Diarra

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Eu mantinha meus olhos presos na poltrona na minha frente, mordendo a ponta do meu polegar, enquanto a mulher na minha frente me fita. Jesus, para que me encarar tanto assim?

- Você não disse quase nada, Sina. Estou te achando muito quieta. - Shivani para o meu azar, me conhecia bem demais, e por esse motivo, me olhava daquela forma. Ter uma terapeuta tem seus contras. E ter uma terapeuta que lhe conhece bem, pior ainda.

- Não há nada de novo acontecendo. Na verdade, eu gostaria de estar em casa. Preciso estrear meu novo jogo. - Dou de ombros, fazendo minha cara de palerma, aquele cara de garota sem vida social, que só quer saber de jogar e ver séries. O que é algo que eu sou, mas isso não vai entrar em discussão agora.

- É mesmo? Bom, se você se sente bem, acho que podemos finalizar, talvez?
Shivani fica passando sua caneta preta de ponta fina por seus dedos magros e longos, e eu bufo, porque aquilo me irritava. E ela faz isso sempre que quer arrancar algo de mim. E eu normalmente cedo, devido ao meu TOC, e digo o que há de errado.
Mas não hoje.

Eu me recuso a dizer qualquer palavra sobre o dia de hoje, porque preciso processar tudo, o que será algo nada fácil. Brad foi um completo nojento, mas não era algo que eu não sabia. O que eu não sabia, ou sabia, e fingia de sonsa, era meu completo interesse e queda por Sina. Uma mulher totalmente desconhecida para mim, com um trabalho que me deixava de bochechas coradas só imaginando ela em "ação". Ai boa parte pensa: "você mal a conhece, ela é uma prostituta, para de fantasiar. "

Eu não a conheço. Não sei seu sobrenome. Sua idade. Ela tem um emprego que causaria arrepios na nuca da minha governanta, mas era uma garota extremamente linda e que me atraia como nenhuma outra, e isso por anos. Ela me fazia sonhar de olhos abertos, sonhar com seus olhos, com seu rosto de porcelana, a voz rouca. E desde quando, para sentir desejo e atração por alguém era necessário saber seu nome? Seu RG?
Então sim, estou desesperadamente e assustadoramente atraída por ela. E isso me assusta. Eu me sentia acuada, sem saber o que dizer ou fazer, cheia de dedos.

- Eu só quero jogar. Não venha com essa sua mania boba, eu quero ir para casa.
Shivani faz um pequeno bico, mas anota algo em seu bloco, e relaxo meus ombros. Missão cumprida. Meu celular vibra em meu bolso, e pego ele, vendo uma mensagem de Any.

Gaby🌹

"Vou ir buscar você. Beijos"

Então quer dizer que Any viria me buscar? Isso é obra de Joshua Beauchamp. Ele deve ter contado tudo que rolou no estacionamento para Any, Joalin, Sabina, e até mesmo papai, e agora eu tinha explicações para Any Gabrielly conseguia ser protetora como uma leoa com seus filhotes, sempre pronta para morder quem ousasse me machucar, ou seus irmãos, Josh, Sabina. Ela me protegia tanto, e fazia tantas coisas por mim, que eu nunca posso agradecer o bastante. Ela vale ouro.

Tiro os olhos do meu aparelho, e olho para minha terapeuta, que estava de pé e de costas para mim. Passo meus olhos sobre morena em minha frente, e vejo uma marca roxa em seu pescoço, na altura da gola de sua blusa de botões.

- Está saindo com alguém? - Falo de supetão, e ela se vira para mim rapidamente, me olhando confusa, e quase sem graça.

- Que tipo de pergunta é essa, Sina? - Ofendida, ela faz uma careta para mim, e me sinto como uma criança travessa e curiosa. Sou assim desde pequena, as vezes fazendo perguntas sem nexo, mas que se tornavam totalmente desconfortáveis para as pessoas.

- Há um chupão monstruoso em seu pescoço, e você está com uma boa cara. - Mordo meu polegar, e me aproximo dela, fazendo cara de curiosa, querendo assusta-la. - Você definitivamente está saindo com alguém.

𝑺𝒆𝒙𝒚 𝑳𝒊𝒔𝒕𝒆𝒏𝒆𝒓Onde histórias criam vida. Descubra agora