Sessão de terapia: Pedro - Quinta-feira, 17 horas - Part 4
Naquela tarde Pedro chegou mais cedo na sessão. Meninos gostamos de brincadeiras de urso, abraçar forte, bater cabeça, coisas de testosterona. Notei que aquele abraço foi diferente. Ele me segurou forte, um verdadeiro abraço de urso. Eu sou grande, Pedro não fica atrás, nossos encontros são sempre muito energéticos, mas, naquele momento pude sentir toda a sua fragilidade...
Pedro sentou-se na ponta do sofá, como faz normalmente quando fará uma confissão, busca ficar mais próxino de mim e começou...
- Cara, estou arrebentado ... não suporto mais de saudades de Rute. O que está acontecendo comigo? Nunca fui assim... estou parecendo aqueles viciados, os dependentes quimicos do instituto que você conta. Eu sou terapeuta holístico, professor de acupuntura e medicina chinesa, estou acostumado a trabalhar com os desequilibrios de meus pacientes... não é possível estar assim... Mal consigo me focar nos pacientes... me ajude!
Aquilo era um verdadeiro pedido de ajuda de um paciente. Terapeutas temos de tPedro muito cuidado quando os pacientes pedem ajuda, sinal de extremo sofrer. Se o paciente for terapeuta, mais ainda.
- Pedro, meu querido, eu tenho dito a você que todo prazer sempre será acompanhado de dor. Dor nã precisa ser acompanhada de prazer, mas todo prazer trará uma dor. Nem que seja a dor da impermanência. O que você tem é saudades, falta. Você Pedro, achou que tudo ia ficar no plano físico que era só sexo. Claro que não... A gente se apega a quem nos traz prazer. Você se apegou a Rute, e Rute se apegou a você. Mas você não quer ver.
- Sim, ela me dizia que o que sentíamos era amor, eu sempre disse que era Sexo, paixão sim, mas não amor. Ritta Lee fez uma excelente música explicamdo as diferenças entre Amor e Sexo. Será que eu errei tanto assim?
- Pedro, você é um homem inteligente. Perceba. Lacan estabelece três níveis: o Real, o Imaginário e o Simbólico. O Real é o que acontece fisicamente, o sexo em si. O Imaginário é o que você faz para se defender da perversidade do real. O Real traz a falta, a falta é perversa, o imaginário nos tira da perversidade da falta. Você imagina como será, como seria se... e com isso você etenua o Real. Neste sentido que o Imaginário protege-nos do Real. Por último vem o Simbólico, o que aquilo representa em sua alma, em sua infância. No que aquilo realiza seus sonhos pré históricos?
- Vocês estavam no simbólico, e se amavam... mas você não quis simbolizar. Ficou na fantasia e passou a satisfazer suas fantasias sexuais. Dai para caírem no real foi um pulinho. Você passou a viver no gozo, a viver no prazer. Tudo o que importava para você era o prazer, o seu gozo. Agora você vive a falta, a frustração de não ter mais este prazer. Esta é sua dor. Dor de amor.
- Doutor, mas eu não entendo. Todas as vezes que íamos ao motel, ela gozava, muito. Não consigo entender. Para que ela comecóu com esta cousa de querer se deitar somente do marido? Não estávamos bem assim?
- Pedro,, os homens querem sexo, as meninas querem relacionamento. Nós queremos a generosidade sexual delas, mas elas querem se sentir amadas, valorizadas. Você se esqueceu deste detalhe... Homens mandam flores quando querem sexo, enquanto mulheres mandam sexo quando querem flores. Ela deu o sexo para você Pedro, mas você mandou espinhos de volta, não flotes. Eu tenho tentado mostrar a você Pedro, mas você nada ve além da sua necessidade. Um dia a ficha tinha de cair...
- Mas doutor, ela nunca saiu do motel sem gozar...
- Pedro, você não consegue entender por que você está vidvendo somente a sua dor e não se importa com a dor dela. Você só consegue olhar para você. Ela sente dor Pedro? O que deve estar acontecendo com ela? Pense!
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VINTE CONTOS
Short StoryUma coletânea de contos adultos, recheados de imaginação e fantasia em um contexto de realidade, na busca dos conflitos de cada uma das personagens.   O autor, médico veterinário especializado em medicina chinesa (acupuntura) a huma...