CAPITULO UM - O DEUS ESTÁ MORTO

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JEON JEONGGUK

HUMANO

12 DE ABRIL – UM ANO ANTES

As seletivas para as Forças de Paz eram as mesmas em qualquer lugar do país. Doze semanas de testes, uma para cada deus do panteão e ao fim delas o candidato podia fazer parte da equipe, cumprindo missões pelo mundo em nome do deus que lhe desse uma benção. Com 19 anos, no fim do meu tempo escolar, eu tentei a primeira vez. Com 20 tentei novamente. Também com 21, depois com 22 e tentei mais uma vez esse ano, com 23 recém-completos. Nunca tinha passado para além da terceira fase, por um grande problema.

Um que media 50 por 25 metros e tinha 3 de profundidade.

— Equipe Sigma, posição!

O tenente Moon era o responsável pela avaliação da terceira fase, ele foi o responsável pelos últimos dois anos além desse. Como oficial ele sempre usava o uniforme padrão: branco, com todas as medalhas de honra além dos três pendentes de Poseidon. Um junto ao peito, um preso no quepe e o último enrolado no pulso, como um cordão. O último era dado aos favoritos de Poseidon, que tinham um talento especial para com o oceano. Quando era criança, lembrava de meus colegas trazendo pingentes falsificados para exibir na aula - e até falsificações boas eram caras - e eu pensava se um dia eu teria uma, de verdade. O pensamento durava o tempo exato de me lembrar porque Poseidon sequer olharia na minha cara.

— Pra água! — mandou e um a um meus colegas de grupo foram pulando. Até chegar a minha vez — Jeon, pra água! — gritou pra mim, enquanto eu continuava parado, a um metro da borda, vendo a água agitada pelos movimentos dos outros rapazes e garotas, minha visão me sabotando enquanto via a piscina mudar de lugar, como se eu estivesse bêbado. Apertei os olhos com força, tentando fazer a tontura passar. Quando alguém começou a rir, percebi que estava tremendo. Claro que estava, eu era um covarde. Um completo covarde — Ei, Jeon... — uma mão apoiou em meu ombro, ergui os olhos para tenente Moon.

Ele não devia ser muitos anos mais velho que eu, talvez tivesse 27, no máximo. Seu rosto era bonito como uma pintura, e todos diziam que Eros o tinha abençoado quando nasceu.

— Você sabe que não precisa nadar, é um teste envolvendo magia, só pule. Ninguém aqui vai deixar que se afogue — assenti, eu sabia disso. Eu só precisava passar por isso, seguir para a fase seguinte e ser enviado para qualquer lugar sem rios ou mares por perto. Eu só precisava entrar na água — Acredito em você — disse, e assenti comigo mesmo, tentando dar um passo adiante.

Um passo de cada vez. Eu já tinha tentado tantas vezes, apenas um passo seguido de outro até a borda. Eu podia fazer isso. Ergui os olhos para o alto, tentando não olhar pra água, mas sentia os olhos úmidos antes mesmo do terceiro passo. Respirei fundo, tentando pensar com clareza, mas minha mente era uma confusão estranha de sons ecoando nos meus ouvidos, com a voz do meu irmão, gritando meu nome de muito longe. Forcei-me a dar mais um passo adiante, mas minha perna vacilou como se tivesse pisado no vazio, me fazendo cair no chão.

Me encolhi em minha vergonha, com receio de olhar para as pessoas em volta e elas começarem a rir mais ainda. Tinha sido patético, óbvio que tinha. Eu mal avancei trinta centímetros sem desabar feito uma criança amedrontada. Senti alguém me ajudar a levantar, literalmente me fazendo ficar de pé, e continuei com a cabeça baixa, na tentativa de ocultar minha humilhação mesmo que fosse a segunda vez que isso tinha acontecido - nos outros anos eu literalmente fugi do teste, desistindo antes mesmo de chegar a piscina - e orando para o deus que quisesse me ouvir que as pessoas esquecessem disso logo.

— Levem-no para enfermaria — tenente Moon disse, e não tive chance de dizer nada enquanto era apoiado por outros dois oficiais e era levado embora.

HAG: Human Among Gods - LIVRO 1Onde histórias criam vida. Descubra agora