Há mais coisas no céu e na terra, Horácio/ Do que as sonhadas em nossa filosofia"
(William Shakespeare)
14 de outubro (23:52)
Fecho meus olhos com força e tento dormir, mas o sono não vem. Viro de um lado para o outro feito um pão na chapa, mas nada... minha última tentativa foi dar uma chance para a playlist feita pelo Magnus, geralmente não dá para confiar muito no seu gosto musical, mas ele me garantiu que elaborou uma coletânea de alta qualidade com os melhores rappers. Deito novamente, tento me concentrar na música para esquecer o pastelão mexicano que protagonizei diante de Even. O que deu na minha cabeça para chamá-lo de veado e bicha nojenta?
Como, em nome de Deus, saiu uma coisa destas de minha boca? Por que eu era esta criatura histérica, insana e imbecil que não possuía um filtro e bastava eu me sentir encurralado para começar a proferir coisas estúpidas? Foi horrível a forma como o tratei! Na verdade, isso seria algo horrível para se dizer a qualquer pessoa. Além do mais... eu não estava há semanas me debatendo sobre esta dúvida se eu mesmo era... ai, meu Deus.... o que eu fui fazer? Even jamais voltaria a olhar na minha cara (com razão) e por que eu sentia esta dor aguda quando pensava nesta possibilidade de nunca mais ter aqueles olhos incríveis sobre mim, de não ouvir mais aquela voz sedutora, nem sentir aquele calor, aquele cheiro, aqueles toques?
Pelas paredes do meu quarto ecoam Too $hort, Raekwon, Ultramagnetic MC's, Outkast, Nas... fui realmente injusto com Magnus, afinal, a playlist era de se tirar o chapéu. Eu estava realmente começando a relaxar, aos poucos sinto meus músculos ficarem mais soltos, meus olhos começam a pesar, era questão de minutos para que eu embarcasse no mundo dos sonhos. De repente, um acorde diferente... que porra era esta? Eu conheço isso de algum lugar...Gabrielle? Não... DEFINITIVAMENTE ... somente Magnus para colocar esta pérola da cafonice junto com o melhor do rap mundial. Mas estou tão cansado, meus olhos já estão quase fechando...
Oh hosianna, hevenu shalom
Cinco donzelas jovens nunca vão para casa
O som de algo que nos deixa livres
Nós não temos dinheiro, mas possuímos tudo
Brega...brega...brega...definitivamente brega, mas estou muito cansado para trocar a música. Basta eu me desligar e finalmente descansar, mas sinto a cama afundar ao meu lado. O cansaço não permite que eu abra os olhos, na certa já estou entrando no mundo dos sonhos. Um toque em meu rosto, bem suave, dedos longos, quentes e macios. Eu me recuso a abrir os olhos, está tão bom, tão seguro, tão quente... recuso-me a pensar quem poderia estar em meu quarto, deitado em minha cama, com toques tão suaves, na certa estou sonhando...
De repente esta mão desce por meu pescoço e chega em meu peito, acaricia meu mamilo. Solto um gemido baixinho.
- Gosta disso, Isak?
Esta voz profunda e sexy... caralho, no mesmo instante estou desperto. E ali está ele, deitado ao meu lado na cama, com o esboço de um sorriso nos lábios, dedos apertando de leve meu mamilo direito.
- Co...como... você entrou aqui?
- Gostou da surpresa? - pergunta Even descendo devagar com sua mão pelo meu estômago. Ao chegar em minha barriga passa a fazer movimentos circulares com a ponta dos dedos em volta do meu umbigo.
O som de algo que nos deixa livres/ Nós não temos dinheiro, mas possuímos tudo
_ Vá.. vá embora! - falo sem convicção. Meu corpo está rendido e meu cérebro entorpecido, mas a minha boca fala por si, já estava adestrada para afastar pessoas. Infelizmente o resto do meu corpo depõe contra mim, meus olhos fixam naqueles seus lábios carnudos. Even possui lábios suculentos, convidativos que lembram uma fruta madura pedindo para ser devorada. Vagarosamente passo a língua pelos meus lábios. Ele sorri descaradamente ao perceber o comportamento de meus olhos... e da minha língua.
- Quer me beijar, Isak? - pergunta levantando as sobrancelhas e tocando de leve minha boca.
Eu tento dizer algo, eu preciso dizer algo, escapar daquela situação absurda, mas não consigo, sigo hipnotizado por aqueles olhos, por aquela boca apetitosa... Even se aproxima e roça seus lábios delicadamente nos meus, o que me provoca arrepios por todo corpo. Mal posso acreditar que passo a buscar seus lábios, quero sim beijar aquela boca, eu nunca desejei tanto algo na vida. Ele sabe e me provoca.
"Oh, não precisamos do mundo, porque nós somos o mundo"
Depois de me torturar por um tempo, ele finalmente me beija, sinto seu gosto de hortelã, sugo aquele sabor como se fosse um elixir de vida eterna. Even passa sua língua por meus lábios e eu a recebo com avidez, beijamo-nos loucamente, seguro firmemente seu rosto, pois nem quero cogitar a possibilidade de me separar daquele beijo insano. Fico sem fôlego por uns instantes e assim sou obrigado a me afastar uns centímetros.
- Uau... você até beija bem para uma bicha. - ele zomba e me lança uma piscadela.
A palavra bicha me traz parcialmente para a realidade. Eu tento afastá-lo.
- Calma! Não vou te machucar. Só vamos fazer o que você não tem coragem de dizer em voz alta...
- O...o quê?
- Pensa que não percebi como você me olha? - Ele sussurra em meu ouvido me deixando de pau duro. - Você me quer, Isak...- Ele morde de leve o lóbulo de minha orelha.
"Você me anima
E não há nada que possa me entristecer"
Não consigo oferecer nenhuma resistência, sinto sua mão descer vagarosamente pela minha barriga, passar por meu umbigo, seguindo determinado para dentro da minha cueca. Assim que o sinto tocar em meu pau, meu corpo fica eletrificado.
- Shiuuuu... calma, só quero te mostrar uma coisa.
Even volta a me beijar. Eu retribuo violentamente, nossas línguas se entrelaçam e lá embaixo ele continua a massagear meu pau com movimentos ritmados. Já perdi a razão faz tempo, sinto que vou explodir de tanto tesão.
Você faz tudo para explodir
E não há ninguém além de você com quem eu faça isso
O que este cara estava fazendo comigo? Por que não o mando embora de verdade? Pelo contrário... estou agarrado a ele, beijando-o feito um louco enquanto habilmente ele vai me masturbando, cada vez mais rápido...cada vez mais rápido.
- Mais um pouco, mais um pouco...
Even repete isso entre um beijo e outro. Sinto um vulcão se formando abaixo da minha barriga. Se ele continuar assim, virá a qualquer momento... Foda-se... eu quero isso...quero muito tudo isso. Minha respiração acelera, agarro sua nuca e o beijo desesperadamente.
Queimação na barriga. A qualquer momento.
Movimentos loucos. Dor. Prazer. Estava chegando...
- Uau...você é muito gostoso, Isak!
"Você sabe que fará com que nossos corpos explodirão
É como voar sobre a nossa cidade"
E veio. Veio como nunca.
Não consigo controlar um grunhido alto que sai de meus lábios, um som selvagem que soa desesperado em meus próprios ouvidos, agoniado, libertador. Aperto meu corpo contra o dele, cravo minhas unhas em seu ombro.
- Não vai acontecer de novo, sabe disso, né?
Era a voz de Even longe, mas no primeiro instante não consigo juntar todas as suas palavras porque meus ouvidos ainda estão zumbindo depois do êxtase. Aos poucos as palavras vão tomando um significado. Nunca mais? Como assim? Logo agora do que acabamos de viver aqui? Abro os olhos procurando por aquele sorriso dizendo que era uma brincadeira... mas ele não está em lugar algum. Olho para baixo e ali estavam as sobras do sonho mais quente que já tive em toda vida... minha boxer encharcada. Só então percebo os últimos acordes de 5 Fine Frøkner...
"Elas ficarão sozinhas, mas nós faremos juntos"
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Ser ou Não Ser
Fiksi Penggemar"Medos, dúvidas e questionamentos. Isak é o Hamlet do século XXI, um adolescente comum que enfrenta os mesmos dramas de milhares de jovens de sua idade. No entanto, para agravar sua situação, ele passa a questionar seriamente sua sexualidade, quando...