9 de Abril de 2016

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O céu estava cheio de nuvens cinzas ameaçando jogar um dilúvio sobre a humanidade pútrida ao qual cobre. Os ventos cortavam o ar violentamente num uivo desalentado.

E em meio a fúria dos céus, Hongjoong e Seonghwa corriam desesperadamente, iludidos com o pensamento de que conseguiriam fugir. Tropeçando uma vez ou outra, ofegantes e cansados, eles corriam, desamparados, o vento lhes cortando a face e a chuva, que começava a cair, lhes queimando a pele.

Uma aparição loira lhes surpreende, voando com suas longas asas negras, os olhos determinados e um sorriso maldoso enfeitando o rosto pálido. Ele pousa pesadamente no chão a frente dos dois, que arregalam os olhos.
Um sorriso obscenamente insano se apodera de seu rosto quando ele joga Seonghwa no chão com um simples abanar da mão.

- Não, por favor, deixe ele ir, não o machuque. – Hongjoong grita, suplicante, os olhos agitados enquanto vê, sem poder fazer nada, seu amado ser jogado ao chão.

Uma risada maníaca sai por entre os lábios do loiro enquanto ele caminha para Hongjoong, a mão coberta por uma luva negra, estendida no ar e os olhos sinistros cravados no rosto assustado de sua vítima.

- Yeosang... Por favor, poupe o Seong, puna-me por nós dois, deixe que a ira do nosso senhor caia somente sobre mim. – suplica, caindo de joelhos, humilhado.

- Eu não sou conhecido pela minha misericórdia, como você bem sabe, então sinto não poder conceder seu último desejo. – a risada estremece ao longe, os ventos uivam mais fortes que nunca, as folhas das árvores remexem com violência e os céus se tornam negros com raios cortando os mesmos iluminando-os temporariamente.

Yeosang agarra o pescoço de Hongjoong com uma expressão insana de prazer no rosto, os olhos pulando das órbitas e a boca escancarada em um sorriso vitorioso.

O corpo de Hongjoong é tomado por uma queimação insuportável que desce pela sua garganta, como se ele estivesse engolindo ferro em brasa. Seu corpo convulsiona desesperadamente, os gritos sufocados tomando conta de seu inconsciente.
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Hongjoong é trazido de volta a tona pelos chamados desesperados das pessoas ao seu redor, que o olhavam com estranheza e antipatia.

Ainda sentia o queimar na sua garganta fazendo sua cabeça doer com memórias que não sabia serem reais, náuseas tomaram conta de seu ser e ele levantou, cambaleante, da cadeira em que se encontrava cochilando no meio do café, e foi em direção a porta, sua cabeça dolorida e o corpo cansado como se tivesse corrido uma maratona.

Saiu, sem rumo, pela rua, as pálpebras pesadas, a cabeça confusa, sua garganta em chamas. Via tudo em preto e branco, era tomado por náuseas passageiras vez ou outra e sua boca tinha um gosto amargo.

Quem eram aquelas pessoas em seu sonho? Se perguntava a todo momento. Tinha a sensação de tê-lo vivido, mas a recordação não lhe vinha, e isso corroía suas entranhas. A dor no peito aumentava uma porcentagem a cada dia que se passava e já estava se tornando insuportável, seus delírios estavam cada vez mais recorrentes fazendo-o ter surtos contínuos toda vez que adormecia.

Exausto, Hongjoong sentou-se na calçada, fechou os olhos, deixando seu mundo se tingir de negro, e logo sua mente foi tomada por um rosto que se contorcia com um sorriso maníaco.

Com o desespero lhe preenchendo, ele caiu no chão, deferindo socos às cegas na escuridão.

Pobre garoto desiludido, que sofre, preso dentro de si mesmo, a escuridão preenchendo cada canto vazio de seu ser, o sofrimento lhe cortando a alma a cada tragada que seu pulmão dá desesperado a procura de oxigênio.

Assim se vai uma alma inocente, levada pelo caminho sujo e sombrio da humanidade.

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