7 de Fevereiro de 2018

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- Não tem problema quebrar as regras de vez em quando Seong, ninguém vai nos pegar, vamos! – insiste, puxando o maior pelo braço.

As estrelas brilhavam intensamente naquela noite, entremeadas em meio a escuridão, observando, silenciosamente, a humanidade cometer seus pecados noturnos, sem receio algum.

Seonghwa tem cada célula do seu corpo estremecida de medo quando concorda com Hongjoong em ir em meio aos vivos para usufruir de seus prazeres humanos.

Os dois voam em toda velocidade em direção a cidade mais próxima, o vento frio da noite lhes batendo o rosto suavemente, as mãos começando a ficar dormentes pelo frio.

Ambos pousam silenciosamente, os olhos excitados de Hongjoong varrendo tudo ao seu redor, sua cabeça borbulhando de novas ideias e o sangue fervendo de agitação.

Tudo parecia correr bem, estavam se divertindo sem incomodar ninguém, e os humanos pareciam ser bobos demais para notar sua presença.

Estavam abraçados, sentados em um banco, Hongjoong agarrado ao pescoço do mais velho distribuindo beijos por todo seu rosto, felicíssimo por ter visto de perto a estranha rotina dos humanos, mas principalmente por ter aproveitado a noite ao lado do amor de sua vida.

Os dois sorriam e gargalhavam em sua bolha, como se nem um mal pudesse penetrar em sua felicidade, amáveis e carinhosos, mal perceberam a presença maligna esgueirar-se entre as sombras e se aproximar sorrateiramente.

- Será que meus olhos me enganam? São realmente dois anjinhos pecaminosos na minha frente? – Yeosang gargalha, sua risada histérica, como de costume, os olhos arregalados em presunção.

As entranhas de Seonghwa se contorcem e seu estômago embrulha. Hongjoong logo está de pé, os olhos arregalados, as mãos trêmulas, temeroso por seu destino.

- Dois pombinhos apaixonados que se intrometem na vida humana. Aposto como a sua divindade não ficaria nada feliz em saber. – suas grandes asas negras se estendem no ar ameaçadoramente, e Yeosang investe contra os dois, fazendo-os correr, desesperados, o medo transbordando de seus rostos assustados.

Nuvens negras aparecem pelo céu cobrindo as estrelas brilhantes que estiveram ,outrora, por ali, e toda a extensão de terra se estremece em ira.

Um, dois, três raios cortam o céu iluminando-o macabramente, rugindo para a humanidade, gritando, e por fim, jorrando sua raiva em forma de chuva sobre todo o mundo.
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As memórias eram revividas na cabeça de Hongjoong todas as noites, lhe arrepiando até a alma todas as vezes que a risada macabra sondava sua mente. Ainda estava confuso, mas já entendia seu sofrimento, conhecia seu pecado, e ressentia-se de sua imprudência.

Seonghwa o guardava por toda a noite, fitando seu rosto agoniado, cortado pela dor das lembranças que lhe voltavam impiedosamente. Então, quando Hongjoong acordava, ofegante e transtornado, ele simplesmente o abraçava forte e lhe sussurrava promessas, que no fundo, ele sabia serem irreais.

O sofrimento do futuro que os esperava lhes parecia mais suportável já que estavam juntos novamente.
Tudo parecia leve e estavam felizes apesar de todos os poréns que delinearam a maior parte de sua história. Entretanto, seu Deus não era tão piedoso quanto o diziam ser, estava irado e iria ruir, novamente, o mundo conturbado dos dois, antigos, súditos de sua realeza.

Assim, ouviu-se um estalo e fez-se surgir entre poeira cintilante um ser de cabelos vermelhos, a expressão impassível e os olhos tão frios quanto duas pedras de gelo.

O casal que estava deitado sobre o sofá assustou-se, o medo lhes corroendo a alma.

- Mingi. – Seonghwa cumprimento-o tristemente tendo conhecimento de seu destino. Sabia que isso aconteceria em algum momento, mas mesmo assim seu coração estava espremido dolorosamente no peito.

- Você cometeu uma transgressão terrível, sua alma está corrompida e esse corpo agora não lhe pertence mais. – as palavras frias rastejam de sua boca causando calafrios aos dois a sua frente. – Você será julgado pelo seu pecado. Sua alma desaparecerá dessa terra para sempre e será entregue a mim. – ergue a mão e uma clava dourada atravessa o peito de Seonghwa e o mesmo grunhi sentindo sua vida esvaindo por entre seus dedos.

Hongjoong fica totalmente paralisado vendo seu amado desintegrar-se em pó diante dos seus olhos.

- O traidor, transgressor e pecador foi julgado, sofrer preso na própria alma corrompida é a sua punição. – e jogando essas palavras no ar, ele evapora enquanto Seonghwa se desmaterializa completamente no ar.

Hongjoong solta o grito que estava sufocado em sua garganta, as lágrimas caindo furiosamente de seus olhos, sentindo a dor de uma espada atravessar-lhe o coração. Uma tensão crescente toma conta do lugar, seu estômago embrulha e em sua cabeça tudo fica em câmera lenta.

Uma tortura sem fim que se instala em seu peito, sufocando-o, como se tivessem garras cravadas em seu pescoço. Ele vai ao chão, o rosto inchado e úmido pelas lágrimas recorrentes, os soluços escapando por entre seus lábios e a dor rastejando por todo seu corpo.

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