Nem termino de apresentar a minha ideia, ele só grita comigo e sai apressado, fugindo de mim. Eu o persigo por tudo quanto era caminho daquela escola. Cada vez que eu chamava seu nome e pedia para ele parar, seu passo aumentava. Até que eu dei uma corrida e, por ser mais rápido que ele, o ultrapassei e impedi que ele continuasse. Barrei seu caminho e ele parou, mas não olhou no meu rosto.
- Nicolas, o que foi?
Ele só se manteve quieto, com os braços ao lado do corpo, fechando os punhos, olhando para baixo. Ele se vira e começa a andar na direção em que veio, mas eu agarro seu pulso e o obrigo a ficar. Repito a pergunta:
- Nicolas, o que foi?
Ele finalmente me olha nos olhos e vejo a mesma expressão que vi naquele dia no banheiro. Ele estava devastado, a beira das lágrimas, mas as segurava. Sua mão se fechava cada vez com mais força, sua palma ficava vermelha, e se ele continuasse, ia acabar se cortando. Nos olhamos por alguns segundos. Me perguntei o que eu fiz para deixá-lo assim. Eu não queria vê-lo chorando, não queria vê-lo machucado. Depois disso, ele diz:
- Eu não posso me importar com você.
Fico meio confuso. Se importar comigo... ele diz como amigo? Ou algo a mais? E por que não? Será que ele teme que eu o fira? Por que eu fico decepcionado com isso?
- Por que não?
Ele fica com raiva e começa a se debater para eu soltá-lo. Logo, seu rosto já está manchado de lágrimas que correm de forma silenciosa. Ele grita comigo:
- PORQUE VAI QUE VOCÊ FAZ MERDA IGUAL A CATHERINE E QUEM MORRE DESSA VEZ É A CAROL!!
Ele para de se debater, como se, de repente, tivesse perdido as forças. Não sei o que aconteceu, mas não deve ter sido bom para ele. Nicolas me encara novamente e agora não há mais raiva, só tristeza. Ele chora em silêncio, mas eu sinto que só tem vontade de gritar. Esse grito preso em sua garganta... Talvez seja isso que o mate. Por um instante, esqueço tudo e o abraço. Ele solta uma exclamação de surpresa, mas logo me abraça de volta e chora contra minha camisa. Não sei se ele já teve a oportunidade de chorar no ombro de alguém, mas servirei para isso.
Ele se solta de mim depois de alguns minutos. Ele parece mais leve, mais relaxado. Ele põe a mão nos bolsos, se afasta e agradece. Mas eu ainda não acabei. Eu o convido para irmos embora e ele protesta, dizendo que ainda tem outras aulas, mas eu uso o argumento que o cala:
- Sou saúde mental é mais importante do que qualquer nota de participação que pode receber agora.
Pegamos nossas coisas e saímos em direção a rua, indo para qualquer lugar que não fosse aquele. Viramos a esquina, atravessamos umas ruas, tentando desesperadamente fugir da realidade. Mas não conseguimos, então vamos a uma cafeteria, onde poderíamos conversar. Sentamo-nos em uma mesa do fundo, pedimos dois chocolates quentes e a conversa começou:
- Então, o que aconteceu?
- Bom, - ele suspira, como se reunindo coragem – Uns dois anos atrás eu tive aquela namorada, Catherine. Ela era muito importante para mim. Eu a amava de verdade. Passado um ano de namoro, um dia, ela me convidou para a acompanhar em uma festa e bom....
Memórias Maria Clara on"Nicolas decidiu ir nessas festinhas de adolescente. Eu fico tão contente que ele resolva sair de casa. Acho que ele foi com aquela namoradinha dele, a Cath. Ela deve ter convencido ele de sair com ela. Ela nunca gostou de fazer as coisas sozinha, então chama o Nicolas para ir com ela. Fico feliz que ele tenha achado alguém tão bom para ele, realmente fico, mas não deixo de sentir aquele ciúme bobo que vem quando ele resolve passar mais tempo com ela do que comigo, mas sei que vai passar. É temporário. Ela é uma boa garota, se eles casarem e me derem netos, ele vai querer fazer jantares em família e eu vou brincar e mimar as crianças. Ou talvez esse seja um sonho meu e nunca aconteça. Mas nada custa sonhar. Eu espero que ele tenha um casamento melhor do que o meu. O Fábio explodiu de novo. Ele não bateu em mim nem nada, mas ameaçou. Realmente espero que ele se conscientize do que está fazendo. Ele vai melhorar. Ele é uma boa pessoa, só está estressado com o trabalho. Passadas duas horas, Nicolas me liga:
- Mãe, onde você está?
- Estou em casa, meu amor. Por quê?
- Vem me buscar.
- Por quê? Você não vinha com a Cath?
- Não. Só vem me buscar.
- Mas por quê? O que aconteceu?
- Cacete! Para de questionar e só vem, porra! Eu não 'to com cabeça para você e essas preocupações de merda!
Ele pareceu muito com seu pai naquele momento. Eu suspirei e disse que chegava em 5 minutos. Ele parecia realmente irritado, cansado e frustrado. Cheguei ao lugar da festa e ele logo entrou no carro. Estava triste, decepcionado, mas acima de tudo, muito, muito bravo. Fico olhando para ele com compaixão, ele espera, então olha pra mim:
- O que você está esperando? Vamos?
- Filho, o que foi? Você não está nada bem.
- Não... não foi nada.
- Filho...
- Vamos logo!!
Eu dou a partida e saímos dali. Faço o caminho de sempre para casa, já gravado na memória. Nicolas suspira profundamente e diz:
- A Cath me traiu.
- O quê?
- A Catherine me traiu.
- Ah, puxa filho.... Eu sinto muito.
- Eu gostava dela, mãe. Gostava de verdade.
- Eu sei, filho, eu sei. - Eu olhava para ele de tempos em tempos, cada vez por mais tempo.
- Mas não, ela tinha que ir lá e beijar outro garoto, que eu não faço a mínima ideia de quem é.
- Você falou com ela?
- Não, ela nem viu que eu a peguei no flagra.
- Você devia falar com ela.
- O quê? Eu não quero vê-la nunca mais.
- Para esclarecer as coisas, filho.
- Esclarecer o quê? Está claro que ela não me quer mais e me traiu.
- Filho, converse com ela e termine tudo propriamente.
- Não! Eu nunca mais vou falar com aquela puta! Pare de insistir, velha!
- Nicolas...CRACK"
Memórias Maria Clara off
- O carro bateu com tudo em um caminhão que estava na frente. Tudo estava tão no automático que ela havia esquecido que uma das ruas estava em obra e que o cruzamento deveria ser feito na rua de baixo. Ela machucou várias partes do corpo e bateu a cabeça bem feio. Por sorte não morreu. Eu sou um desgraçado. Ela só queria me ajudar e eu, como a pessoa horrível que sou, a fiz sofrer. Eu quase matei minha mãe. Destruí minha família. Agora eu devo pagar pelos meus atos.
Eu só o observava horrorizado. Agora entendo o porquê de ele não quer que ninguém se aproxime. Ele tem medo de ser ferido e ferir. Ele não quer que o ciclo se repita.
- Eu sinto muito... Ela está bem?
- Não. Meu pai não quer levá-la a um hospital porque diz que foi bem feito, que ninguém mandou ela querer cuidar de um merda mal agradecido como eu. Agora, ela deve aprender a lição e eu também. Falou para eu não se meter no seu caminho, e que a Carol, minha irmã, pode ser a próxima. Depois disso, ele passou a descontar tudo em mim e na minha irmã, nos batendo e nos assediando, verbal e sexualmente.
Carol... já ouvi esse nome antes. Mas acho que agora não importa. Isso é o que ele sofre? Esse tempo todo, lutando contra isso, calado? Agora sei por que ele sempre tem essa cara de quem quer morrer. Eu também teria. Só me resta uma dúvida. Acho que já sei a resposta, mas... sei lá, dá uma satisfação ouvir.
- Eu... que horror. Cara, sem ofensas, mas seu pai não deve ter coração.
- Claro que sem ofensas. Eu quero mais que esse filho da puta de exploda.
- Justo. Mas... por que você falou... de mim, lá na escola?
Ele se fecha um pouco. Olha pela janela e pensa no que iria falar. Acho que eu o envergonhei, mas agora não posso voltar atrás. Preciso saber se o que estou pensando é verdade.
- Não sei direito o que sinto por você. Não porque sinto algo. Eu sei que fui eu mesmo que disse que não temos nada, que só foi um beijo e que era para esquecer, mas... eu sou muito inconstante. É... perdão, eu já vou embora. – Ele se levanta – Eu só to falando merda.
- Espera aí, Nicolas! E-Eu acho que eu também sinto algo por você.
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A 10.000 km de você
Novela Juvenil- [ ] Guilherme é um garoto popular, capitão do time de futebol, rodeado de amigos, as garotas sempre estão aos seus pés. Mas suas notas não são boas e ele não consegue realmente gostar de nenhuma de suas ficantes. Ele sente um vazio no seu peito, m...