Ele tem sempre essa cara de quem quer morrer? Nunca reparei nele, então não posso dizer. Ahrg, por quê?! Não quero ter que aturar essa carranca dele. Se ele tem mal humor, não vai ser isso que vai arruinar minha chance de ganhar nota de graça.
- Tanto faz.
Ele se senta. Fico meio sem saber o que fazer, mas pego uma cadeira e uma mesa e me sento ao seu lado. O professor demora a chegar, então tento achar assunto para conversar.
- Então... acho que nunca te vi antes.
- Claro que já me viu. Até riu da minha cara.
- Ah... – Eu esperava que ele não lembrasse desse episódio. – Me.... me desculpe por isso.
- Não importa.
O professor de Biologia entra e explica que devemos nos unir com nossas duplas, que ele anunciará em breve, para darmos início ao trabalho. Conforme ele começa a falar o que faremos no trabalho, o sono da minha noite mal dormida ataca e Nicolas pega o computador dele. Eu, como de costume, não presto atenção em uma palavra do que ele diz. Encosto minha cabeça na mesa e estou pronto para dormir quando Nicolas me avisa:
- Você pode dormir o quanto quiser, mas vou te dizer que farei minha parte de forma completa e que, se você não fizer a sua, eu ainda ganho minha nota, mas você não. Ou seja, se você não trabalhar também, não vai ganhar nota. Não vai ter nota de graça para você.
Dou um suspiro e levanto minha cabeça da mesa. Encaro a tela do computador recém ligado. Ele tem um wallpaper de anime. Esse é otaku, aff. Ele abre o Word e digita como título "Trabalho interdisciplinar".
- Você prestou atenção no que ele disse?
- Se eu disser que sim, vou mentir – Abro um sorriso amarelo
- Por que eu ainda pergunto? - Ele revira os olhos, sarcástico - Então, temos que escrever uma ata completa sobre algo que todas essas matérias tenham em comum e explicar como elas agem. Temos que decidir sobre o que escrever.
Ele me observa por um tempo, como se esperasse que eu tivesse uma ideia inovadora. Espero não o decepcionar, mas não. Não tenho nenhuma ideia. Dou de ombros e ele da mais um suspiro.
- Temos que decidir isso juntos? Tipo, você pode dar a ideia inicial e então eu escrevo minha parte. – Eu sugiro
- Não sou uma fábrica de ideias, também estou sem criatividade. Não sei sobre o que escrever. – Mais um suspiro, meu deus, ele parece eternamente cansado – Vou pensar em algo, vá pensando em que partes que trabalhar.
Ele fixa os olhos no computador e se desliga do resto do mundo. Eu deito minha cabeça na mesa e apago.
- Levante-se, idiota. A aula acabou e eu não consegui pensar em nada. Você tem que trocar de sala antes que o próximo professor chegue. – Nicolas me sacode e briga comigo. Dou um gemido de sono e me levanto. Pego minha mochila e jogo-a por cima do ombro. Minha próxima aula era física e era do outro lado da escola. Olho para o relógio e decido que não vai dar tempo de chegar. Resolvo ir para o lugar onde sempre vou quando tenho sono ou vou pegar alguma garota: de baixo da arquibancada da quadra. Lá nunca tem ninguém e fica em um lugar escondido.
Quando chego lá, encontro uma garota. Ela tinha cabelos castanhos, quase loiros, presos em duas tranças que caem pelos seus ombros. Ela parece um ano mais nova que eu e parece ter chorado, porque seu rosto está bem vermelho. Ela está sentada no chão onde sempre fico e abraça os joelhos. Ela olha para frente e sua cara está em uma mistura de medo e tristeza. Não aguento e decido ajuda-la.
- Ei. Você não parece bem. Precisa de ajuda?
Ela vira o rosto para mim em um reflexo rápido, indicando que eu a assustei. Ela é uma menina bonita e me surpreende o quão nova ela parece de frente, mas o que mais me chama atenção em seu rosto são seus olhos. Eles são negros como ônix e me são familiares, só não me lembro de onde.
- Ah, me desculpe. Eu... eu não devia estar aqui. Eu vou embora. – Ela diz e se levanta.
- Ei, você não tem que se preocupar. Você estava chorando no chão atrás da arquibancada. Tem algo que eu possa ajudar? – digo apontando para o chão onde me sento. Ela se senta ao meu lado.
- Acho que sim. Bem, meu melhor amigo disse para mim que gosta de mim e eu tive que contar algo para ele. Ele meio que surtou e agora eu tenho medo de que não sejamos mais amigos.
- Hum... o que você contou a ele, se não for muita intromissão?
- Contei a ele que sou assexual e que não sentia atração romântica por ele.
Isso não me surpreendeu. Pessoas têm sexualidades diferentes. Minha própria irmã é gênero fluido.
- Entendo. Sabe, se ele é realmente seu amigo, ele vai se recuperar da rejeição, porque com certeza foi difícil para ele te contar e doeu receber essa notícia, e vai voltar a falar com você. Ele pode ter saído um pouco de si pois não esperava essa resposta. Você pode falar com ele e explicar tudo direito, assim ele vai entender e vai decidir se quer ser seu amigo ou não, porque você sabe que ele pode ser um babaca e decidir que não quer mais andar contigo por conta disso. Se eu fosse você, ficaria pronto para qualquer coisa.
- Nossa, muito obrigada. Ninguém nunca me deu um conselho assim. Muito, muito obrigada!
- Nada! Eu nem sei seu nome, sai dando conselhos para uma estranha.
- Hahaha, eu sou Carol, do 1° ano. Você?
- Eu sou Guilherme, do 2° ano.
Carol sorri e olha seu celular. Já são 10:00. Matei a aula de física toda. Tenho que ir para a de filosofia, se não ganho falta, pelo menos, depois dessa, tenho educação física. Digo isso a ela e ela diz o mesmo, mas que estava matando a aula de geografia. Nos levantamos, nos despedimos e vamos para nossas respectivas salas, mas minha cabeça ainda não conseguia pensar em outra coisa que não fosse os olhos de Carol e como eles me lembravam algo, eu só não sabia o que.
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A 10.000 km de você
Ficção Adolescente- [ ] Guilherme é um garoto popular, capitão do time de futebol, rodeado de amigos, as garotas sempre estão aos seus pés. Mas suas notas não são boas e ele não consegue realmente gostar de nenhuma de suas ficantes. Ele sente um vazio no seu peito, m...