state of mind

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Manhattan, NY

Anos e anos nessa cidade e ainda era difícil me acostumar com a ideia de morar na parte mais antiga e ao mesmo tempo mais moderna da grande New York, minha querida Manhattan.

O táxi parou perto do cruzamento da 5th avenue com a 76th st. A localização privilegiada me rendia um apartamento com a vista para o belo Central Park. Eu nunca me cansaria. Crescer nos arredores do famoso Upper East Side não fez de mim uma patricinha burguesa, muito pelo contrário.

Estar rodeada de pessoas fúteis só causou repulsa e... Pena. Eles não viveram como eu. Reconhecia o privilégio que foi me dado ao nascer na mesma proporção em que soube aproveitá-lo. Eu vivi bastante.

Era um começo de tarde frio, nada muito diferente do clima habitual. Meu sobretudo preto se mesclava com minha blusa de lã tentando me proteger dos ventos. Dei passos rápidos para atravessar a porta do hall de entrada e respirei aliviada quando senti a mudança de temperatura. Não há nada como nossa casa. Henry acenou ao me ver e eu sorri para o porteiro, assim como sorriria para o dono do prédio.

Gentileza gera gentileza.

Ajeitei a bolsa que estava em meu ombro e entrei no elevador, conectando minha chave. Número dezessete.

Minha cobertura.

Meu passeio até o topo poderia ser produtivo, mas apenas se eu conseguisse pensar. E não conseguiria. O dia havia sido desafiador. Entre contratos e assinaturas eu abria mão dos últimos 5 anos de minha vida, mas estava tudo bem. As memórias boas não compensavam as ruins, eu precisava mudar. E, com esse pensamento, vendi meu escritório, meu companheiro de longa data. Foi um planejamento doloroso, mas preciso. Agora tudo seria diferente. Já havia reformado a sala que não usava em meu apartamento, estava perfeita. A mesa em frente a parede revestida de madeira, as janelas de vidro com visão ampla para o Central Park, o enorme divã no centro e minha poltrona favorita em frente a ele. Tudo friamente calculado.

Retirei meus sapatos e deixei meu sobretudo sobre o cabideiro estrategicamente colocado na entrada, para que todos se lembrassem de ficar confortáveis. Passei os olhos sobre a sala para garantir que tudo estava perfeitamente em seu devido lugar e caminhei para o lado contrário, entrando na última porta do corredor. Meu quarto. Livrei-me do resto de minhas vestes e entrei no banheiro em busca de um banho quente. Seria curto, tinha um compromisso.

Ela viria hoje.

A primeira cliente a visitar minha nova sala, já éramos conhecidas de longas datas.

Dois anos para ser mais específica. Eu contei.

Movi o registro e gemi por insatisfação ao sentir falta daquele calor. Eu resolveria isso mais tarde na banheira. Removi toda a umidade de meu corpo e caminhei até o closet. Vesti meu conjunto preto de lingerie e me cobri com um vestido vermelho escuro, com mangas longas. Caminhei até o espelho e sentei no banquinho para poder calçar meus saltos, elegantes, pretos e discretos. Prendi meus cabelos em um coque, deixando apenas alguns fios de minha franja soltos. Caprichei em uma maquiagem suave e acomodei meus óculos em meu rosto. Tudo friamente calculado.

10 minutos.

Volto para meu quarto e busco por meu celular. Estava na bolsa. Caminho lentamente até o cabideiro da entrada e procuro pelo aparelho, aproveitando para pegar minha caderneta. Importante.

TwistedOnde histórias criam vida. Descubra agora