9- Roki

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O continente a oeste nem sempre fora conhecido pelo nome de Padhema. Houve um tempo em que o ocidente pertencia aos aniclas, seres viventes que usavam suas mentes para se comunicar com outros seres, e que reinavam absolutos sobre o reino do poente. Nesse tempo, a Magia do Sopro era a única que eles conheciam, e não se ouvia falar de nenhum outro poder além do que possuíam. Ninguém sabe como eles foram criados e nem de onde vieram. Cada religião contava a sua versão da criação dos primeiros seres dominantes do Ferilad, mas nenhuma teoria era maior que a de Ãhmus Gali, que dizia que o próprio Sopro os criara.

Você pode até se perguntar como um homem que nasceu no segundo reinado Xergowiine sabia de tais coisas. A resposta está na carta que o mesmo escrevera para Ãhmus Tarfeid, no ano 300 do Segundo Reinado dos uwens, que dizia que assim como a magia permitira que alguns destes seres criassem asas para serem os portadores do ouromáximo depois do Vôo das Eras, essa Magia Pádhica, como ela ficou conhecida, também poderia tê-los criado.

É claro que tudo não passava de uma teoria. O fato é que a Magia Pádhica não era o único alicerce da terra que habitava; mais duas forças estavam presentes na construção do mundo que conhecemos hoje: a Magia Ínfhica e a Magia Ifhérica. Entre os registros que apenas os maiores ãhmus têm acesso, encontra-se a carta do maior alquimista de todos os tempos para o Grai Ãhmus Dimmet. Condius Pathris jurava ter encontrado a tumba de um muleck na região onde hoje está localizada a prisão de Condiabo, entre Brutahla e Balehrim. Ao abrir a tumba, encontrou as provas de que precisava para finalizar sua teoria de que os poderosos Troca Peles eram inimigos naturais dos aniclas, e que por isso não compartilhavam da mesma magia. Então, os ãhmus da Sociedade Acadêmica do Lago e os alquimistas de Condiabo passaram a estudar um pouco mais sobre as criaturas que foram responsáveis pela fuga das xergonas para o leste, dando início ao período que ficou conhecido como Vôo das Eras.

Trecho do Grandioso, os registros inacabados do Lago

Rugindo para a morte, nasceu o mais alto dos reijacs.

Aprenda a ser sutil, e deixe sua animalidade para trás, a raposa ruiva tentou ensinar isso a ele várias vezes. Mas, quando trocava de pele, Roki não conseguia ser mais do que um animal.

Para um Avesso, ser o mais alto também significava ser o mais forte. Porém, Roki sabia que a cada centímetro de altura conquistado, maiores eram suas responsabilidades, e teria que dar adeus ao mundo que tanto queria conhecer, e à corrida pela vida. Gostava de saber o que havia além do refúgio onde vivia, embora fosse proibido sair da marca do Altíssimo. Sempre que encontravam um novo lugar para se instalarem, o maior entre eles traçava um perímetro na terra, deixando suas pegadas, o odor repugnante de seu suor, e até de seu próprio mijo, para que outras criaturas, principalmente as que eram tocadas por magia, não invadissem o território dos Troca Peles.

Atravessar aquela marca era o que todo jovem Avesso queria fazer uma vez na vida. Somente um caçador poderia ignorar os rastros de seu Altíssimo e sair mundo afora em busca de comida, e Roki havia acabado de superar essa marca. A primeira de sua corrida.

Corridas não eram para ferreiros. Mas, por alguma razão, o Altíssimo havia deixado os reijacs, como eram chamados os ferreiros do bando, correrem. Tésor, o líder dos reijacs, não lhe contou por que Balthurux, o mais alto de todos os mulecks, permitira que atravessassem a marca. Fora arrancado de sua cama pelo ser lobo um pouco antes do sol nascer, e não pararam de correr até que sentissem apenas a essência de seus próprios corpos na terra, na água e no ar.

O Vôo da LibertaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora