Moinhos de Vento

84 9 6
                                    

Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito.

 (William Shakespeare) 

Vou despertando aos poucos, uma dor de cabeça persistente impede que eu abra os olhos. Que merda!!! Bebi demais ontem e, para piorar, sinto um vácuo em meus pensamentos e minha cabeça pesa uma tonelada. Acredito que deve ser por conta da bebida e pelo soco que levei do Jonas. Espera aí: soco de Jonas? 

Por mais que o esforço para lembrar do que houve na noite anterior piore a minha dor, tento forçar as lembranças que aparecem desfocadas no meu pensamento. Estávamos no banheiro da casa de Noora: Magnus, Madhi, Jonas e eu bebendo cerveja e conversando besteira (como sempre). Jonas estava estranho (todos estávamos, na verdade).  Even também estava lá... mas estava conosco? ....    ....   .... (VÁCUO) Não...quem estava conosco era a garota do Stranger Things (mas o que ela fazia lá?)  Even, na verdade,  estava se pegando com Eva em cima da privada... ... ... ....  ... NÃO...não eram eles (graças a Deus). Sana vomitou no banheiro...não...era Eva. Jonas me acerta uma porrada... (VÁCUO...VÁCUO...VÁCUO) Breu total. Nada disso faz sentido...eu sonhei?

Vou abrindo os olhos vagarosamente. Minha cabeça...CARALHO... Juro que tão cedo não vou colocar uma gota de bebida na boca. Peraí...quem arrumou meu quarto? Está tudo tão organizado, um cheiro agradável, pintaram as paredes... como??? Paredes pintadas, quarto arrumado, cheiro agradável? Este quarto não é meu... tento levantar da cama, mas minha cabeça ameaça explodir.  Como vim parar aqui? Vamos, Isak...lembre o que aconteceu... ESCURIDÃO.

Ouço sons abafados do lado de fora do quarto, não consigo identificar qual é a música. Decido que qualquer coisa que haja do outro lado da porta é melhor do que ficar ali naquele quarto sem saber o que realmente aconteceu. 

Mas quê...? Onde está minha roupa? Estou trajando apenas minha cueca... isso está ficando cada vez pior. Eu me enrolo no lençol e saio me esgueirando pelo corredor. A música fica um pouco mais alta, consigo identificá-la é "I Follow Rivers", isso não é um pouco gay? Também ouço que alguém está tentando acompanhar a letra, mas é uma catástrofe, tento tampar meus ouvidos para não piorar a dor de cabeça, mas preciso segurar o lençol ao mesmo tempo. Vou seguindo a música e atravessando um verdadeiro campo de batalha. Garrafas...muitas e muitas garrafas jogadas por todo lado, copos de plástico espalhados pelo chão, bagunça e caos generalizado. Ao menos já sei onde estou...na casa de Noora, mas por quê? Por que os meninos me largaram aqui? Existia um acordo tácito entre nós de que nunca abandonaríamos um ao outro numa situação daquelas.  Jonas me sentou uma porrada no olho... isso não faz sentido. Por quê?

Meio inseguro, dou uma espiada na cozinha, ali está um cara de costas para mim, trajava apenas uma camiseta e boxer. Pelo cheiro ele está preparando café. Penso em sair de fininho,  é constrangedor para nós dois... afinal, eu estava enrolado num lençol e ele de boxer e camiseta, cantando e dançando ao som de " I Follow Rivers". Mas como nada dá certo para mim, esbarro em uma cadeira, fazendo com que o rapaz pare de cantar e se dê de cara comigo.

- Isak? 

Congelo no lugar, bem diante de mim está Sebastian, mas que diabos! O que ele faz aqui só de cueca e camiseta na cozinha de Noora? 

_ Como você está? – ele pergunta como se fosse a coisa mais natural do mundo me encontrar ali.

- Dói... – digo apontando para a minha cabeça.

Sebastian me olha com pena, desliga o som e começa a remexer em um armário. Seus movimentos são tão naturais quanto na boate, no dia de nosso encontro. Ele me estende um comprimido e um copo com água.

- Tome, você vai se sentir um pouco melhor. 

Engulo o comprimido, enquanto ele volta a preparar o café. 

Ser ou Não SerOnde histórias criam vida. Descubra agora