Capítulo IV

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Capítulo IV

 

Acordar para o sonho

Uma forte iluminação começou a incomodar Betinho. Droga! Tinha a sensação que acabara de começar a dormir. Não queria ir para a escola hoje. Ia falar para a mãe que queria ficar dormindo até mais tarde. Nesse momento, o burburinho de uma conversa que ele não entendia chamou sua atenção e o rapaz resolveu preguiçosamente abrir os olhos.

Lentamente a imagem a sua frente começou a entrar em foco. Intrigado, deu-se conta que não estava em seu quarto e as duas pessoas que via, não eram da sua família. Na verdade, eram completamente estranhas. O quarto em que estava era totalmente iluminado, amplo e limpo. As paredes eram claras e o teto alto. Betinho percebeu que estava deitado em uma cama confortável com lençóis brancos. Parecia um hospital, sem nenhum daqueles aparelhos barulhentos por perto. Somente três camas. Numa estava ele, nas outras duas, Betinho observou duas meninas que pareciam estar acordando como ele. Sentadas, conversavam timidamente, algo que ele não entendia. E agora, como saber onde estava e como tinha ido parar ali? Aos poucos começou a lembrar-se dos últimos acontecimentos. Briga, solitária... e depois? Nada. Não tinha noção do que acontecera. Só sabia que não estava sentindo as dores no corpo das quais se lembrava muito bem.

Carmen e Amanda acordaram praticamente juntas, minutos antes de Roberto. Inicialmente assustadas com a novidade, ficaram em suas camas tentando adivinhar onde estavam. Lembrando-se que tinha sido presa ao fugir do orfanato, Amanda tinha receio de descobrir o que estava acontecendo.

Pensou logo em como fugir dali. Foi em direção à porta do quarto em que estavam e percebeu que estava trancada. Virou-se para os dois outros jovens que ainda estavam em suas camas olhando atentos para ela. Não sabia se podia confiar neles. Apesar do medo, não conseguiu ficar calada por muito tempo. Afinal, os outros dois que estavam no quarto pareciam estar na mesma situação que ela. Inclusive todos estavam vestindo roupas iguais. Calças jeans e camisetas brancas de mangas curtas. Virou-se para a menina na cama ao lado da sua e foi direto ao ponto.

- Hi! I´m Amanda. What´s your name? Do you know where are we and what are we doing here?[1]

Carmen levou alguns segundos para entender Amanda. Falava e entendia inglês, mas por não esperar que a conversa viesse em outro idioma, demorou um pouco para acostumar-se. Lentamente, formulou a frase para responder.

- My name is Carmen. I´m from Venezuela. I don’t know why we are here and where we are. Are you American?[2]

- Yes! This place looks like a hospital, don´t you think?[3] – Amanda percebeu que o rapaz na cama em frente à delas já estava acordado e olhando para elas com curiosidade. - And you, what´s your name?[4] 

O rapaz continuou calado, com olhos arregalados. Por um momento, os três ficaram parados se olhando. Betinho levantou os ombros e fez um gesto com as mãos tentando indicar que não entendia.

Carmen percebeu o que estava acontecendo. Virou-se para o rapaz e disse em espanhol, fazendo gestos, para auxiliar a compreensão.

- Yo Carmen, Venezuela, ella Amanda, Estados Unidos, y tu? – E fez um gesto apontando para Betinho.

- Roberto, Brasil. – Aliviado, Betinho percebeu que a menina morena falava em espanhol e que ele conseguia entender. Muito lentamente, falou em português. – Não falo inglês nem espanhol, mas entendi você. Você me entende? 

- Si hablas despacio, te comprendo[5].

Betinho pensou e percebeu que a tal da palavra despacio deveria significar devagar...

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