definam com quem devo me casar. Eu suportei essa ideia durante toda minha vida e a honrei porque nunca houve ninguém. Porque eu nunca de fato acreditei que poderia me interessar por uma pessoa a ponto de desejar passar minha vida com ela. Mas agora é diferente. 

- Diferente como, Leon?  Você percebeu que estava apaixonado por mim nos últimos trinta minutos. 

Afasto-me dela e das suas palavras duras, sem entender porque ela está agindo dessa forma logo após eu dizer que gostaria de me casar com ela.

- Não, Phoebe. Eu não percebi que estou apaixonado por você agora - estou girando distraidamente o anel de família no meu dedo mindinho enquanto falo - Eu tomei consciência disso nos últimos meses, enquanto você me escrevia e eu esperava ansiosamente por suas cartas. Eu me senti frágil e estúpido pela primeira vez em quase 22 anos, porque eu estava desesperado por notícias suas. Nós construímos algo ali, mesmo estando distantes um do outro. Então, não, eu não percebi isso hoje. Embora, de fato, seja a primeira vez que digo em voz alta que amo alguém.

Phoebe respira fundo e caminha até mim, então me abraça. 

- Me desculpe. Eu também não sei como reagir a isso, a esse sentimento - ela diz, sussurrando as palavras contra meu peito - Porque essa nunca foi uma questão importante para mim, porque eu nunca nem sequer desejei me casar. E, bem, talvez a ideia realmente me assuste. Você esteve a vida toda pensando sobre casamento, de alguma maneira, mas sem precisar se preocupar em encontrar alguém. Mas eu nunca pensei sobre isso. Porque meu único interesse sempre foi ser livre para poder estudar e não estar presa a um marido, às minhas supostas obrigações como esposa.

- Eu sei - digo e beijo o topo de sua cabeça. 

- Não me entenda mal, eu passei por todas essas escolas de etiqueta completamente ridículas que deveriam me ensinar a ser uma boa esposa. Mas só me fizeram abominar ainda mais a ideia de me casar. 

- Phoebe - afasto-me para poder olhar em seus olhos ao falar -, eu conheço sua alma e a amo porque ela é livre. Eu sei que nunca poderia exigir que você se comportasse como esperam que você se comporte enquanto esposa, e nem desejo isso. 

- Não?

- Não - balanço a cabeça - Eu fui preparado a minha vida toda para me casar com alguém cuja principal função seria me ouvir, concordar com tudo que digo e se certificar de que a casa estaria limpa e a janta servida quando eu chegasse. Mas eu não quero isso para mim, não suporto a ideia de passar a vida toda com alguém que seja submissa a mim e nem desejo colocar qualquer pessoa nessa posição. - faço uma pequena pausa para observar sua expressão e algo em seu rosto me diz que devo continuar dizendo o que pretendia - Eu sei que essa foi uma maneira horrível de te pedir em casamento. E eu jamais teria feito dessa forma, se as circunstâncias fossem outras. Eu planejava passar as próximas semanas te mostrando o quanto estou interessado em você antes de tentar beijá-la. E, se você me permitir, eu de fato pretendo te mostrar que não estou apenas gastando minhas palavras com você. 

- Tudo bem - ela diz com a voz doce e o olhar impetuoso. Ela parece, ao mesmo tempo, uma menina assustada e uma mulher decidida - Eu gostaria que você me mostrasse. Eu gostaria que você me convencesse a aceitar seu pedido. Se não, encontrarei outra maneira de estudar sem que para isso tenha que me casar com você, Leon Hayes.

- Temos um acordo então - sorrio e Phoebe sorri de volta para mim. Mesmo aquele pequeno sorriso resume tudo que eu admiro nela.  




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