Capítulo 01

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Any Gabrielly

Nova York, EUA
Terça, 21 de junho de 2018

- E 5, 6, 7, 8.  - Martha, minha coreógrafa fazia a contagem da música enquanto dançava no palco à sua frente - 1, 2, 3, movimentos mais leves, Any! 7, 8. - Ensaiávamos o meu tão sonhado solo de Clara, de "O Quebra-Nozes".

Comecei a dançar aos 3 anos. Minha escola oferecia aulas de ballet após o horário das aulas regulares e, como minha mãe trabalhava até mais tarde, para que eu não ficasse tanto tempo esperando para que ela chegasse para me buscar, optou por me colocar para fazer tais aulas.

Mas eu não parei mais.

Aos dez anos, eu era a única da turma que ainda fazia aulas. Pelo que me lembro, as meninas diziam que estavam "velhas demais" para o ballet, que preferiam a ginástica artística. Não as julgo. As aulas também já não estavam me agradando tanto, apesar da minha paixão pela dança.

Então, com muita dor no coração, pedi à minha mãe para que também deixasse de fazer as aulas, deixando-a completamente confusa.

Dona Priscila, no entanto, sabia que aquilo definitivamente não era o que eu queria. Porém, não tínhamos o suficiente para pagar uma mensalidade em uma escola de dança, uma vez que era praticamente o dobro da mensalidade das aulas da escola.

Até que, como a fada madrinha realizando o desejo da Cinderela, minha tia Laura Carolina soube que haveria uma audição para uma bolsa integral na melhor escola de dança de São Paulo e mais que rápido, me inscreveu. Disse que eu tinha talento e que eu conseguiria. Mas eu tinha dez anos.

E como qualquer criança, me comportei como tal. Fiquei apavorada. Chorei, me desesperei, e quando o dia da audição chegou não havia ninguém que me tirasse da cama. Havia decidido que não faria a tal audição e que desistiria da dança, de uma vez por todas. Como é que uma criança com a idade que eu tinha, poderia aguentar uma pressão assim?

Porém, de última hora, minha mãe me convenceu e dei minha cara a tapa. Eu não tinha nada a perder mesmo, então por que não tentar?

Acabei passando. E foi lá que, aos 15 anos, me foi apresentado o solo do ballet de repertório que eu sempre quis performar. 

Para resumir, O Quebra Nozes conta a história de Clara, uma menina que na noite de Natal ganha muitos presentes, mas se encanta de uma maneira especial por um deles, um boneco quebra-nozes. Quando todos vão dormir, Clara vai à sala para brincar com seu novo presente, adormece e, em seu sonho, os brinquedos ganham vida, dançam, lutam, viajam para O Reino das Neves e Reino dos Doces, onde Clara e seu príncipe são homenageados com danças típicas de vários países e com um pas-de-deux* da Fada Açucarada.

Pas-de-deux nunca foram o meu forte. Dançar em dupla nunca foi uma ideia que me agradasse. Apesar de eu amar dançar em grupo, dançar com uma dupla, que precisa da sua total sincronia e confiança para te levantar e te girar no meio da coreografia, simplesmente me abominava. 

Agora, já passavam das seis da tarde. Isso quer dizer que eu estava ensaiando sem parar há mais ou menos duas horas e meia e algo me dizia que iríamos ainda mais longe com aquele ensaio. Normalmente Martha não era assim tão exigente mas, com a apresentação tão perto, os ensaios acabavam se tornando mais intensos e duradouros.

Entretanto, não era uma apresentação qualquer. O solo que eu tanto estava ensaiando, seria performado no Youth America Grand Prix, o maior programa internacional de bolsas e concursos para estudantes de ballet. Nele, "olheiros" de várias companhias de dança ao redor do mundo estariam presentes, inclusive os do Teatro Bolshoi, na Rússia.

Can I Have This Dance? || BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora