CAPÍTULO ONZE - VISITANTE INESPERADO

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JEON JEONGGUK

Eu dormi por muito tempo. Não tinha noção dos dias, mas pude escutar depois de um longo tempo no vazio, a voz de SiYeon-noona. Dos Young. As vozes dos meus pais e de outros deuses. Não consegui compreender o que diziam, era como se soassem igual uma criança de colo. Imaginei que estava muito dopado para conseguir absorver qualquer palavra.

Tentei contar os momentos de lucidez na escuridão como dias, então contei oito até ouvir com clareza as vozes no quarto, e aquele momento foi o primeiro que senti ser capaz de abrir os olhos. O primeiro que reconheci foi Hoseok. Havia uma voz feminina que não conhecia, mas era grave e forte, e parecia irritada, porque ela resmungava a cada dois minutos. E por último tinha a voz dele, que apenas soou uma vez.

— Então, não conseguiu descobrir nada? — era a voz da mulher, parecendo muito irritada quando Hoseok disse que não conseguiram descobrir qualquer coisa relevante sobre mim.

— O corpo dele é diferente. Mas eu não consigo identificar o que existe no garoto que encobre tão bem a magia. É como um emaranhado de fios que só fazem sentido para quem os colocou lá. Talvez só o Universo possa nos dizer. Ele provavelmente já nasceu assim — Hoseok respondeu, ele soava formal, até meio amedrontado pela áurea raivosa da mulher.

— Eu ainda não entendo... — ela respondeu e seu tom amenizou dessa vez — Tem energia universal nele?

— Acredito que sim... mas é difícil saber o que essa energia significa e no que isso o afeta. Não tem precedente, eu não sei o que procurar, ou como. Ele é tipo- — Hoseok fez uma longa pausa — Um bolo. Com dezenas de camadas. De diferentes sabores e recheios.

Houve um longo momento de silêncio.

— Um bolo? — a garota riu baixo, dava pra perceber a incredulidade no tom — Um bolo... Era esse o tipo de explicação que eu precisava ouvir.

— Por enquanto é tudo que tenho.

— Um bolo? — a mulher e realmente, era uma explicação engraçada.

— Ok, já incomodaram meu paciente por tempo o bastante, fora os dois — ouvi passos, o som de saltos batendo no chão e mais um indo para a porta — Taehyung-ah? Você não vem?

— Só mais cinco minutos — Taehyung disse, e me senti inquieto quase que de imediato. Não tinha por que me agitar.

Se me servia de algum consolo, aparentemente eu não estava ligado a nenhuma máquina, não havia nenhum sinal muito óbvio de que a presença dele me agitou de nenhuma forma, apenas sentia o soro passar pelo meu braço. Ouvi a porta ser fechada e finalmente abri os olhos.

Ele estava bem em cima da luz, que parecia meio azulada, fazia sombra em rosto, não dava pra ver o suficiente. Taehyung afastou um pouco, me permitindo vê-lo bem. Talvez fosse a quantidade de medicação em meu corpo, mas eu queria muito, muito mesmo, que ele me tocasse. Eu só queria sentir algum contato. Seu olhar, mesmo que direcionado pra mim, era vago e vazio.

— Você... nunca sorri? — minha voz soou estranha, meus lábios mal se abriam. Não sabia por que disse aquilo, só senti vontade.

— Eu já sorri. Você só não prestou atenção.

Ainda assim, me sentia incomodado. Por que ele não sorria? Só um pouco. Não era um grande sacrifício. Poderia voltar a dormir se ele sorrisse pra mim. Tentei me mexer, porém o máximo que consegui foi mover a cabeça um pouco para o lado, sua mão tocou por debaixo da minha nuca, tentando me ajudar a mudar a posição.

— Taehyung?

— Hum...

— Sorria.

Ele sequer ergueu o canto dos lábios.

HAG: Human Among Gods - LIVRO 1Onde histórias criam vida. Descubra agora