6° capítulo

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O sangue seco cobria meu corpo, sentia os vermes e corvo arrancando os meus pedaços, tentava gritar ou me mexer mas não conseguia, parecia que havia uma tonelada em cada célula morta....sinto meu corpo ser arrastado e jogado dentro de um buraco, olho e vejo Bob chorando enquanto me cobria de terra, terra essa que me sufocava. Acordei sem respirar, passei a mão em meu corpo para ver se estava faltando algum pedaço ou se havia vermes me devorando, felizmente era apenas um sonho e eu continuava ali no canto da parede da caverna com minha faca na mão. Me levanto ainda ofegante do sonho que tive e vou em direção a saída que logo aparece em minha frente, olho e vejo que a chuva havia acabado deixando apenas um monte de barro e lama.
- olá bom dia! Disse Lucas atrás de mim.
- Bom dia. Disse a ele enquanto passava as mãos pela nuca.
- não conseguiu dormir?
- não. Toda vez que cochilo a imagem vem a minha cabeça ou sonho que estou morta e sempre acordo com muito medo.
-te entendo....também tenho sonhos ruins.
-Mas não podemos nos deixar levar. Se quisermos sobreviver hoje teremos que apanhar qualquer coisa para comermos, pois tudo acabou no nosso estoque.
Após isso fui para a fonte de água e lavei o rosto, quando voltei os outros já estavam acordados, exceto o Marcos que ainda estava desmaiado. Todos se lavaram e sentaram juntos para discutir o plano do dia, o que faríamos e como faríamos.
- hoje teremos que caçar algumas ervas medicinais para Marcos e comida. Disse Bob enquanto brincava com algumas pedrinhas no chão.
- tudo bem, hoje três pessoas caçarão a comida e as outras pegarão lenha para a fogueira, para isso pensei em deixar a Tamily e você Lucas para arrecadar lenha e cuidar de Marcos... eu, Bob e Rafaela iremos atrás de algumas frutas e caças pequenas.
- Eu posso ajudar a caçar se vocês precisarem. disse Tamily enquanto colocava o coturno de maneira sutil para não machucar mais ainda os pés.
- você não poderia ir muito longe com esses pés, sem falar que correria o risco de infecionar, coisa que traria mais problemas ao grupo que não tem remédios. Disse Bob apertando bem os seus cadarços.
Assim foi decidido, nós saímos da caverna sem saber se conseguiríamos algo ou se pelo menos estaríamos vivos para voltar. Andamos muito e no meio do caminho coletamos algumas ervas medicinais para o tratamento das feridas de Marcos e Tamily.
Não havia pegadas nenhuma por conta da grande chuva da noite passada, estávamos preocupados em não conseguir nada. Andamos muito até chegar em uma pequena cascata com um lindo rio de águas cristalinas.
- vamos tomar banho, estou morrendo de calor. Olha essa água! Disse Rafaela já tirando algumas peças e ficando só com as roupas íntimas.
-realmente o dia parecia que seria nublado mas de repente o céu se abriu e o sol ficou insuportável. Disse Bob ficando de cueca e entrando na água.
Tirei a roupa mas não entrei, fiquei apenas olhando. Bob tomou banho ,saiu, fez uma lança com um galho seco e começou a pescar. Rafaela continuou a tomar banho, decidi entrar na água porque o sol realmente estava fritando. Entrei na água que estava com uma temperatura perfeita, no fundo podíamos ver o chão e alguns pequenos lambarizinhos e começo a tomar banho despreocupada. Após alguns minutos tomando banho decidi mergulhar.
Havia acabado de submergir rio adentro quando dei de cara com uma tartaruga enorme, no momento achei lindo a maneira com que ela nadava livremente mas minha barriga lembrou de que eu precisava comer com uma forte pontada. Voltei a superfície e chamei os outros dois que vingaram rapidamente. Mergulhamos e ela ainda estava lá no meio do rio de águas limpas e claras, o que facilitou encontrar a tartaruga de cascos verdes, começamos a nadar em direção a tartaruga que parecia cada vez mais rápida, nadávamos e voltávamos a superfície, recuperando e fôlego e voltávamos a perseguição. Nadamos muito e estávamos para desistir quando a tartaruga começou a nadar em minha direção, fiquei parada, o coração batia a mil por hora pois sabia que não teria uma chance daquela novamente. A tartaruga estava a um metro e meio de mim e eu já não aguentava mais segurar o ar porém precisava ficar ali para garantir a janta de todos, mas o ar me faltava e o desespero me subia a cabeça. Já  não estava mais aguentando ou subiria para a superfície ou morreria sem fôlego quando a tartaruga finalmente chegou até mim, agarrei em seu casco e peguei impulso para subir.
Quando cheguei na superfície já não estava bem, estava tonta e roxa, porém a tartaruga ainda estava em minhas mãos que a seguravam fortemente. Olho para o lado e vejo Bob com um lindo sorriso em seu rosto, olho para o outro e vejo Rafaela dizendo que já estava pensando que eu havia morrido afogada. Saí da água com a tartaruga em minhas mãos, peguei uma faca e com um único golpe cortei a cabeça da tartaruga que sangrou até a morte.
Voltei a tomar banho junto da Rafaela e Bob voltou a pescar, ficamos ali mais ou menos uma hora, vestimos nossas roupas, pegamos a tartaruga que havia de ser o prêmio do dia e alguns peixes médios que Bob conseguiu perfurar com sua lança. Caminhamos e caminhamos, chegamos no acampamento e já havia uma pilha de galhos e gravetos, havia também algumas espécies de camas feitas com folhagens.
- nossa que delícia, agora não precisamos dormir no chão frio. Disse Rafaela correndo e se jogando no monte de folhas.
Tamily sorriu e perguntou de havíamos conseguido alguma coisa pra comer, mostrei a tartaruga, os peixes e as ervas que havíamos conseguido, Lucas chega alegre com um pequeno cesto de palha na mão e nos mostra três ovos.
Em fim nosso almoço estava pronto, podíamos defumar o peixe e comer a tartaruga deixando os ovos e peixe para janta, e assim foi feito, com isqueiro que pegamos do cara que morreu tentando nos matar foi fácil fazer a fogueira que logo queimou intensamente, cortei e tirei o casco da tartaruga de forma que pudesse ser reutilizado como uma panela para fritar  ou cozinhar algo mais para frente. Rafaela fez uma armação sobre a fogueira para ir regulando os peixes. Passou meia hora e a nossa comida estava pronta, comemos enquanto falávamos de como havíamos conseguido pegar a tartaruga. Estávamos terminando de comer quando um convidado nada especial apareceu fazendo Bob se por de pé gritando.
-Cobra! Levantem! Cobra!
- Rafaela rapidamente matou a cobra que tinha aproximadamente dois metros, de pele marrom com grandes pintas.
- Rápido jogue isso fora. Disse a Rafaela com muito receio.... odeio cobras!
- Não, olhe para o tamanho dela , deve dar pelo menos uns 5 quilos, isso é carne. Quando fui acampar com meu pai ele me ensinou que você corta um palmo da cabeça e um palmo do rabo e a carne da cobra se torna comestível, sem falar que é uma grande fonte se proteínas que não saberemos quando vamos encontrar novamente. Disse Tamily já puxando sua faca da bainha.
- Você está brincando né? Perguntei com uma cara assustada e com nojo.
- infelizmente o que ela disse é verdade! Diz Bob já sentado voltando a comer os restos da tartaruga.
Rafaela saiu com a cobra, sentamos e terminamos de comer. Juntei os ossos para jogar fora quando Lucas grita mandando que eu deixasse os ossos ali que ele tentaria fazer anzóis para pesca.
Já ia dar umas 15 horas, macerei algumas ervas para os pés de Tamily e o ferimento de Marcos que ainda estava inconsciente, no casco da tartaruga coloquei algumas ervas para cozinhar para dar de beber ao Marcos.
Desatamos as ataduras e o corte lá estava, abrimos um pouco o ferimento e passamos a pasta de ervas no local e novamente colocamos a ataduras. Depois sentei com Tamily e passei um pouco do creme feito com as ervas em seus pés machucados. Quando terminei o chá de ervas que estava cozinhando no casco da tartaruga já estava bom, tirei do fogo porém não tinha nada em que podia colocar ou achava que não tinha.
Tamily me viu preocupada e perguntou o que era, contei para ela que logo se levantou e foi até uma pedra e pegou três cocos de castanhas cortados ao meio e me deu, olhei dentro do Coco que estava raspado e limpo, de maneira artesanal, resumindo agora tínhamos duas panelas e três pequenos pratos. Coloquei o chá no pequeno prato, fui até Marcos e apoiei sua cabeça em minhas pernas, vagarosamente foi colocando o chá em sua boca. Quando terminei já era por do sol, Bob e Lucas já estavam terminado de confeccionar os anzóis de ossos, Rafaela colocava mais lenha na fogueira enquanto Tamily lavava o casco da tartaruga.
- hoje teremos carne! Disse Rafaela com um grande sorriso no rosto branco.
- isso deve ser horrível! Disse Bob enquanto juntava os restos de ossos com a ajuda de Lucas.
- Isso é o auge da alimentação, sabia que já comi até sopa de girinos. Disse Rafaela.
- Quem vê essa cara de princesa não sabe o ogro que tem aí dentro! Disse Lucas enquanto bebia água.
-tudo bem, mas vocês só podem reclamar depois que comerem. Disse Rafaela jogando pequenas rodelas de carne branca.
Passou meia hora e a carne já estava pronta, sentamos em volta da fogueira que ainda defumava os peixes, e todos se entreolharam com receio da janta do dia, Tamily foi a primeira pessoa a pegar o pedaço depois de Rafaela que comia como de fosse um pedaço de picanha, olhamos atento às reações faciais de Tamily que terminou de mastigar e pegou outro pedaço, depois disso todos nós colocamos um pedaço da carne na boca. No começo o gosto era diferente porém não era ruim e a carne era borrachuda, mas não podia negar que era até que bom. Terminamos de comer e fomos brincar de eu nunca, Tamily sempre ganhava nas brincadeiras. A noite tinha passado de maneira mais rápida que as outras, o pessoal foi dormir enquanto eu e Bob ficamos com o primeiro turno.
Como sempre estávamos conversando sobre as surpresas da brincadeira do eu nunca, escutamos uma tosse Corremos pois era Marcos, ele havia recobrado a consciência e lembrava de tudo que havia acontecido. Demos o resto do chá que havia feito mais cedo, depois demos um pedaço da cobra e ficamos de olho nele durante o nosso turno, quando terminamos o nosso trabalho acordamos a outra equipe e pedimos para que eles não deixassem Marcos se esforçar e que qualquer coisa nos chamassem e fomos dormir.

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