Capítulo Quinze.

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Aos prantos, desperto do meu pesadelo por conta do meu próprio grito, demorando a perceber que foi apenas isso: um pesadelo. Desse modo, ao reconhecer o espaço ao meu redor, aos poucos volto a me sentir segura para relaxar e parar com o choro. Então, alguns minutos depois, apenas soluçando e com os lábios trêmulos, viro o rosto na direção da janela e percebo que já está claro lá fora, o que mostra que consegui dormir mais do que cinco minutos desta vez.

Portanto, depois de verificar as horas no meu celular, vendo que dormi por três horas, percebo que mesmo cansada, não tenho coragem de fechar os olhos outra vez, temendo um pesadelo igual ou até pior. Sendo assim, me sentindo encharcada de suor embaixo desta colcha, jogo-a para o lado oposto e me sento ainda sonolenta. Entretanto, somente assim me recordo do quadril, que hoje está dez vezes mais dolorido, o que faz com que eu me movimente cautelosamente. Assim, um pouco desequilibrada, me levanto e vou caminhando até o banheiro com os olhos semicerrados pelo sono ainda existente, seguindo direto ao vaso sanitário, onde começo a me despir para já entrar no chuveiro em seguida, na intenção de me despertar definitivamente, além de tomar um banho melhor do que o de ontem. 

Uma hora depois, de banho tomado e higiene facial completa, notando que minha mandíbula também está dolorida, retorno ao quarto, onde pego meu hidratante favorito sobre a cômoda ao lado da cama e começo a hidratar minha pele, como faço todos os dias pós-banho. Então, quando o creme seca, visto meu roupão e retorno ao banheiro para tirar a toalha do cabelo e arrumá-lo antes de me vestir. Sendo assim, quando termino de escovar meu cabelo, agora sentindo meus braços latejarem pelo esforço feito por longos minutos, volto ao quarto. 

Diante do guarda-roupa escolhendo qual roupa vestir, ouço meu celular vibrar na mesa de cabeceira, indicando uma nova mensagem. Porém, acabo ignorando-a para não perder o foco aqui, além de não querer falar com a minha mãe tão cedo, já que só pode ser ela me enchendo a paciência outra vez.

Ainda não acredito que as coisas que ela me falou ontem foram verdade e, não, mais um pesadelo tenebroso.

Desse modo, após escolher um vestido azul-marinho com bolinhas brancas, o qual é um pouco mais decotado do que me lembrava, mas não me importo com isso, ouço o aparelho vibrando mais uma vez. Portanto, só por já estar arrumada, decido ver quem está querendo falar comigo.

Para a minha surpresa, não é minha mãe.

-  Bom dia, Beaumont! Como você está? Dormiu bem? Eu mal preguei os olhos essa noite pensando em você e em tudo o que aconteceu depois do nosso encontro.

-  Eu sei que disse que me ligaria, mas estou ansioso para saber se quer fazer alguma coisa ou não, então resolvi me arriscar ao mandar uma mensagem primeiro…

Apesar de ter aquele pesadelo ainda vívido na minha cabeça, como o olhar do Treyson para mim e seus comentários debochados, não consigo deixar de sorrir ao ler o que me escreveu. Sendo assim, mesmo sem ter a resposta que havia prometido, aperto para respondê-lo. 

-  Oi, Trey! Bom dia! Eu estou bem e você? Também não tive a melhor das noites, mas o importante é que estive segura, como te garanti que ficaria.

-  E eu ainda não sei o que quero fazer. Podemos decidir quando eu chegar aí? Você tem algum compromisso ao longo do dia?

Antes mesmo que eu possa pensar, Treyson já começa a digitar.

-  Estou bem também. Mas, e os seus machucados? Espero que sua mandíbula esteja no lugar! 

Sua provocação me faz rir. 

-  E podemos fazer o que você quiser! Você é quem manda!

Ele afirma na próxima mensagem, me fazendo sorrir estupidamente com o celular quase grudado no meu rosto.

-  Bom, primeiro de tudo, sim, minha mandíbula está perfeitamente acoplada no meu maxilar!

Ao afirmar, aperto o ícone da câmera e envio uma foto brincalhona mostrando meu rosto simétrico novamente. Com isso, não demoro a receber três emojis de coração em resposta. 

-  E segundo, podemos manter o horário das onze? Eu acordei há pouco, ainda nem tomei café da manhã, então acho um bom horário para o que quer que façamos.

Sugiro, com o sorriso ainda estampado no meu rosto.

-  Claro!

-  Porém, me diz uma coisa, como você virá para cá sem seu carro?

Com sua pergunta, percebo que não havia pensado nisso até então. Deixar o carro lá foi fácil ontem, mas, sem esperar que seria agredida diante do prédio, não pensei em como sairei daqui com o medo inevitável dentro de mim. Portanto, refletindo à respeito, acabo mantendo sua conversa aberta e sem uma resposta, assim não demorando a receber mais uma mensagem sua.

-  Quer que eu te busque? Se você tivesse deixado a chave seria mais fácil eu já te levar o carro, mas posso te buscar e trazê-la aqui sem problemas!

Ciente do esforço para isso, rapidamente nego sua ideia.

-  Não precisa! Eu peço um carro pelo aplicativo.

-  Certeza?, ele questiona em seguida.

-  Sim! Fica tranquilo! Quando eu estiver saindo daqui, te aviso, ok?

Com a minha resposta, parecendo não ter mais assunto ou estar ocupado na sua casa, Trey assente ao que disse e fica offline. Desse modo, sem o que falar também, faço o mesmo e me levanto da cama.

Diante da porta do quarto, mesmo já tendo destrancado-a, fico receosa de abri-la, deixando minha mente viajar sobre o que poderia encontrar do outro lado. No entanto, percebendo como isso tudo é apenas parte de uma imaginação fértil até demais, num impulso, puxo a porta para trás e me deparo apenas com o de sempre: a escada e o guarda-corpo ao seu redor. Assim, me obrigando a perder o medo do andar de baixo, passo pela porta e desço tranquilamente  - embora seja apenas eu enganando meu cérebro, pois, querendo ou não, ainda sinto um pouco de medo, sim. 

No andar de baixo, nove horas da manhã, sigo até a cozinha, onde abro a geladeira e coloco sobre a península os ingredientes da vitamina que faço todo dia, percebendo que meus alimentos já estão escassos, portanto preciso ir ao mercado o quanto antes. Ao finalizar minha bebida, despejando-a sobre meu copo e colocando o liquidificador sobre a pia, junto das demais louças, agarro o copo e vou tomar a vitamina na varanda, observando a vista bonita, e por ali acabei ficando por mais uma hora depois de terminar meu café da manhã, pois o sol à esta hora é delicioso.

Nunca nego uma vitamina D!

Porém, vendo que já são pouco mais das dez horas, retorno para dentro com meu copo e, antes de qualquer coisa, vendo que ainda tenho tempo, decido lavar essa louça, já que, infelizmente, ela não se lavará sozinha. Bom, se lavaria se eu usasse a lava-louças, mas acho um pouco nojento, então o eletrodoméstico fica aqui só de enfeite. 

Quando termino o serviço, ficando satisfeita com a minha pia novamente arrumada, vendo que são 10h40, subo para escovar os dentes e passar uma maquiagem simples para o dia, principalmente porque o tapa que levei do Travis acabou deixando uma marca e eu não quero que as pessoas vejam este horror. Portanto, pontualmente às onze horas, estou à espera do elevador com uma bolsa diferente da que usei ontem, sendo esta uma branca mais básica, óculos de sol e, nos pés, um tamanco de salto baixo também branco para combinar.

Ao pôr os pés no elevador e apertar o 0, começo a me lembrar do sonho que tive e isso me deixa completamente tensa até chegar ao térreo e conseguir sair sem nenhum problema. Entretanto, por mais que tenha saído segura, agora me vejo aflita com aquilo que já tinha certeza: sair do prédio.

Vendo que no aplicativo consta que o carro que pedi chegará em dois minutos, sigo até a entrada e me sento no banco de pedra para aguardar. Então, quando vejo o carro preto parando, certa de que este é o carro que devo entrar por conta da placa, aceno para o motorista e passo pelo portão depressa, entrando igualmente rápida no banco traseiro.

Ao desejar um bom dia ao motorista e confirmar o endereço para onde vou, me calo e resolvo ligar ao Treyson. Não só para avisar que estou indo, como poderia fazer por mensagem, mas para me sentir segura tendo alguém consideravelmente próximo falando comigo. Portanto, finalmente percebo que tudo aquilo vivido no sonho não passou se um terror surreal, pois, na realidade, eu sei que o Trey não é daquela forma e jamais agiria nem parecido comigo!

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