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olá, como estão?

A luz que emanava do céu e atravessava a janela já estava ficando escassa, mas eu ainda podia ver perfeitamente seus traços.

Camila tinha a cabeça erguida, apoiada na mão esquerda, enquanto usava a outra para acariciar minhas costas. Já estávamos naquela posição há um bom tempo, uma troca de olhares intensa que não parecia ter hora para acabar.

Palavras não eram necessárias porque o conflito interno era notório em nosso olhar, mas isso não era ruim de forma alguma. Eu nem mesmo deixava espaço para que minha mente partisse pro lado racional onde isso seria um erro. Não havia espaço para esse questionamento que, com toda a certeza, não era relevante.

Não era relevante porque, agora, eu consigo admitir que eu quero estar aqui. E se tudo isso for algo que me traga felicidade, eu não me privarei.

Só não posso me esquecer do quão perigoso esse jogo pode ser.

Karla Camila movia seus dedos para cima e para baixo em minhas costas e sorria toda vez que minha pele se arrepiava.

Maldita.

– Seu modo de me trazer para cá foi muito perspicaz. – Minha voz saiu abafada pelo travesseiro. Eu havia refletido sobre aquilo durante um bom tempo.

– Eu já disse que você também tem parte nisso. – Piscou para mim e se ajeitou na cama, de modo que nossos rostos ficassem paralelos. Karla Camila cobriu nossos corpos com o lençol branco de algodão até a cintura e voltou a acariciar minhas costas levemente. Seu olhar se direcionou a janela do outro lado do quarto, estava pensando.

– O que foi?

– Estou criando forças para levantar e ir lá embaixo trancar a porta agora que sei que Sofia não voltará hoje. – Seu olhar voltou ao meu rosto e ela se aproximou ainda mais.

– A porta está trancada. Tenho certeza disso.

Sua mão cessou o carinho em minhas costas e veio para meu rosto, deslizando por minhas bochechas de forma sutil.

– Você tem memória fotográfica ou algo do tipo? – Brincou em meio a um sorriso.

Algo assim.

– Está brincando comigo, certo? – Sua expressão passou de divertida para chocada. – Quer dizer, eu sei que você é quase um gênio mas... Isso também?

Virei meu corpo de forma que ficasse de frente para ela, notei o quanto a visão de meus seios desnudos a agradou.

Seu carinho em meu rosto continuava.

– Eu não tenho esse diagnóstico oficialmente, então não posso afirmar nada. Mas eu tenho uma boa memória, consigo lembrar de detalhes que passariam imperceptíveis por outras pessoas.

Uau. – Ela balançou a cabeça como se concordasse com minhas palavras. – Você é uma pessoa surpreendente, Doutora. Quanto mais de ti eu conheço, mais me apaixono por seu intelecto.

Meu coração errou uma batida ao ouvir sua fala, mas eu sabia que ela dizia aquilo somente da boca para fora. Camila estudou meu rosto por alguns segundos.

– Como deixamos a cozinha mais cedo? – Perguntou cerrando os olhos e eu ri enquanto negava com a cabeça.

– Não funciona assim, Camila. – Respondi enquanto surtava internamente porque sabia que havia deixado a cozinha uma bagunça, com os potes e talheres em cima da mesa. – Mas eu espero que você tenha arrumado tudo por lá enquanto tomei banho.

TwistedOnde histórias criam vida. Descubra agora