41. Beijos e ceroulas

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Se Kimura era um lugar tranquilo, também era atarefado. Todos pareciam voltar imediatamente à vida com os primeiros raios de sol e, então, a fazenda girava e zumbia como um complexo mecanismo de relógio até depois do fim do dia. Quando este chegava, um a um, as rodas e engrenagens que faziam a propriedade funcionar começavam a se dispensar na escuridão da noite, em busca de jantar e cama, apenas para reapareceram como mágica, cada qual em seu lugar, pela próxima manhã.

Tão essencial cada homem, mulher e criança parecia ser para o funcionamento do lugar que Jungkook não podia imaginar como Kimura se sustentara nos últimos anos sem seu legítimo Senhor (Jihyun, pelo visto, não estava brincando quando afirmara saber cuidar perfeitamente bem daquelas terras).

Jimin lhe apresentara toda a propriedade como dissera que faria. Caminharam pelos campos e conheceram as vilas adjacentes, assim como também visitaram o cemitério e Jungkook finalmente foi apresentado ao resto da família de seu marido em um final de tarde nublado e um tanto frio.

Havia momentos de paz em Kimura, é claro. Aquelas pequenas brechas de tempo em que tudo parece ficar imóvel e a existência se equilibra num ponto perfeito, como o momento de passagem entre escuridão e luz, quando ambas e nenhuma se emaranham entre si.

Jungkook desfrutava de um desses momentos na tarde do terceiro ou quarto dia desde sua chegada à fazenda.

Estava encostado contra a cerca de madeira atrás da casa, os braços cruzados sobre o peito e a feição inexpressiva. Podia ver campos marrom-dourados até a beira do penhasco depois da torre, com a malha de árvores no extremo oposto do desfiladeiro, turvando-se até ficar negra diante do brilho perolado do céu. Objetos próximos e distantes pareciam estar à mesma distância, uma vez que suas longas sombras confundiam-se com a penumbra.

O ar estava frio, um prenúncio de uma geada. Pensou que deveria entrar logo, mas admitia que estava relutante em parar de observar aquela encantadora paisagem rural.

Em meio aos próprios pensamentos, não percebeu Jimin se aproximar pelas suas costas. E somente veio a notá-lo quando este colocou as dobras pesadas de um manto de lã sobre seus ombros, logo pulando a cerca e se pondo ao seu lado.

Não percebera o quanto estava frio até sentir o calor contrastante do tecido contra sua pele gelada. Os braços de Jimin também o envolveram junto ao manto em um abraço confortável, e Jungkook estremeceu ligeiramente diante da mudança drástica de temperatura. Aninhou-se ao corpo do marido, encostando suas cabeças.

A aparência deles, que nos primeiros dias semelhava-se a de vikings ou de bárbaros selvagens, agora se encontrava muito melhor e mais comportada. Jimin cortara o cabelo em um corte curto, fizera a barba e tomara diversos banhos até que estivesse completamente livre de todas as camadas de sujeira que tinha no corpo. E Jungkook não ficara para trás; encontrava-se tão limpo quanto quando estava em 1945 e seu cabelo apenas fora cortado nas pontas, mantendo um pouco do tamanho próximo aos ombros.

- Pude vê-lo tremendo lá de casa. - Jimin disse. Infiltrou as mãos para dentro do manto e pegou as mãos de Jungkook, sentindo como estavam frígidas. - Se não tomar cuidado, pode pegar um resfriado.

Jungkook sabia, mas estaria mentindo se dissesse que não achava uma graça o fato de Jimin preocupar-se com sua saúde mesmo sabendo que era um médico. Por isso, a lateral de seus lábios se curvou para cima em um sorriso discreto e ele se afastou momentaneamente para fitá-lo.

- E quanto a você?

Apesar do frio crescente, Jimin parecia completamente confortável e à vontade vestido com nada além de sua costumeira camisa e seu kilt (este que retornara às cores vermelhas do clã Park, o que deixara Jimin muito feliz no dia em que Jihyun lhe entregara o novo tardã). Havia um tom avermelhado em seu nariz, mas era somente uma pequena amostra de que as noites amenas de outono também poderiam ser congelantes nas Terras Altas.

SÉCULOS - jikook. (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora