guilty

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"Mas que merda você fez agora, Karla Camila?"

Desliguei a televisão enquanto me levantava do sofá, deixando os restos de minha janta por ali mesmo, não era importante agora.

Karla Camila era importante.

Eu me perguntava se em algum momento a rebelde irresponsável que vivia dentro de Camila iria deixá-la. Na verdade, eu pensei que já tivesse.

Sua evolução em nossos encontros nos últimos meses era notória, mas agora pude perceber que eu nunca a entenderia por completo.

-Flashback - 1 ano e 7 meses atrás-

"Eram quase onze da noite quando finalizei minha consulta com Mary, uma empresária séria, mas de companhia agradável. A maioria de minhas clientes eram pessoas importantes e ocupadas, por isso precisavam de horários especiais, eu não via problemas em atender pessoas à noite, até que gostava.

A mulher se despediu de mim e eu a acompanhei até a porta, notando que duas figuras bagunçadas me esperavam jogada na poltrona da sala de espera. Reconheci Camila como uma delas, estávamos tendo consultas há 3 meses.

– Posso ajudar? – Perguntei ao fechar a porta atrás de mim e me aproximar dos dois.

– Senhora, eu não tive culpa. Me perdoe. – O rapaz falava rapidamente, não estava em um estado de mente saudável. – Esse foi o único endereço que ela conseguiu me falar antes de apagar, me desculpe. – Ele se levantou, pude notar que suas mãos tremiam e seus olhos estavam cheios de lágrimas. – Cuide dela... Só cuide dela. – O rapaz saiu correndo do escritório, me deixando sozinha com uma Camila desacordada.

Meu cérebro entrou em alerta e meu estômago deu voltas quando me aproximei do corpo da jovem moça. Camila estava sentada de lado na poltrona, do jeito que o rapaz havia a deixado. Seu rosto curvava um pouco para frente, mostrando que o próprio corpo não podia sustentá-la. Camila trajava apenas um vestido negro e uma jaqueta jeans, eu tinha certeza que vinha de alguma festa.

– Senhorita Cabello? – Chamei calmamente tocando seu rosto com a mão direita e virando-o para mim. Mas ela não se moveu. Abaixei-me em sua frente. – Camila, você pode me ouvir? – Falei um pouco mais alto, mas mesmo assim ela não se mexeu.

Voltei para dentro de minha sala e peguei meus pertences, tranquei a grande porta de madeira e capturei o celular, me sentando na poltrona ao lado de Camila.

Segurei em suas mãos e notei o quanto ela estava gelada. O que diabos havia acontecido? Disquei os números conhecidos por mim e por provavelmente todos os cidadãos da américa. Não demorou muito para que a voz mecânica atendesse.

– 911, como posso ajudar?

– Preciso de uma ambulância, minha... amiga está desacordada, temo que possa ter feito o uso excessivo de substâncias nocivas.

– Fique calma, senhora, chegaremos aí em breve.

Desliguei o telefone e tentei acordar Camila outra vez, sem sucesso. Então apenas segurei sua mão, para que talvez ela sentisse que eu estava ali.

– Aguente firme, Camila. Aguente firme."

Não pude evitar as lágrimas que chegaram em meus olhos quando me lembrei do que realmente poderia ter acontecido com Camila. Ela não tinha um episódio desse há mais de um ano.

Corri para meu quarto e me troquei rapidamente, precisava ir até o hospital. Vesti uma calça vinho e uma blusa preta de mangas e gola alta. Calcei minhas botas e peguei um casaco antes de passar pela cozinha e pegar minha bolsa.

TwistedOnde histórias criam vida. Descubra agora