A cada minuto ela olhava para relógio no centro da praça. Parecia inquieta. Mexia os ombros, as pernas e as mãos. Parecia nervosa. Mas porque estava nervosa? Medo de que ele não viesse? Medo de ter sido deixada para trás? Não, não. Não podia pensar nisso.
-Bom dia.
A voz do garoto alcançou seu coração, paralisando-a. Seus ombros não se mexiam mais, nem os pés ou mãos. Ele entrou normalmente na praça. Sorriso no rosto, mãos no bolso e um cabelo bagunçado (acho que está a hora de comprar um pente pra ele).
-Esperou muito? – Perguntou de maneira simpática.
-Não. – Diz a menina se levantando e negando com a cabeça.
-Que bom então.
-Bem, vamos? – O garoto virou estendo a mão em direção a uma pequena moto branca parada na calçada. – Você me disse que estava sem muita energia então eu achei isso. Não é como a minha moto, mas da pro gasto. Se andar nisso, você deve ficar bem, certo?
A garota abriu um sorriso, concordando com a ideia do garoto.
Sem muito, mas o único barulho das ruas. A pequena moto branca cruzava a cidade em um piscar de olhos. Com um capacete branco em sua cabeça, o garoto deixava seus olhos castanhos guiarem seu caminho pelas ruas sem qualquer medo. Bianca, por outro lado, usava um capacete escuro e suas mãos se seguravam no corpo do novo amigo.
-Bianca... Estamos perto.
-Perto do que...
Um azul encheu o peito da menina, chamou sua atenção e a encantou. Uau. Era realmente uma vista bela. O mar. A brisa refrescante chamava os dois a pisarem na areia da praia. Não demorou para que ele encostasse a moto e tirasse o capacete seu e o dela.
-Vai lá. – Diz o menino de forma sorridente.
Era como ver uma criança correndo livre. Armada de um sorriso brilhante, Bianca corria descalça na areia branca, deixando várias pegadas de seus pequenos pés macios. De forma tranquila, o jovem de cabelos escuros apenas assistia sua amiga brincar na areia com um olhar fixo no curto cabelo escuro da moça que dançava com a brisa da praia. É mais lindo do que poético, pensou o menino vendo Bianca apanhar uma pequena concha na areia.
Pássaros voavam sobre as águas do mar. As nuvens já se movimentavam em direção ao horizonte. O céu poderia estar em qualquer uma das infinitas cores do universo, que aquele garoto reconheceria um pôr do sol. Eles sentaram na areia da praia e conversaram por algumas horas. Naquele ponto já haviam deixado toda a timidez de lado, trocando olhares e sorrisos puros.
A noite caía ao passo em que os dois conversavam. Ele falou bastante sobre ele. Infância, emprego, escola. Um mundo fantástico de heróis e vilões que ele entrou de repente. O garoto ruim em tudo, foi sempre assim. Por isso recebeu esse apelido de Zero. Era assim que se apresentava.
As estrelas começaram a colorir o céu com o mesmo tom cinza que a cidade tinha. No meio da escuridão da praia, os dois brincavam com dois palitos que liberavam faíscas luminosas. Um palito para cada mão em uma dança cheia de luz. Os olhos castanhos de Zero encontravam os de Bianca. Seu sorriso inocente se encontrava com o dela. Está ficando tarde, pensou o menino vendo as últimas faíscas desaparecendo no ar dando o fim da vida útil daqueles palitinhos.
Recolheram o lixo e voltaram para a pequena moto branca que estava parada no mesmo lugar que haviam deixado. Colocaram os capacetes sem pressa alguma, procurando estender cada vez mais aquele dia. Ele se sentou e ligou a moto esperando apenas os braços de Bianca abraçarem seu corpo para que ele pudesse dar a partida.
A brisa fria da noite fazia o cabelo escuro dos dois balançar de forma livre durante todo o trajeto casa. Bianca não conseguia esconder o cansaço, em alguns trechos chegava até a encostar a cabeça nas costas quentes de Zero que chamava sua atenção pedindo para que não dormisse na moto e esperasse só um pouco que já deixaria ela em casa.
Pararam na entrada da praça. Parou a moto e esperou que sua amiga descesse. Ela bocejava, causando um tímido sorriso na expressão do rapaz que a deixava tão sem graça. Levantou apenas para ajudar a menina a tirar o capacete que o mesmo prendeu no braço direito.
-Então cuide-se na volta. – Despediu-se sem cerimônia.
-Eu vou. Obrigada por hoje. – Agradeceu de maneira gentil. – Você também deve tomar cuidado, Zero.
-Sempre. – Brincou o menino voltando a moto.
Se virou e partiu, deixando o garoto de cabelos escuros sozinho sentado em sua moto branca.
-Irmão.
O corpo de Magic reaparece ao lado do jovem herói que se assusta levando suas mãos ao capacete.
-Você de novo? – Diz o garoto tentando passar uma sensação de tranquilidade.
Algo estava diferente na garota e ele sabia o que era. Tristeza. Ele mais do ninguém sabia reconhecer aquele sentimento. Já havia o sentido várias vezes a ponto de ser quase um especialista nisso. O garoto mais feliz da turma era especialista em tristeza? Ninguém conhece mais esse sentimento do que aqueles que vivem sorrindo, era o que ele sempre dizia a Magic quando ficava tristonho.
...
O tempo passava devagar quando não se tinha nada para fazer. Passava ainda mais devagar quando se tinha algo para pensar. Algo para manter em mente. Algo que ele não conseguia não pensar. Curvava seu corpo para frente deixando a luz do poste o seu lado iluminar parte de rosto.
Dzzzzzzzz
O celular vibrou no bolso direito de sua jaqueta azul. Pegou o celular e verificou a mensagem sem muito ânimo. Não sabia se lia a mensagem ou se apenas passava o olho por cima, afinal, já sabia do que se tratava. Leu, desligou e abaixou a cabeça. Já estava fardo daquele dia.
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Primeiro Amor
RomanceEle é um aprendiz de herói promissor em seu primeiro ano, ela é uma jovem estudante normal e, por algum motivos, ambos estavam a sós em uma cidade sem cor. Zero e Bianca se conheceram em meio aqueles dias repetitivos sem saber o que cada um deveria...