12- Sessí

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E a Lacraia foi rastejando até a Libélula, pedindo que ela se encontrasse com um vagalume.

Cigarra, o Gládio Poeta

Os dedos dela eram firmes, mas o peso atrapalhava um pouco. Naspion não deixava que a filha usasse isso como desculpa nos treinos, e ela sentia essa dificuldade todos os dias, principalmente agora que havia completado trinta e um anos.

Desde que Naspion falecera, Sessí nunca mais havia comemorado seu dia de parto. Mas, naquela manhã de primavera entronizada, ela decidiu sair para caçar, e só voltaria depois de matar alguma coisa.

O Bosque do Aranha não era tão grande, e por isso ela decidiu ir para o sul, onde a mata era mais fechada, longe do acampamento dos Libélulas. Se esconder atrás das árvores com aquele corpo era difícil; então, Sessília se lançou numa deformidade do terreno, algo que poderia ter sido uma trincheira usada para defender as ruínas do castelo atrás dela, agora coberta por teias de aranhas.

O veado de fogo estava bem na frente dela. Era um animal curioso, com pêlos vermelhos por todo o corpo, chifres e cascos de ouromáximo. Ela sempre quis ter um daqueles como Ani, para fazer companhia às criaturas em seus aposentos, mas era grande demais para pôr em um vidro, e não se viam muitas daquelas criaturas no Mithardo.

Enquanto tentava acertar sua presa, Sessí viu a ponta de um objeto de ouro na terra; e ao desviar os olhos dele, o animal fugiu, e Tonelada ainda tentou acertar uma flecha nele. O veado de fogo conseguiu escapar, mas isso deixou de ser importante no instante em que ela colocou os olhos naquele pedaço de metal.

Os guardas que a escoltavam esperavam por ela nas ruínas, e por esta razão não se preocupou com mais nada. Desenterrou a caixa, com quatro pássaros de ouro suspensos nas bordas, e abriu para saber do que se tratava. Reconheceu as cartas-dominó assim que as viu. Eram feitas de marfim, e nelas foram pintadas imagens que os magossantos do templo da Corte Sagrada usavam para interpretar a vontade dos deuses.

Sessí enfiou a mão dentro da caixa e puxou uma das cartas-dominó, antes que um guarda de armadura verde se aproximasse dela com seu cavalo marrom e um martelo de guerra preso na sela. Um javali branco.

- Bosnóvara, minha princesa...- Disse o loiro de olhos verdes que fazia parte dos Martelos de Milfor. No Mithardo, muitos ainda se cumprimentavam com aquela palavra falada desde os dias de ouro de Arenílya.- Porro pediu que a senhora voltasse para o acampamento. Disseram que ele capturou um anímacro que ninguém nunca viu nestas terras.

- Um anímacro?- Sessí sentiu um pouco de inveja do filho. Não havia nenhum anímacro no oeste, e aquilo a deixou bastante curiosa.

De volta ao acampamento dos Libélulas, Sessí entregou as cartas-dominó para um dos garotos que correu para ajudá-la a descer do cavalo. Ordenou que a caixa fosse levada para os seus aposentos, e desviou os olhos do artefato sagrado para ver melhor o cercado que acabara de ser construído no banhado. E lá estava o anímacro, bem menor do que a tartaruga que ela sabia que fazia parte do exército dos Pumhors. Quando o viu, ficou assombrada, pois o animal que seu filho havia trazido para o acampamento era o mesmo na carta-dominó que ela havia retirado de dentro da caixa.

- Não é magnífico?- Gritou Porro Libélula.

O filho adotivo de Sessí estava excitado por ter conseguido capturar o javali. O quitragar tinha a pele negra e olhos verdes. Com uma calça escura suja de lama e sem camisa, apontava para o porco branco gigante acorrentado numa árvore cercada por estacas que ele mesmo havia cortado. Rindo da própria proeza, abraçou o irmão mais velho, que também estava espantado pelo tamanho do animal.

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