Capítulo 62

203 13 0
                                    

Marisa Vilarela

Caminhava de mãos dadas com o meu pai saindo do cemitério, o novo e o último lar da minha querida e amada mãe. Era um momento doloroso para nós, não poderia expressar o quanto.

Miguel e sua mãe caminhavam lentamente atrás de nós, estava inconsolável, ninguém poderia imaginar que ela amava assim tanto a minha mãe.

Essa foi uma despedida muito dolorosa para todos nós!

Sófia não saiu de perto de mim em nenhum momento, esteve sempre presente dando apoio, me ajudando com tudo o que precisava, se mostrou uma amiga incrível.

Chegamos em casa e fui para o meu quarto, precisava ficar sozinha, tomei meu celular em mãos, fazia 4 dias que eu não pegava nele.

Haviam várias ligações de Roberta, William, Bruno e Júlio, desde a morte da minha mãe eu nunca consegui falar com eles.

Resolvi ligar para Roberta!

-- Alô - falei sem muito ânimo.

-- Marisa - disse cuidadosamente -- faz tanto tempo que quero ouvir sua voz!

-- Me desculpe, eu não... Não era capaz disso naquele momento.

-- Eu sei querida, eu só quero que você saiba que eu sinto muito, eu fiquei triste com a notícia e queria muito ter estado ao seu lado.

-- Obrigada minha amiga!

-- Ohh querida, eu não sei o que dizer... - ficou um tempo em silêncio -- tenho medo de dizer alguma coisa que possa machucar você, ou lhe deixar ainda mais triste.

-- Você é minha amiga, eu sei que não faria nada disso de propósito.

-- Olha, talvez não seja o momento certo, mas eu falei com o meu pai e ele concordou e você pode vir morar aqui em minha casa e terminar os seus estudos.

-- Isso é verdade? - expressei menos entusiasmo do que era real, mas a notícia me tinha deixado extremamente feliz.

-- É sim! Quando as coisas estiverem melhores meu pai entrará em contato com o teu para lhe fazer a proposta, isso se você aceitar é claro.

-- Não tenha dúvidas de que vou aceitar, eu preciso terminar os meus estudos... Muito obrigada querida, você é ótima.

Continuamos conversando por algum tempo até que eu fiquei cansada e com sono, fazia alguns dias que eu não dormia direito, estava precisando descansar.

4 Semanas Depois

-- Adeus pai, mais uma vez eu vou para a capital...

-- Isso é o que você tem de fazer minha querida. - ele se aproximou de mim e me deu um beijo na testa. -- se cuide tá bom? Eu por aqui tentarei fazer o meu melhor.

-- Eu sei pai, te adoro muito! - lhe dei um abraço apertado e entrei no autocarro.

Aquele adeus me causou muito medo, medo de ir embora e talvez nunca mais voltar a vê-lo, não suportaria perder o meu pai também.

...

Algumas horas depois eu chegava a casa de Roberta e era recebida por ela mesma.

-- Oi minha amiga - ela veio até mim e me deu um abraço apertado. -- senti muito a sua falta.

-- Eu também senti Roberta!

-- Entre, deixe a sua mala aí, a secretária vai levar para o nosso quarto... - ela deu pulinhos de alegria -- estou tão animada.

-- Vamos comer? Estou morrendo de fome - falei indo até a cozinha. -- cadê seus irmãos?

-- Eles estão viajando e só voltam em 6 meses, melhor se esquecer deles.

-- Isso é sério? - falei me sentando a mesa para o almoço.

-- Sim, estão fazendo uma formação, dessas de curta duração entende? - abanei a cabeça em aceitação -- pois, mas eles voltarão.

-- Ohh, que pena! A ideia de passar alguns anos ao lado do Gui me deixou bem animada.

-- Que horror Marisa, Guilherme não tem nada de especial.

-- Não tem ou você não vê? Aquele homem é um gato. - pena ele ser uns 8 anos mais velho que eu. - gargalhei.

-- Sua safada! Meus irmãos não são para você okey? Pode tirar o seu cavalinho da chuva.

-- Hm tá! Também eles são tão velhos, não ia dar mesmo. - falei conformada.

-- Acho bom esquecer essas ideias Marisa... E você não sabe das novidades. - falou com um brilho no olhar que me deixou arrepiada.

-- Quais novidades meu bem?

-- É sobre Dante, achas que podes ouvir?

-- Porque essa pergunta?

-- Você gostava dele... Então - deu uma pausa para efeito dramático -- talvez não aguente.

-- Fale logo sua fofoqueira.

-- Eu ein! - revirou os olhos -- só vou falar porque não aguento mais - riu alto. -- Dante está com HIV - falou de uma só vez e tapou a boca com a mão me encarando para ver minha reação.

-- Não diga! - falei chocada! -- como pode?

-- Parece que a Nina dele colocava uns chifres nele e acabou pegando a doença.

-- A quanto tempo ele tem isso? Meu Deus... Rafaela também pode estar infectada!

-- Oh! Minha querida, eu me tinha esquecido disso. - riu -- me desculpe, eu não posso evitar.

-- É, eu entendo! Estou mesmo sem reação... Eles terminaram? - parece que minha questão deixou Roberta mais animada.

-- Essa notícia causou tanta vergonha nele que ele não teve outra opção a não ser terminar com ela... Ele esteve fazendo um tratamento para sífilis também.

-- Sífilis? - indaguei surpresa! -- isso é horrível!

-- É minha querida! Ele está tão magro e acabado.

-- Em tão poucas semanas ele conseguiu chegar a esse estado?

-- Ele adquiriu péssimos hábitos, principalmente após a morte do pai, até a empresa está em estado lastimável.

-- Ora, que choque! Espero que Rafaela ja esteja sabendo disso para que possa se cuidar, ela está grávida, não seria nada bom se o bebê pegasse essa doença.

-- Concordo! A vida de Dante está uma desgraça, e ele vai ainda repetir algumas cadeiras na faculdade ano que vem.

-- Lamentável!... Pior é ter que cruzar com ele outra e outra vez. - rimos.

Falamos sobre muitas coisas mais, sobre nossos amigos, inimigos, familiares e vizinhos, nossos sonhos e pesadelos, planos e obstáculos, e tudo o que foi possível. Nos divertimos, assistindo, ouvindo música e conversando mais e mais.

Começava uma nova etapa na minha vida e eu queria que fosse mesmo melhor que a última.

MARISA - A CamareiraOnde histórias criam vida. Descubra agora