CAPITULO SEIS - SALA DO TRONO

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MIN YOONGI

HADES

As estalactites da sala do trono começaram a tremer. Suspirei. Isso com certeza era sinal de problemas, ainda mais nos últimos dias e foi justamente por isso que tinha me isolado naquele cômodo. Todo o lado leste do palácio exibia os campos elísios, grandes aberturas, separadas por colunas de mármore por onde luz entrava, mas não o suficiente para iluminar a escuridão da sala. Apenas vendo pelas janelas, nada parecia errado. Nenhuma ameaça no céus ou no inferno afetava os elísios. Era uma das poucas coisas permanentemente estáveis no universo. E olhando de onde tava agora, ajudava a fingir que estava tudo bem. Eu era o melhor nisso.

As paredes tremeram dessa vez e me levantei do trono, esperando pelo pior. Esse tipo de coisa não acontecia. Só quando uma força muito poderosa chegava e eu nunca recebia visitas. Pelo menos não visitas amistosas. Ainda assim, Holly devia ter alertado. Olhei na direção do bidente - a única arma que tinha ali em meu alcance -, tentando pensar como um invasor tinha passado pelas defesas do submundo.

As portas duplas foram empurradas com força, se chocando contra a parede num estrondo violento e fazendo dezenas de estalactites caírem de uma única vez. Uma nuvem de poeira negra subiu no meio da sala, me impedindo de ver a figura no meio dela, que atravessou o caminho numa linha reta direto pra mim.

Claro que era ele... Somente Park Jimin poderia convencer Holly a ficar quieto.

— Você não devia estar aqui embaixo! — falei assim que ele chegou perto o bastante, a poeira baixou, quase dançando em volta dele — Não é sua zona, sabe disso, vai destruir meu palácio.

— Como se essa velharia não fosse se reconstruir sozinha logo que eu sair daqui — respondeu, batendo o pó negro e brilhante de suas roupas claras — Precisava falar com você.

— Não podia ligar?

— Seu celular não funciona quando está aqui — isso era verdade. Mas não era uma boa desculpa, ele poderia ter falado com KyungSoo ou JinYoung antes de descer até aqui — Eu estar aqui é um incômodo tão grande?

— Não tente... Esse lugar nunca esteve numa situação pior — falei, seu olhar foi para as grandes aberturas do lado esquerdo, para os campos elísios. Realmente, era difícil soar alarmado quando tem o paraíso como paisagem de fundo.

— Posso ver... parece bem terrível — debochou. Desci os últimos degraus, caminhando para mais perto.

— Espíritos escaparam do Tártaro — isso chamou a atenção dele, mesmo que eu odiasse despejar preocupação em seus ombros — Jongin está tentando seguir o rastro de energia deles, mas parece que aconteceu há meses e não percebemos. Eu não explorei lá embaixo nessa existência tanto quanto fiz quando era apenas Hades. Não me lembro o suficiente — ele chegou mais perto de mim e mais estalactites tremerem no teto — Sabe que não pode ficar aqui... É meu território.

— Eu sei... Sei que isso daqui vai quebrar completamente se eu demorar mais. Eu só queria ver você depois de... Depois da cerimônia. — ele sempre foi bom em expressar o que sentia. Era o melhor nisso. O deus do amor devia ser melhor para expressar sentimentos, provavelmente. Porém ele era cuidadoso em demonstrar demais comigo e eu realmente entendia o porquê. Ninguém podia culpá-lo por se sentir inseguro de amar alguém que não tinha certeza sobre a capacidade de amá-lo de volta — Queria mesmo ter desistido da eleição? Ou fez isso porque eu saí?

— Ser líder não é pra mim. Não mais — claro que já tinha me passado pela cabeça, em várias eras diferentes, quando fomos enfraquecendo e o Universo parecia ter nos esquecido junto com a humanidade. Mas esse era um anseio de Hades. E eu não era só Hades. Tudo que precisava, já tinha ao meu alcance — Eu já tenho muito trabalho aqui, não tem muitos deuses do submundo disponíveis. Quem ficaria no meu lugar?

Minha tentativa de aliviar o assunto não pareceu convencê-lo.

— Parecia irritado ontem... não só pelo garoto, o Jeon. Parecia irritado com tudo. Achei que- que fosse pela votação — eu não tinha um histórico bom com votações, ele sabia melhor que ninguém, mas eu tinha me disposto ao início daquela apenas como uma obrigação. Quando Jimin saiu, pareceu a deixa perfeita.

— Sabe que eu nunca me zango de verdade.

— Você é ótimo em parecer que está totalmente puto — dei de ombros.

— É um talento natural — ele sorriu.

Park Jimin era lindo. Belo. Irreal. Várias vezes eu hesitei em tocá-lo, como se fosse um tipo de delírio realista. Ninguém, nem mesmo um deus, podia ser tão bonito assim. Mas ele era. Respirei fundo antes de puxá-lo por aquelas roupas finas e caras, pressionando nossos lábios juntos. O castelo inteiro começou a tremer e em breve afetaria as estruturas humanas, muito acima de nós. Era o que causávamos. Destruição. Esse era o problema de seu parceiro ser uma força oposta à sua num universo completamente fodido. Um beijo era o bastante para equivaler a explosão de uma bomba.

— Esses... — Jimin afastou do beijo, mas manteve meu rosto perto — Esses espíritos são uma ameaça?

— Até onde sabemos, eles estão aí fora sem causar danos. Mas não dá pra saber... Não dá pra confiar, não somos mais fortes como éramos antes, se forem espíritos poderosos, receptáculos são a única alternativa pra lidar com o problema.

Jimin sabia melhor que qualquer um o que isso significava.

— Eu... acho que vou subir antes que destrua seu precioso palácio infernal — ele tentou recuar um passo, mas o puxei de volta pela gola ridícula de sua camisa. Era um rosa bebê tão claro que parecia branco. No meio da escuridão do cômodo, ele parecia um pontinho de luz. Um único e solitário raio de sol. Meu raio de sol.

As vezes eu queria ter certeza. Que não era um tipo bizarro de sentimento de posse que me mantinha amarrado a Jimin, porém eu tinha medo de descobrir, e ele me deixar. Pensar nisso era egoísta. Eu era egoísta. E eu precisava beijá-lo de novo. E de novo. E mais uma vez. As paredes voltaram a tremer e em algum lugar muito longe dali, KyungSoo estava praguejando por eu ser tão imprudente.

Eu não dava a mínima. Podia ser prudente dali uma hora. Ou talvez duas.

— Fica um pouco mais... essa velharia pode se reconstruir de qualquer forma — ele sorriu e quando fazia seus olhos desapareciam em duas linhas curvas. O abracei no meio de poeira de ônix e mármore negro que caia do teto antes de beijá-lo novamente. 

HAG: Human Among Gods - LIVRO 1Onde histórias criam vida. Descubra agora