O VALE DA MORTE - por MARCOS DE SOUSA

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Alguns se encaravam nitidamente e, mesmo sem se conhecerem, saíam faíscas dos olhos, como se nutrissem pelos outros um ódio imemorial. Os demais mantinham a cabeça abaixada; evitavam arrumar mais problemas.

Alguns minutos depois, um homem vestido de roupa social clara, visivelmente acima do peso, entrou na sala cercado por três jovens.

– Boa tarde. Meu nome é George. – dizia em um russo arrastado. – Convoquei vocês porque tenho uma missão para todos.

Olhou cada um nos olhos, como se tentasse decifrar as almas e pensamentos. Mas os garotos eram experimentados e nada demonstraram.

– A proposta é simples e irrecusável. Vocês irão para o Vale da Morte, na Sibéria. Passarão a noite lá e parte da manhã do dia seguinte. Nada terão que fazer, além de manter meus equipamentos em segurança. E, depois, voltar com todos eles.

– Por que você não move esse seu traseiro gordo e vai você mesmo?

George empurrou os óculos que insistiam em escorrer pelo nariz.

– Qual o seu nome?

– Não te interessa, seu otário.

George pediu uma pasta a um de seus auxiliares e procurou a foto do rapaz.

– Lenin. 25 anos, procurado por roubo, extorsão e tentativa de assassinato – levantou os olhos do papel, analisando o rapaz. – Pelo visto, já não fazem mais Lenins como antigamente... Bem, eu não vou porque sou muito mais valioso do que você. Tenho doutorado em duas áreas e sou o futuro da Rússia, enquanto você não passa de um lixo humano... – deu alguns segundos para que o jovem pesasse as palavras. – Além disso, se você não aceitar a minha proposta, há policiais esperando-te atrás dessa porta. Se aceitar, terá a ficha limpa e receberá dez mil rublos. O que acha?

– O que faremos lá?

– Qual o seu nome, querida? – inquiriu George.

– Alena.

– Alena, vocês tomarão conta dos meus equipamentos. Eles medirão a radiação do lugar, temperatura, umidade do ar e essas coisas. Nada demais.

Olhou para todos, mas a maioria pareceria impassível.

– Alguém prefere ser preso ou todos concordam em ir?

O silêncio impregnou a sala e apenas o mover do ponteiro do relógio era ouvido. George sorriu sarcasticamente.

– Pelo visto, temos uma equipe feliz. Sejam bem-vindos.

***

Dentro do helicóptero, os dez estranhos passageiros se estudavam, como se fossem inimigos há muito. Lenin, depois de quase uma hora de viagem, resolveu puxar assunto com a mulher ao seu lado.

– Você já foi ao Vale dos Mortos?

Ela o olhou por alguns segundos, mas nada respondeu. Acabou por desviar o olhar.

– Prazer, meu nome é Lenin.

– Prazer é outra coisa, idiota.

– Ouvi dizer que quem vai ao Vale dos Mortos não volta. Que lá tem demônios, alienígenas e coisas do tipo. Ouvi histórias até sobre vampiros.

Dasha olhou descrente para o rapaz branco e de olhos claros que estava ao seu lado, mas nada respondeu.

– Qual o seu nome? O que você fez para estar aqui?

Dasha começou a se irritar. Odiava homens que não entendiam que ela não gostava de papo.

– Sou prostituta e matei três clientes a facadas. Você quer ser o próximo, Don Juan?

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