Ficou tudo gelado

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"Há mais perigo nos teus olhos do que em vinte espadas"

(William Shakespeare)

14 de Outubro 18:32

É a terceira piscadela e a segunda vez que minha cabeça pende de sono. É isso mesmo, produção? Eu realmente aceitei esta chantagem sórdida e vim parar aqui nesta reunião absurda que a Vilde organizou com as meninas? Já estou aqui há meia hora e, fora as meninas que organizaram este fiasco de evento, sou o único maluco que teve a coragem de vir ... obrigado, é claro, mas vim. Faço um movimento para sair, mas Sana me dirige aquele olhar de Ciclope, o que me obriga a desistir imediatamente da fuga.

Bem que poderiam ao menos apagar uma ou duas lâmpadas, assim eu poderia tirar um cochilo enquanto aguardo a constatação, por parte das meninas, que esta reunião já estava fadada ao fracasso antes mesmo de acontecer, assim eu estaria dispensado desta vergonha alheia. O que me resta é chamar os meninos para me fazerem companhia neste encontro bizarro.

EU: Kd vcs, caras?

MAGNUS: Onde?

EU: No Rock in Rio. Porra... vocês disseram que viriam nesta merda de reunião.

MAHDI: Xi...esqueci!

JONAS: Desculpa aí, cara... mas sem condições de encontrar com a Eva.

MAGNUS: A Vilde está aí?

EU: O que acha? Foi ideia dela este Chernobyl.

Eva e Noora estão em um canto tentando acalmar Vilde que está à beira das lágrimas, parece que até mesmo ela já percebeu que o Titanic já afundou. Observo Sana preocupada, sinto prazer em vê-la desconfortável. Isso é mesquinho? Claro que é, mas é uma pequena vitória sentir que minha oponente está abatida e a ponto de jogar a toalha.

Vilde vem em minha direção e Sana a segue.

__ Oi, Vilde...eu quero te pedir desculpas por hoje. Eu não tinha o direito de falar com você daquele jeito. _ digo meio sem-graça, ciente do quanto fui grotesco.

__ Obrigada, Isak, mas está tudo bem. Ao menos você foi sincero, né. Um monte de gente falou que vinha e onde estão todos? No final de tudo você está aqui... – sussurra Vilde com os olhos úmidos e a voz embargada.

Confesso que sinto remorso por ser muitas vezes rabugento e mal-humorado com meus amigos. Sana me olha e parece pela primeira vez desarmada, baixo meus olhos em sinal de solidariedade, então meio sem-graça ela fala:

__ Bem... então é isso...você pode...

Ela iria me dispensar...finalmente seria liberado daquela tortura, mas neste momento ouvimos sons vindos do corredor e logo entram duas meninas de mãos dadas e se dirigem para um canto da sala. Logo em seguida, uns três caras do 1º ano sentam no fundo, com seus fones de ouvido e expressões duvidosas no rosto.

Vilde enxuga as lágrimas, sorri para a amiga e vai ao encontro de Eva e Noora. Minha algoz de hijab me envia um sorriso de desculpas, dá de ombros e a segue. Eu sento injuriado na cadeira. Não acredito que eu estava prestes a ganhar a minha liberdade, quando começou a brotar gente vinda de Nárnia.

Verifico a hora. 18:58.

- Ok, tudo bem. Acho que podemos começar! Quero dizer que estamos muito felizes porque vocês vieram... ai, gente...estou nervosa. – diz Vilde torcendo as mãos.

Reviro os olhos entediado.

As meninas começam a se apresentar e blá blá blá. Mexo em meu celular procurando mensagem dos garotos. Nada! Começo a digitar cobrando a presença deles ali, mas meu pensamento é interrompido por um novo grupo que entra em massa na sala falando alto e desviando a atenção de todos. Noora e Sana trocam olhares, surpresas com aquela nova quantidade de pessoas. Até eu fiquei...porque, fala sério, o que iríamos fazer de interessante aqui?

Ser ou Não SerOnde histórias criam vida. Descubra agora