Josh Beauchamp
Toronto, Canadá
Quarta, 24 de junho de 2020
- Eu quero dançar com a Any. - No momento em que a frase foi proferida, um silêncio absolutamente desconfortável se instalou ali. Jaden largou os talheres sobre o prato, encarando-me perplexo e meu pai continuou com sua expressão indecifrável enquanto apoiava a taça de vinho de volta à mesa.
- Pelo que eu me lembre, ela recusou a proposta - disse extremamente calmo, cortando um pedaço de seu bife perfeitamente assado, como exigira.
- Bom, ela mudou de ideia - completo desafiando-o e acompanho seus movimentos com o olhar. Era extremamente irritante não saber o que se passava em sua cabeça.
- Que pena, não é? Um pouco tarde demais. Você já se comprometeu com Heyoon. - disse trazendo seu olhar a mim - E você mesmo acabou de dizer que poderia chegar à Rússia com ela.
- Eu sei pai, mas...
- O assunto se encerra aqui - meu pai me corta. Seu tom rígido estava sendo cada vez mais frequente, fazendo-me bufar contrariado pegando o copo de cerveja da mesa.
- Sim senhor - sussurro ironicamente levando o copo à boca.
Minha mãe me lançou um olhar em repreensão e abriu a boca em seguida, como se quisesse dizer algo. Mas alguns segundos depois, desistiu voltando a encarar seu prato - agora quase vazio.
Ron Beauchamp era o empresário mais bem sucedido de Toronto, dono do hotel em que eu morava. Por cortesia - ou deveria dizer obrigação? - deixava que eu alugasse o quarto na cobertura por um preço menor do que o cobrado normalmente.
Meu pai nunca foi do tipo de cara que costumava demonstrar realmente o que sentia pelas pessoas - nem mesmo pelos seus filhos.
Quando eu era criança, ele era extremamente contra seu primogênito ser dançarino. Claro que nunca teve a coragem de dizer isso diretamente a mim, mas eu podia ouvi-lo discutir sobre o assunto com a minha mãe, sempre que eu insistia em fazer aulas. As outras crianças da minha turma na escola também tiravam sarro. "Ballet é coisa de menina, você deveria estar jogando Hockey" eram as frases mais ditas a mim, pelos meus colegas de classe.
Sorte a minha que não dei ouvidos - nem à eles, nem ao meu pai - e segui lutando pelo que eu queria fazer.
Aos 10, quando percebeu que eu realmente tinha talento para a coisa, meu pai começou a acompanhar minhas apresentações. Não perdia uma. Eu finalmente estaria "derretendo o coração de gelo de Ron Beauchamp?". Obviamente não. Mas naquela época, ter meus pais e meu irmão mais novo me apoiando era muito melhor que qualquer outra coisa
Aos meus dezoito anos, no auge da minha adolescência relativamente rebelde, tivemos uma briga feia. Apesar de já desconfiar há um tempo, tive a confirmação de que meu pai não estava lá para me apoiar, e sim para ganhar dinheiro em cima de mim. Ele apostava muito no meu talento, e eu precisava ser o melhor. Não me parece que muita coisa mudou hoje aos 24, não é?
Saí de casa. Sem rumo, sem saber para onde ir. Irritado, raivoso, mas também decepcionado. Eu realmente queria que ele me apoiasse apenas pelo fato de eu amar aquilo que fazia. E então, após uma semana sem atender aos telefonemas de minha mãe, entre bares e boates, Katia encontrou-me e, depois muito conversar, me levou de volta para a casa, sob a condição de passar a ser minha coreógrafa e a promessa de me levar à uma das melhores companhias de ballet do mundo - desde que ele desse um tempo nas apostas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Can I Have This Dance? || Beauany
Hayran KurguAbalada após um acidente brutal, Any Gabrielly - uma bailarina mundialmente famosa - é obrigada a se afastar dos palcos. Por isso, seu sonho de concorrer por uma bolsa de estudos no Teatro Bolshoi, na Rússia, se encontrava cada vez mais distante. Ao...