Acordei com o barulho e clarão de um trovão, a fogueira ainda estava acesa pois era dever da equipe que estava de vigília mantê-la acesa. Quem estava de vigília era o grupo de Lucas e Tamily e eles conversavam. A chuva não havia cessado, olhei ao redor e vi Bob e os outros dormindo, os coturnos estavam secando perto da fogueira, levantei e fui conversar com os dois.
-E essa chuva que não passa. Disse tentando entrar na conversa, enquanto me encobria com uma camisa extra com qual acordei na sala.
- sim, nessas regiões as chuvas assim podem durar até três dias. Disse Tamily olhando para os clarões que os raios faziam enquanto caiam não muito distantes.
- espero que até de manhã a chuva passe, as castanhas estão acabando e as ervas já foram todas usadas. Disse enquanto soltava os cabelos para tentar me esquentar ainda mais.
- não sei nem o que dizer, seus conhecimentos ajudaram muito hoje, acho que aliviou e nos livrou de muitos problemas, realmente obrigado.....Disse Lucas enquanto puxava os joelhos para perto do corpo e se encostava na parede.
-imagine, temos que trabalhar em equipe se quisermos passar por essa prova inteiros. Respondi olhando de forma carinhosa tentando ficar mais íntima dele que sempre parecia triste.
- bem, acho que estamos indo bem, trabalhamos em equipe, ainda não passamos fome e nem sede, conseguimos um lugar aonde não pegamos nem sol e nem chuva, temos fogo e ainda por cima água. Disse Tamily enquanto olhava para a fogueira e arrumava os cabelos ruivos que escorriam de lisos.
- realmente, mas não podemos baixar nossas guarda, pois a voz disse que eles nos atacariam e tentariam nos matar, não disse o momento, quando e nem onde, se seria uma vez duas ou todas as vezes que baixássemos a guarda. Disse Lucas puxando para perto de si a sua faca de cabo preto.
Lucas mal fechou a boca e escutamos passos se aproximando, pensamos ser algum tipo de animal, corri e acordei os demais que pegaram suas facas e rapidamente calçaram seus cuturno, estávamos todos armados para qualquer ameaça animal.
- vou me aproximar mais e ver que tipo de animal é. Disse Marcos andando com postura de luta com a faca em uma mão.
- não Marcos. Disse Rafaela, indo alguns passos atrás de Marcos.
Chegaram até a entrada da caverna, olharam e olharam e não encontraram nada. Quando Marcos se virou para voltar uma pessoa com roupas totalmente escuras apareceu atrás dele, Rafaela gritou para Marcos se defender, porém já era tarde, Marcos foi esfaqueado nas costas. Quando Marcos caiu no chão com o sangue jorrando feito um chafariz Rafaela correu para cima da pessoa que não se deixou levar após esfaquear Carlos e estava pronta para matar todos ali naquela caverna.
Enquanto Rafaela e o mascarado se entreolharam procurando uma brecha para atacarem um ao outro, Bob correu e arrastou Carlos, que já estava inconsciente, Tamily foi para perto de Bob, Lucas foi ajudar a Rafaela e eu estava paralisada sem saber o que fazer, o medo estava me tornando inútil.
Uma segunda pessoa entrou na caverna, Rafaela e Lucas não poderiam se defender, decidi com um surto de loucura ir para cima da segunda pessoa, assim eles estariam em desvantagem. E ali estávamos, eu Rafaela e Lucas. A adrenalina me deixava atenta assim como os outros dois, sentia medo mas sabia que se não protegesse eu e os outros que cuidavam de Marcos morreríamos ali. Não podíamos perder Bob pois ele era o que tinha melhores conhecimentos médicos e sua presença era essencial para sobrevivermos.
Com um forte grito Lucas me tirou de meus pensamentos e me fez voltar a realidade. Voltei a tempo de desviar de uma facada que rasgaria minha garganta e me faria sangrar até a morte. Começamos a lutar e depois de poucos momentos dei um chute no invasor, chute este que arrancou a faca de meu adversário.
Fui para cima e o prendi entre as paredes da caverna com minha faca. Escuto Lucas gritando para mim de forma desesperada, quando olho vejo a outra pessoa vindo com a faca em minha direção. Percebo que não havia como fugir, tudo que passava pela minha cabeça era meu sonho de um dia viajar o mundo conhecendo todos os biomas, a poucos passos e eu podia ver o fio da lâmina, porém fui arremessada e caí a poucos centímetros dali.
Quando olho vejo Tamily e o mascarado parados um de frente para o outro. Não conseguia ver o rosto de Tamily, porém ambos paralisados, consegui ver quando o primeiro vestígio de sangue caiu no chão o tingindo de vermelho rubro. Todos estavam parados para ver quem havia recebido o golpe, ambos descem de vagar até chegarem ao chão, escuto o choro de Tamily e o mascarado cai ainda com a faca em seu peito.
O outro que estava preso entre a parede e minha lâmina aproveitou a oportunidade para fugir e sair correndo floresta a fora, porém é seguido por Lucas que não pensa muito e sai correndo atrás do ser que se escondia atrás da veste preta.
Corro para perto de Tamily que está coberta de sangue, olhando para o corpo caído em sua frente paralisada e chorando. Olho para o lado e Bob está lutando para salvar a vida de Marcos que estava com o corte nas costas. Rafaela corre para perto de Bob e o ajuda.
- Vamos nos limpar. Digo a Tamily já a puxando e a abraçando enquanto íamos mais a fundo na caverna, até a fonte de água.
- eu nunca havia feito isso, eu juro que não queria o matar, mas se eu não tivesse ido para cima você estaria morta, o que eu fiz? Tamily dizia em meio aos soluços ainda olhando para as mãos ensanguentadas.
- lave- se, você apenas se protegeu. Aliás, te agradeço profundamente. Disse a Tamily com meu coração ainda acelerado enquanto tirava sua camisa para lavar.
Tamily pede para deixá-la sozinha e disse que tomaria banho. Saio e vou até Bob que está ajoelhado ainda pressionando o corte de Marcos.
- como ele está? Pergunto ainda cheia de adrenalina e medo de que voltassem e dessa vez nos matassem.
- ele teve muita sorte, o corte não foi profundo e não irá mata-lo. A perda de sangue não é um problema tão grave, jorrou muito porque pegou uma pequena veia que tem nessa região. Ele não poderá se esforçar muito porém depois de alguns dias ficará bem disse Bob passando ataduras feitas com as próprias roupas de Marcos.
Olho para o outro lado e vejo Rafaela com uma pequena bolsa em suas mãos, vou até ela e lá ela estava olhando para um pequeno isqueiro, e algumas coisas poucas que tinha dentro da pequena bolsa que ele carregava, ela guarda as coisas e decide retirar a máscara do nosso agressor.
Quando puxa a máscara vê um jovem rapaz branco de cabelos curtos e olhos castanhos. Logo Lucas volta todo molhado por conta da chuva com a notícia que a outra pessoa havia fugiu no meio da mata.
- terminei aqui com ele. Disse Bob se levantando e vindo para perto de nós.
-iremos tirar esse corpo daqui antes que Tamily volte, ela está emocionalmente péssima. Disse Lucas enquanto tirava a camisa, coturno e objetos do defunto em nossa frente.
Bob e Lucas arrastam o corpo, e foram para fora no meio da chuva. Demoram muito e quando voltaram, eles traziam com eles a calça. Rafaela sai e vai até Tamily que até então não havia voltado da fonte, alguns minutos se passaram e todos nós ainda estávamos calados. Tamily e Rafaela voltam da fonte de água, Tamily ainda quieta e com a expressão de terror, aqueles poucos minutos do acontecimento deixou marcas em todos nós. Ficamos ali parados e em silêncio pelo resto da noite, alguns momentos cochilava mas revia todas as cenas do acontecido em meus sonhos, em outras vezes me via sangrando com uma faca na barriga e todos os outros mortos. Sonhos que traziam o desespero e me faziam acordar. Assim foi todo o resto daquela fatídica noite chuvosa que quase nos custou a vida de um companheiro.