Capítulo 59

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Marisa Vilarela

Minha mãe estava jogada sobre a esteira tendo fortes convulsões, meu pai e eu estávamos assustados sem saber o que fazer, quem chamar, onde pedir ajuda.

Sem querer eu me ajoelhei no chão começando a chorar, meu pai se aproximou dela tentando segurar seu corpo que se mexia com muita força.

-- Meu pai do céu, ajude minha mãe. - falava aos prantos com as mãos levantadas -- por favor, meu Deus, não leve minha mãe, não agora.

E a convulsão durou quase 5 minutos, foram os 5 minutos mais longos da minha vida, ela se estabilizou, e eu chorei ainda mais quando percebi que ela ainda respirava.

-- Obrigada, obrigada meu Deus!

Meu pai pegou ela no colo e levou até o quarto.

-- Marisa, vá descansar.

-- Pai...

-- Não minha querida, vá dormir e vamos rezar muito para que Deus nos dê mais tempo junto dela.

-- Esta bem!

Sai até meu quarto ainda assustada, meu coração batia muito forte e rapidamente, eu mal conseguia respirar, estava com muito medo.

Liguei novamente para Bruno.

-- Oi, gostaria de me desculpar por interromper a ligação daquele jeito.

-- Eu entendo, o que aconteceu? - quando ouvi essa pergunta um nó se formou em minha garganta e quase não consegui engolir minha própria saliva.

-- Minha mãe... Estava tendo uma convulsão.

-- Meus Deus, e ela está bem?

-- Ela está doente, meu pai não diz o que é, estou com medo.

-- Marisa... Eu... Sinto muito.

-- Obrigada... Podemos conversar noutra altura? Eu gostaria de descansar.

-- Tudo bem, vou torcer para que ela melhore.

Me despedi de Bruno, fiz uma oração pela minha mãe e me deitei para dormir.

Aquela noite foi uma das piores da minha vida, meu coração estava apertado de mais, estava assustada e com um pressentimento horrível. Eu mal pude dormir aquela noite.

...

Acordei com uma algarraza de desespero vindo do quarto dos meus pais.

-- Mãe - falei pulando da cama rapidamente deixando para trás meus chinelos. -- mãe - chamei assim que cheguei a porta do quarto que estava aberta, observando meu pai ajoelhado na cama chorando no peito da minha mãe.

Não consegui me mover vendo aquela cena, meu pai chorava muito e minha mãe não se mexia. Meu cérebro dizia "vai" mas meus pés não me obedeciam. Eu estava congelada.

As lágrimas começaram a rolar involuntariamente, eu não precisava de mais nada, eu já sabia que minha mãe estava morta.

Coloquei a mão sobre o batente da porta e fitei o chão, fazendo minhas lágrimas caírem sobre os meus pés, eu não conseguia mais olhar meu pai daquela posição, não conseguia mais ouvir seu choro, não conseguia mais pensar que minha mãe estava morta.

-- Mãe - sussurro para as paredes -- Mãe - falo outra vez tentando controlar minha respiração -- Mãeeee - grito descontroladamente caindo de joelhos no chão - não mãe... Não... Minha mãe, não... - e mais lágrimas caíram sobre minha pele. Meu coração estava tão acelerado que pensei que fosse parar de bater a qualquer momento. 

Eu respirava com dificuldade e parecia que estava tendo um ataque de pânico, quando meu pai percebeu o meu estado pulou da cama e foi até mim.

-- Minha filha, fique calma... Por favor - eu não conseguia ficar calma, não ouvindo a voz embaçada do meu pai, não ouvindo seus soluços, não vendo ele chorar.

Ele tentou parecer forte para me acalmar, mas ele estava completamente destruído.

-- O que aconteceu? - falei em meio ao desespero, meu pai não responderia eu sabia disso, e eu não queria realmente ouvir uma resposta.

Abraçei meu pai com força, com toda a força que tinha, até desmaiar em seus braços...

Acordei e percebi que estava deitada no sofá da sala, sozinha. Levantei de vagar e fui até o quarto do meu pai.

Ele não estava lá, mas o corpo da minha mãe ainda repousava na cama, totalmente coberto. Me aproximei de vagar e me ajoelhei no chão colocando meus braços sobre a cama.

-- Mãe... Minha mãe, eu sei que não pode mais me ouvir, mas... Saiba que eu te amo, e... - minhas lágrimas mais uma vez agiram involuntariamente -- eu não queria que você fosse embora, eu... Eu pedi a Deus que deixasse você comigo... Mamã, eu já estou com saudades... Mãe, não se vá, por favor... Mãe, acorde, acorda mamã, eu estou aqui, sou tua filha... Mãe, está me ouvindo? - peguei na mão da minha mãe, ela estava gelada, muito gelada -- mãe, está com frio? Eu posso cobrir você... Quer? Quer que eu cubra seu corpo mãe?... Mamãe, responda por favor, fale comigo...

-- Marisa - a voz de meu pai ecoou no quarto. -- o que está fazendo?

-- Pai, ela não quer conversar. Ela não me responde, venha sentir, está tão gelada... Pai vem.

-- Marisa por favor, levante-se.

-- Não, eu não vou deixar a mamã sozinha aqui.

-- Por favor minha filha, levante.

-- Não, eu só saio daqui com ela, só saio daqui quando ela falar comigo...

Alguns homens entraram no quarto, meu foi até mim e me segurou pelo braço, enquanto aqueles homens se prontificaram para levar minha mãe.

-- Deixem minha mãe aí... Ela vai acordar... Eu sei que vai acordar... Me solta - me debatia nós braços do meu pai para que me soltasse, mas foi inútil, ele era mais forte que eu. -- não deixe pai, não deixe que levem a minha mãe... Por favor não deixe.

-- Eu não posso fazer mais nada minha querida.

Eles levaram o corpo dela diante dos meus olhos, eu desejei morrer naquele momento, eu desejei tanto que meu coração parasse de bater e que eu fosse levada para o mesmo lugar que ela...

Depois de algum tempo começaram a chegar em minha alguns vizinhos, amigos do meu pai, amigos da minha mãe, alguns colegas que tive na escola, em pouco tempo a casa ficou cheia de gente que ia prestar homenagem a minha falecida mãe, Sófia estava lá, junto de mim para me apoiar e cuidar de mim. Eu não tinha nenhum outro parente, além dos Martins que estavam na capital, falidos.

Meu celular tocou diversas vezes e Sófia tratou de atender as ligações de alguns dos meus amigos, William, Júlio, Roberta e Bruno.

Eu sentia minha cabeça doer muito e não conseguia mais respirar, estava me sentindo tonta, muito fraca, com meu coração falhando algumas batidas...

MARISA - A CamareiraOnde histórias criam vida. Descubra agora