Capítulo Trinta e Cinco.

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No hall da cobertura, após chegar aqui me arrastando desde a garagem, destranco a minha porta com a digital e entro já tirando minhas sandálias com os próprios pés, jogando-as em qualquer lugar no pequeno corredor. Em seguida, jogo minha bolsa sobre o assento da sapateira, sem me atentar ao que fiz com a chave; não sei se já estava guardada na bolsa ou se atirei para algum lado involuntariamente.

Preguiçosa demais para contorná-lo, pulo por cima do sofá e me acomodo da forma como caí, me levantando ligeiramente apenas para pegar o controle da televisão a fim de deixar meu momento menos patético no silêncio total. Portanto, após ligá-la e colocar em um canal qualquer, começo a assistir à receita de bolinho de bacalhau, embora eu nem goste de bacalhau.

Depois de assistir alguns minutos do programa de culinária, sinto meu olho pesar cada vez mais. A receita é que está chata demais com essa mulher falando tudo pausadamente ou eu estou cansada demais? Antes que possa responder a mim mesma, me sinto cada vez mais leve até sentir que estou adormecida.

Algum tempo depois, com o som da televisão bem mais alto por causa do programa de auditório passando, desperto em um susto, logo olhando na direção das janelas e percebendo que já escureceu, o que significa que eu dormi bastante. Sendo assim, me levanto enquanto bocejo, percebendo o quanto cada pedaço do meu corpo dói por causa da má posição em que adormeci, e acendo o abajur grande ao lado do móvel da televisão.

Mesmo acordada e parada no meio da sala, me sinto um pouco desnorteada olhando ao redor com uma das mãos na cintura e a outra coçando os olhos. Só me lembro de estar maquiada quando vejo preto os nós dos meus dedos pelo delineado e o rímel.

"Será que eu comprei algum macarrão instantâneo?" Indago sonolenta com a voz rouca ao começar a caminhar em direção a cozinha.

Passo cerca de dez minutos revirando meus armários e a geladeira à procura de algo saboroso que não me dê trabalho e ainda mate a minha fome, já que mal comi no almoço por causa de tudo o que aconteceu. Então, após tanto procurar, abro o freezer e me deparo com um pote cheio do que sobrou da lasanha de quarta-feira.

Eu nunca fui o tipo de pessoa que come comida velha, então, com certeza, foi o Treyson quem guardou isto pensando que eu iria querer. Mas, talvez ainda esteja com o mesmo gosto... Não deve ser diferente das lasanhas congeladas que eu compro no supermercado, certo?

"5... 4... 3... 2... 1... Pi, pi, pi." Falo em voz alta enquanto ando em círculos pelo espaço vazio à espera da comida sendo aquecida pelo microondas.

Antes de dar a primeira garfada na lasanha, penso que se eu morrer, talvez as pessoas só descubram isso quando meus vizinhos começarem a reclamar do mau cheiro vindo daqui, porque eu duvido que depois de hoje algum familiar queira saber de mim... De qualquer forma, o gosto não é ruim. Claro que eu percebo a diferença para o dia em que a fiz, mas ainda é comestível. Com a fome que estou, até me arrisco a dizer que está apetitosa.

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Após cinco garfadas, a lasanha acabou, me fazendo ponderar se o pedaço era pequeno ou a fome grande demais. Portanto, me levanto do banco onde estive sentada nos últimos minutos e entro na cozinha para colocar o pote e os talheres dentro da pia, além de encher um copo de água para ajudar a empurrar a refeição até o estômago.

Ao retornar à sala, meu celular acende quando o relógio chega às nove horas da noite, me fazendo perceber a quantidade de notificações recebidas durante meu cochilo. Sendo assim, me sento no sofá novamente, desligo a televisão e pego o aparelho, desbloqueando-o no mesmo instante para ler todas as mensagens:

Theodore// 14h24.

Oi, não quero que fiquemos brigados. Odeio isso e você sabe! Posso te ligar mais tarde quando chegar em casa?

A Noite do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora