Capítulo 1

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17 anos depois

Marisa Vilarela

Meus pais sempre desejaram o melhor para mim, ter crescido nessa cidade, pequena e tranquila permitiu que eu tivesse uma boa educação, porém, chegava a hora de conquistar o mundo, terminei o ensino médio e para o ano, vou a universidade, se escolhi o curso? É claro que sim.

Voltava da escola sorridente, acabava de ver os resultados e estava satisfeita com o meu aproveitamento pedagógico.

"Poderia ingressar em qualquer universidade ou até ganhar uma bolsa de estudos" - Pensei por mim.

Não conseguia esconder o enorme sorriso no meu rosto. Corri ao entrar no mercado, precisava falar para minha mãe o que com certeza ela já sabia, mas confirmar uma suspeita boa foi óptimo.

Ela olhou para mim e já foi abrindo os braços para me receber, ela com certeza reparou no meu largo sorriso e sentiu que eu tinha boas notícias.

-- Eu passei - gritei antes de me envolver em seus braços e ela se emocionou imediatamente.

-- Eu já sabia - disse satisfeita, embora em sua voz eu pudesse perceber o choro preso em sua garganta -- Você está de parabéns. - me deu um beijo na testa e me abraçou novamente.

Ficamos assim por alguns minutos, ela olhava para mim com tanto orgulho, e aquele olhar, eu confesso, sempre foi o motivo da minha energia, da minha dedicação. O olhar dos meus pais sempre foi a minha maior motivação.

Graças a Deus eu tive os melhores pais do mundo, eles sempre se alegraram das minhas conquistas, até das que eu mesma na dava valor, eles me ensinaram tudo com amor, até suas repreensões eram carinhosas, daí o meu empenho para nunca decepcioná-los.

-- Vamos para casa, dar a notícia ao seu pai. - minha mãe quebrou o silêncio com essas palavras e foi logo arrumando as coisas para irmos embora.

-- Não mamã - a impedi, vamos vender tudo e depois damos a notícia ao papá. - Ela sozinha vendia bem, nós duas venderíamos melhor. Minha mãe me contou que foi assim que conquistou o meu pai.

Vendemos tudo o que tínhamos, daquele fardo que minha mãe abriu pela manhã, só sobrou uma blusa que ela me deu de presente, agradeci muito por aquilo.

Seguimos para casa felizes e satisfeitas, o dia tinha corrido bem.
Ao chegar, meu pai também estava fechando a banca que tinha em casa, ele devia estar cansado, pois nunca fechava a banca aquela hora.

-- Pai - corri para abraça-lo.

-- Vem, minha filha - meu lindo pai abraçou-me e sussurrou no meu ouvido -- minha preciosidade. 

Eu não pude evitar me emocionar. Contei para ele sobre os resultados e ele ficou ainda mais feliz, entramos em casa, minha mãe e eu fomos fazer o jantar e antes que pudéssemos comer, meu pai chamou nos para conversar.

-- Minha filha - disse ele após se certificar que estávamos acomodadas, minha mãe e eu. -- Está claro que a partir do próximo ano você irá para a faculdade - abanei a cabeça em aceitação -- Sua mãe e eu decidimos que você irá estudar em Maputo.

Após essa declaração meu coração falhou duas batidas, eu quero ir a faculdade, mas não quero me afastar dos meus pais.

-- Não te preocupes - sussurrou minha mãe que percebeu que eu estremeci.

-- Vocês vão comigo?... - antes que eu pudesse terminar a fase, meu pai abanou a cabeça em negação. -- onde eu vou ficar? - minha voz saiu com um tom de desespero.

Minha mãe se levantou e pegou um papel que guardava numa das gavetas do armário que ficava na sala e deu para o meu pai.

-- Aqui tem a resposta - ele estendeu a folha de papel para mim, onde havia escrito um endereço, o número e o nome de uma mulher, Cacilda Chita. -- ela é uma das irmã da sua mãe - concluiu.

Que irmãs são essas que eu nunca nem ouvi falar, eu sempre pensei que eles dois eram a minha única família, eu estava atordoada.

Olhei de soslaio para minha mãe implorando por uma explicação e ela movia os lábios com intenção de se pronunciar.

-- Eu tenho três irmãs minha filha, mas nunca falei delas porque faz muitos anos que não nos relacionamos, mas eu prometo a você que mais adiante eu conto.

-- E a tia sabe que eu vou lá? Com quem ela mora? Tem filhos? Ela... - disparei essas perguntas e meu pai me interrompeu.

-- Calma, ela sabe que você vai lá, nós pedimos esse favor. Que ela receba você por esse tempo que estiver estudando.

Aceitei sem entender muita coisa, mas eu não pretendia contrariar a vontade de meus pais. Mas em algum momento eu senti saudades, antes mesmo de ir embora.

-- Marisa você terá de adiantar sua viagem, tem de se preparar para os exames de admissão, e aqui talvez você não consiga. - meu coração estava cada vez mais acelerado.

Me sentia como um passarinho que precisava aprender a voar, mais eu estava com muito medo de cair e quebrar minhas asas.

Durante o jantar conversamos sobre trivialidades como sempre, meus pais não tinham posses, mas me proporcionaram momentos de muito amor e felicidade, a gente não precisava de muito, nós mesmos já éramos suficientes.

Fui me deitar, mas não consegui pregar o olho, pensava que pela primeira vez não passaria o natal com os meus pais. Isso era estranho, teria que conviver com outras pessoas, e eu não estava preparada.

Mas enfim, minha viagem para Maputo seria breve, então tinha que estar preparada, tentei sorrir e dormir.

[•••]

É manhã, e estou cheia de energias, hoje também vou ajudar minha mãe nas vendas e depois vamos comprar algumas coisas para levar.
Estou nervosa e ansiosa, quero que o dia seja maravilhoso e entrego tudo nas mãos de Deus, pelo menos até hoje ele tem provido coisas boas para mim, isso me deixa muito feliz.

Meu pai já está na sua banca fazendo seu trabalho, minha mãe e eu tomámos o nosso matabicho (café) e arrumamos a casa antes de sair.

Dou um abraço no meu herói, e ele dá um beijo na bochecha da minha mãe, e então, saímos para trabalhar.

...

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MARISA - A CamareiraOnde histórias criam vida. Descubra agora