“Oh amor poderoso! Que às vezes faz de uma besta um homem, e outras, de um homem uma besta.”
WILLIAM SHAKESPEARE
Even me olha meio assustado, meio irritado, meio incrédulo; nem mesmo eu acredito na minha audácia, mas fui tomado por uma coragem desconhecida. Pode ser pelo álcool circulando em minhas veias, ou até mesmo a recém descoberta desta sensação louca que este cara desperta em mim, o fato é estou mais decidido do que nunca em me desculpar por ter sido um idiota completo na noite anterior.
- Você vai se contaminar tocando numa bicha nojenta. – diz ele com um olhar magoado.
Ele tenta se desvencilhar do meu aperto, mas não cedo nem um milímetro, pelo contrário, me aproximo perigosamente, o que faz com que ele encoste na parede. Obrigado, Even, eu acabo de te encurralar. Seu hálito quente toca em cheio em meu rosto, esta proximidade, esta fragrância, sinto-me animado como nunca.
- Isak, me solte, sim?
Olho para ele no fundo dos seus olhos. Quero que ele veja a culpa estampada ali. Quero que ele me perdoe por ontem. Aquele não era eu (era?). Não...decididamente era apenas uma versão confusa de mim. Um eu irreal e assustado. O Isak covarde.
Estou parcialmente ciente do quanto devo parecer patético naquele estado de embriaguez. Lá no fundo do meu cérebro uma vozinha bem ao longe diz que alguém pode nos ver naquela situação no mínimo estranha, mas foda-se... não quero pensar nisso, não agora que estou tão perto dele, daqueles lábios sedutores. Se eu me aproximar mais alguns centímetros eu posso...
-Cara, você é maluco ou o quê? – Even ainda tenta se soltar, mas sua respiração está entrecortada. Isso quer dizer que ele não é imune a mim? É impressão minha ou ele está desconcertado com esta proximidade?
- Isak... tudo bem por aqui?
Automaticamente solto o braço de Even como se tivesse sido picado por um escorpião. Olho para trás. Lá estão os meninos na porta do banheiro. Eles me olham com aquela expressão de ponto de interrogação na testa.
_ Si...sim...- pigarreio sem-graça, automaticamente estou sóbrio, sinto como se tivesse caído do 10 ª andar de um prédio. Não é fácil ir do céu ao inferno em segundos. – Esta... estava tirando uma dúvida aqui com...hum.. é... um colega... sobre o... o grupo de teatro.
Que merda!!!! Não... de novo não... eu fiz isso de novo...eu não queria, mas fiz... onde foi parar a coragem de segundos atrás? Olho de relance para Even, há um risinho desdenhoso em seus lábios, como se dissesse que eu era mesmo um covarde.
- Já está tudo esclarecido. – Even me dá um tapinha no ombro com um leve sarcasmo no olhar. Sinto meu rosto queimar de vergonha, tento olhá-lo nos olhos, mas ele me dá as costas. Eu o sigo com o olhar até ele se perder em meio às pessoas na sala.
_ Este não é o cara do boné? – Magnus me tira do devaneio.
Olho para trás, confuso.
- Que boné? - digo, meio grogue. Meus pensamentos estão completamente focados em Even.
- O cara que encontrou o boné do Jonas no refeitório.
- É por causa deste cara que você está estranho? – pergunta Jonas sem rodeios.
- O... o quê?
Meu Deus! Jonas sabe... desde quando? Sempre soube? Como soube? Será que estou dando bandeira demais?
- Este cara está te ameaçando por conta de alguma coisa? Te perseguindo?
- N...não...- de onde tirou isso?
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Ser ou Não Ser
Fanfic"Medos, dúvidas e questionamentos. Isak é o Hamlet do século XXI, um adolescente comum que enfrenta os mesmos dramas de milhares de jovens de sua idade. No entanto, para agravar sua situação, ele passa a questionar seriamente sua sexualidade, quando...