Capítulo Cinquenta e Dois.

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TREYSON.

Ao mesmo tempo em que minha mente se encontra numa bagunça de pensamentos e sentimentos, me sinto vazio e sem rumo repentinamente. Passei as últimas semanas me dedicando completamente à Natalie, imaginando como seriam os próximos dias e o que poderíamos fazer juntos, mesmo antes de oficializar nossa relação, e, agora, o que foi oficializado acabou de ser anulado por conta do seu medo e da sua insegurança.

Eu sinto que tenho o direito de ficar com raiva da sua decisão, mas eu não consigo fazer isso por mais que quisesse. Eu não consigo culpá-la por isso. Ela só está querendo viver e lidar com os seus problemas da forma como sempre teve que lidar: completamente sozinha, e eu não posso obrigá-la a depender de mim. Queria que ela entendesse tudo aquilo que venho dizendo há dias sobre estar com ela para o que der e vier sem me importar se diz respeito a mim ou não, só que ela não consegue compreender que nem tudo na vida é feito com a esperança de algo em troca. Eu não quero e nem nunca quis nada em troca além de podermos amar um ao outro. E eu nunca vou cansar de dizer o quanto eu amo ela.

Meu peito dói de uma forma que eu não me lembrava que fosse possível e isso me assusta. Essa dor piora quando lembro do rosto triste e do choro apavorado da Natalie desde que tomou sua decisão até me deixar ir embora. E eu estou apavorado por deixá-la sozinha sem poder me comunicar sem passar por cima do que pediu. Eu quero que ela saiba o quanto eu a respeito, só que é uma merda respeitar uma decisão repentina que ela jamais queria ter feito.

Não posso mentir, nós mal nos conhecemos ainda. E é isso o que me assusta mais, porque eu não sei do que ela é capaz de fazer sozinha dentro de uma crise como teve mais cedo e eu não consigo não pensar em um milhão de desastres, o que só me faz querer chorar mais com o pânico tomando conta de mim.

Mesmo com o elevador estabilizado no andar que selecionei, me mantenho encostado no espelho com os olhos encharcados refletindo se estou fazendo o certo em respeitá-la ou se devo subir novamente e bater os pés por saber que o melhor para ela é ter alguém por perto. Eu não sei o que fazer. Eu nunca lidei com isso antes. Eu sei lidar com um término obrigatório em razão de morte, não em razão de insegurança ou em razão da vontade dela de me poupar dos seus problemas.

Com a minha demora, a porta do elevador até se fecha, mas ele se mantém parado na garagem. Acho que o movimento aqui é bem fraco, diferente do meu prédio. Com isso, depois de cinco minutos na exata posição de quando entrei, sem parar de chorar por não conseguir chegar à nenhuma conclusão que não aumente meu medo, levo um susto ao ouvir a voz do porteiro ecoando no alto-falante aqui dentro:

"Vai ficar aí até que horas, amigo?"

"Foi mal, estou saindo." Respondo para o teto por não localizar a câmera rapidamente.

Desse modo, aperto o botão e as portas são novamente abertas, então deixo o elevador e me dirijo até meu carro. Meus olhos cessam por um instante neste curto trajeto, porém, ao avistar o carro azul da Nath estacionado em sua vaga ao lado do meu carro, sinto novamente aquele aperto no peito, o qual, desta vez, me desestabiliza completamente e eu aperto o passo. Sendo assim, abro a porta, jogo minha mochila para o banco ao lado e me sento, fechando a porta em seguida. Ao me ver acomodado sobre o meu assento atrás do volante, me permito desabar tudo o que estive segurando desde que comecei a me dar conta do que ela queria - ou melhor, preferia fazer. Com isso, sentindo seu cheiro ainda preso à minha camiseta por conta de todos os abraços que demos antes, durante e depois de sua decisão, deixo meu peito doer ao seu extremo enquanto a água cai dos meus olhos com força, como há muito tempo não acontecia, juntamente com meus lábios trêmulos.

A cada respirada profunda para retomar o fôlego, o cheiro dela é aspirado junto do ar, assim intensificando a minha dor por saber que isso é tudo o que terei dela até estarmos juntos novamente.

A Noite do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora