Fevereiro de 1993
O sótão estava escuro, contudo, era possível observar uma fresta de luz que vinha pela pequena janela. Nada nem ninguém, além dele. Estava de pé, seus braços estavam amarrados acima da cabeça; suas pernas, afastadas, estavam presas com ferros que arrancavam sua pele, enquanto tentava se mexer. Ele queria pedir socorro, mas a fita impedia-lhe a saída do som. Lágrimas escorriam de seus olhos e tocavam o chão daquele lugar breu.
Súbito. A porta foi aberta e passos foram ouvidos descendo os degraus. Ele não podia ver, pois estava de costas. De repente ouviu o som de algo tocando o chão, não sabia decifrar o que era.
Ficando de frente para ele, questionou:
– Gostando da festa? – sua voz era forte e irônica. – Ah, esqueci que você não consegue falar. Vou te ajudar, espere um instante – uma gargalhada maligna foi solta, enquanto tirava a fita dos lábios dele.
– O que você quer de mim? – seu tom de voz era determinado, embora apresentasse temor em seu olhar.
– Ora, mas não seja cínico. Acredito que você saiba muito bem o que quero de você.
Lágrimas, novamente, começaram a deslizar por sua face. Aquilo era difícil para ele. Nunca chorara na vida, mas a morte se aproximava e não sabia os motivos do seu fim.
– Por favor, me dê um pouco d’água, estou com muita sede. Deixe-me sentar – ele suplicava.
– Deseja um cafezinho também? Quer açúcar ou adoçante? – seu tom de voz era zombeteiro.
– Só água, moça, por favor.
Ela virou-se e pegou uma garrafa que estava ao seu lado. Embora o local tivesse escuro, ela conseguia discernir exatamente onde estavam as coisas que ela trouxera. Abriu-a e despejou o líquido na face daquele homem.
Ele lambia o rosto e quando percebeu que não era água, declarou:
– Sua vadia, desgraçada! Isso é urina. Sua piranha! – ele gritava cada vez mais forte.
– Assim você não está facilitando as coisas para você, Fernando, ou seria Bernardo? Ah, ou seria Conrado? São tantos nomes, não é mesmo?
– O que você quer, sua desgraçada?
– Te entregar um presente! – agora, sua voz era mansa, baixa e triste, falando ao pé do ouvido dele.
– Pode começar soltando as mãos, então, meus braços estão muito doloridos.
– Eu disse que entregaria um presente, não um milagre. Você só sairá daqui morto!
Antes que ele pudesse falar qualquer coisa, ela devolveu a fita aos lábios secos e machucados daquele homem. Cortou a corda que prendia seus braços e deitou-o no chão. Ainda amarrado, apenas prendeu a corda no ferro que estava atrás dele. Como garantia, ainda algemou-o. Ele se debatia, mas nada podia fazer com seus pés amarrados e machucados.
Ela pegou o balde, colocou as luvas, tirou os animais que estavam amarrados dentro de um saco e pegou-o. Os ratos estavam agitados e desesperados, porém, não mais que os olhos aflitos daquele homem que estava ouvindo o som dos bichos. Ela jogou-os no balde, pegou a corda que estava amarrada no lugar da alça do objeto e prendeu-a em volta da cintura do homem.
Os ratos começaram a correr em sua barriga, buscando um lugar para sair. A corda estava tão apertada que já começava a machucá-lo. Porém, o desespero de sentir aqueles ratos passeando pelo seu corpo, entrando em seu umbigo, fazia com que a dor fosse esquecida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Noites Sombrias
HorrorMedo, arrepios, náuseas, ódio ou até mesmo risos. Um bom conto de terror causa sensações e sentimentos diversos no leitor. Uma história trabalhada na medida certa sempre mexe com as pessoas. Para o bem ou para o mal. Quantas vezes, ao lermos uma na...