A Noite do Destino

Capítulo Cinquenta e Sete.

Assim como fiz há dois dias quando terminei com o Treyson, aproveitei do meu poder de me desligar do mundo a partir do momento em que atravessei o portão da garagem à rua, dirigindo sem rumo por quarteirões e avenidas enquanto mantinha a postura de pessoa decidida e centrada para os demais motoristas que quisessem me olhar. Portanto, liguei uma música nos alto-falantes e dirigi por longos minutos curtindo a minha própria companhia.

Entretanto, ao começar a passar por uma rua certamente familiar e me atentar às luzes acesas no interior das casas, inevitavelmente criando uma história para cada casa nesta rua, como fiz com os carros, a chave dentro de mim foi virada e eu passei a sentir tudo com toda a intensidade que queria evitar, o que me fez brecar o carro bruscamente e cair em lágrimas enquanto me sacudia de desespero por não saber o que fazer.

Cada pedaço de mim parecia inútil naquele momento.

Minha mente traiçoeira me fazia sentir cada coisa com dez vezes mais intensidade. Meu corpo tremia pela instabilidade dentro de mim; meus olhos me impediam de ver por conta das lágrimas; minha garganta queria se fechar e me sufocar; minhas vias respiratórias pareciam ter esquecido seu trabalho; e minhas mãos pareciam atrofiadas pela curvatura rígida e congelada de ambas.

Do jeito que parei o carro, fiquei por quinze minutos, aos prantos, sem conseguir ter um segundo de razão para me pôr no eixo e encontrar meu caminho às oito horas da noite. Porém, ao começar a ouvir o barulho da patrulha noturna, instantaneamente, me desliguei de novo e foi como se os últimos minutos houvessem sido há dias. Com isso, liguei o carro novamente e tornei a dirigir sem rumo até sair em uma avenida movimentada, na qual dirigi por toda sua extensão até perceber que meu ato era bobo e eu só estava gastando todo o meu combustível à toa. Desse modo, percorri a Sunset Boulevard toda até começar a me aproximar da parte onde ficam os principais hotéis, o que me despertou a ideia mais óbvia que eu deveria ter tido há séculos. Logo, aproveitando o semáforo fechado, peguei meu celular e, ligeiramente, busquei pelos hotéis por ali para olhar as avaliações, e, assim, decidi ir ao The West Hollywood EDITION, que era um dos próximos no caminho.

Não posso negar que meu subconsciente o escolheu por mais do que pelas avaliações... O hotel fica a vinte números de distância do TG Tattoo.

De qualquer forma, sem querer manter meu orgulho inflado naquele momento, achei até que seria uma boa ideia estar perto dele para o caso de uma emergência enorme, mas prometi a mim mesma que teria que ser a emergência para procurá-lo, não apenas por saudade, como já tanto sentia mesmo sem vê-lo há dois dias.

Portanto, cheguei no hotel, fiz meu check-in, deixando uma semana paga como garantia de sete dias tranquilos, e, em seguida, fui levada ao meu quarto no sétimo andar acompanhada de dois funcionários que traziam os dois carrinhos de bagagem cheios. Tão cheios, que, para evitar a necessidade de um terceiro, ainda coloquei uma das mochilas nas costas e carreguei a caixa da máquina de costura.

Após me instalar no meu novo lar, passei mais duas horas guardando e acomodando todas as minhas coisas no closet e nos demais armários e cômodas pelo quarto até esvaziar todas as malas e mochilas, finalizando com todas amontoadas no canto esquerdo perto da mesa redonda de jantar próxima à janela enorme. Com o cansaço maior a cada instante, só desejando fechar os olhos e dormir para que o novo dia chegasse, tomei um banho breve e quente o suficiente para relaxar um pouco dos meus músculos, voltando a vestir a camiseta preta que virou, oficialmente, meu pijama. E com uma forte respiração com a gola contra o meu nariz, percebi que o cheiro dele era cada vez mais fraco, o que me fez voltar a considerar a compra de um dos seus perfumes para me manter familiarizada.

Não sabia qual era o cheiro preso à camiseta, mas já havia visto alguns frascos de Paco Rabanne na bancada do banheiro dele, então poderia tentar a sorte.