Jessica

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Desde que eu tinha 8 anos, o Hospital Miami Grace era minha segunda casa. O ambiente era familiar e acolhedor, e todos os médicos pareciam amar minha presença. Por sempre estar ocupado trabalhando, papai se sentia culpado por me dar pouco tempo da sua companhia, então, quando podia, me levava ao hospital. Era tudo mágico para uma pirralha de 8 anos, todas aquelas pessoas correndo para lá e para cá, as seringas, os jalecos incrivelmente brancos. Eu amava.
O que não é diferente de agora. Quando o taxista me deixa na porta enorme e bem talhada do Miami Grace, um sorriso involuntário se abre em meus lábios. Entrego o dinheiro da corrida, e caminho devagar, minhas mãos enfiadas em meus jeans, os cabelos se agitando. Quando giro a grande porta do local, sinto o cheiro forte de formol e água sanitária, e a típica brancura. Pessoas caminhando com seus jalecos brancos, enfermeiras cochichando nos cantos, a velha e boa rotina.

Avisto Jessica uma das médicas residentes do meu pai, e que já havia jantado lá em casa. Ela tinha uma prancheta em mãos, lendo atentamente alguns papéis, e caminho até ela.

-Dra. Alba? - eu chamo, fazendo uma voz grossa, bem diferente da minha mesmo, que é um pouco fina.

-Sim?

Jessica devolve, ainda olhando os papéis, e dou uma risadinha. - Pode olhar para mim, doutora?

Há um leve tom de riso em minha voz falsamente rouca, e vejo Jessica bufar e levantar seu rosto, então me vê.

-Deinert! - exclama, rindo, e me dá um tapa no braço, mas me abraçando fortemente.

-Bom ver você, Jessie.

Ela sorri largo, e ajeita seus cabelos. Jessica Daniels é uma peça rara. Ela está em seu 4º ano de residência, trabalhando com meu pai desde o início, e cativando o mesmo. Com cabelos castanhos claros abaixo de seus ombros, e da minha altura. Seus olhos são brilhantes, e reparo que parecem com os de Heyoon. Suspiro internamente ao me lembrar daqueles olhos curiosos que pareciam te levar lara outra dimensão.

-O que faz por aqui, Mary? - ela ajeita seu jaleco, se escorando em uma coluna que havia ali.

-Vim ver o seu chefe. - olho de um lado para o outro, procurando papai - Sabe onde ele está?

Jessica semicerra seus olhos, dando um olhar esperto para mim, sabendo que eu nunca apareço tarde assim no hospital. Não a toa.

-Está com o Henry. Eles estavam discutindo sobre um caso especial aí, de um transplante de rins. Seu pai deve operar.

Sorrio orgulhosa ao ouvi-la dizer de uma possível operação que meu pai pode fazer. Orgulho era algo que eu tinha muito pelo o meu pai e sua profissão. Por mais que ele fique muito tempo fora em plantões sem fim.

-Legal. Acho que vou esperar por ele. A gente pode tomar um café. Ou você tá muito ocupada? - ergo as sobrancelhas em dúvida, querendo muito sentar para conversar com Jessica. Depois de Josh, Any, e Sabina, Jessica era uma boa amiga.

-Claro que podemos. Eu só estava revisando uns pro-operatórios. Vamos.
Jessica pega em meu cotovelo, e começamos a andar. Cumprimento algumas enfermeiras que vejo aqui desde criança. Elas sorriem e pegam em minhas bochechas, dizendo o quão grande estou.

Jessica só ri, e me ironiza, mas não dou atenção. Quando chegamos a lanchonete do hospital, ela corre e se senta em um canto mais afastado, e sigo atrás dela. Pedimos sucos de morango com laranja, e a médica me olha com curiosidade.

-Então, o que a ocupada Sina Maria faz aqui?

Rio com a importância exagerada que ela coloca na pergunta, e jogo meus cabelos pro lado, sorrindo. Eu amo conversar com essa garota.

𝑺𝒆𝒙𝒚 𝑳𝒊𝒔𝒕𝒆𝒏𝒆𝒓Onde histórias criam vida. Descubra agora