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Capitulo Cinco

Travis

Insisti em ficar para trás quando os tios de Ravenna chamaram para subir. Não porque eu estava confortável, mas porque eu simplesmente não sentia a necessidade de dormir. Minha cabeça e seus pensamentos percorriam por todo canto, questionamentos e possíveis respostas.

Suspirei mentalmente exausto.  Talvez fosse melhor deitar mesmo. Mesmo que eu tenha que me revirar à noite toda para pegar no sono.

Já estava prestes a levantar quando me lembrei das pernas de Ravenna no meu colo. A opção de deixar ela no sofá não passou pela minha cabeça ao levantar ela nos braços. O sofá definitivamente não parecia o lugar mais confortável para passar a noite, e mesmo com as nossas diferenças, sua aparência cansada me fez a poupar do sofrimento.

Com ela no colo, e de forma bastante cuidadosa, subi as escadas. Como reflexo, ela se acomodou, se aconchegando, escondendo o rosto no meu ombro. Seu hálito quente que batia no meu pescoço fez um arrepio percorrer o meu corpo e me contive para não a deixar ali no chão. Ela estava me fazendo sentir estranho por estar tão próxima. Mão suadas, atenção mínima, barriga embrulhando. Deve ser apenas um vírus. Né?

Levei a até uma porta que tinha uma placa escrita “Enna” na frente, assumi que fosse a moça em meus braços e entrei.

As paredes pretas deixavam tudo mais escuro ainda, além de dificultar o percurso até a cama. A luz da lua que invadia pela janela refletiu sobre os lençóis brancos, chamando a minha atenção. Bem devagar, coloquei a sobre a cama, levantando o cobertor até os seus ombros.

Seu cabelo escuro caiu sobre os seus olhos, fazendo me colocar a mecha delicadamente atrás de sua orelha. Eu não sei o que me possuiu para agir de tal maneira, já que não somos nada remotamente próximos a amigos. Assustado comigo mesmo, virei-me para sair. Porém, algo me puxou para trás quando já estava prestes a escapar.

Com olhos arregalados, olhei por cima do meu ombro, encontrando uma Ravenna sonambula.

            - Fica comigo.

Minha boca imediatamente secou.

            - Eu não posso.

            - Eu não quero ficar sozinha. – Seus olhos lacrimejaram e deitei-me antes que ela pudesse começar a chorar de verdade.

            - Por que você não quer ficar sozinha? – Questionei.

Ela deitou-se virada para mim. Seus lábios semicerrados, sua respiração lenta e pesada. Pensei que ela não fosse me responder mais e preparei-me para cair no sono também, um cansaço inexplicável caindo sobre mim.

            - Eu nunca quero ficar sozinha.

Pode ter sido imaginação minha, mas juro que foram essas palavras que escaparam de seus lábios rosados.

-x-x-x-

A cama estava vazia quando eu acordei. Vazia de uma forma literal e de um jeito que me fez sentir que a falta da Ravenna ali não era normal.

Esfreguei os olhos, na tentativa de espantar todo sono que me restava. A minha noite tinha sido a minha melhor de sono há muito tempo. E isso era algo do qual eu não esperava. Droga, eu nem planejava passar a noite aqui.

Ao sentar na beirada da cama, preparando-me para levantar, a porta do banheiro abruptamente abriu, surpreendendo-me. A menina de cabelo desarrumado, olhos vermelhos e inchados e roupa de dormir amarrotada tirou-me o fôlego.

Ravenna continuou o seu percurso e se sentou do meu lado, mexendo os dedos de forma ansiosa.

- Porque você ficou?

Minha boca se abriu inúmeras vezes enquanto eu tentava produzir alguma explicação que não me faria parecer um idiota em geral.

            - Eu... Sinto muito.

Sim, terrivelmente patético.

            - Você não me respondeu Travis.

            - Você me pediu e parecia prestes a chorar, então fiquei.

Ela me olhou nos olhos e só ali vi que ela estava recentemente chorando. Meu coração doeu com a vista e já ia perguntar por que estava de tal forma quando ela se levantou e caminhou até o guarda-roupa dela.

            - Da próxima vez, é só me deixar aqui.

Com uma troca de roupas em mãos, e de costas para mim, escapou para o banheiro e bateu a porta. Pondo um fim na nossa conversa.

Frustrado, levantei da cama e sai do quarto. Não tinha uma troca de roupa guardada, então teria que me conformar com o que vestia. Entre pensamentos, não percebi o jovem no corredor e acabamos nos esbarrando.

            - Sinto muito. – Sussurrei, continuando o meu caminho.

Isso é; até ser puxado pelo braço e empurrado contra a parede.

            - O que você estava fazendo no quarto da minha prima?

Seus olhos estavam semicerrados e seu tom era ameaçador. Mas, não teve nenhum efeito sobre mim. Estava irritado comigo mesmo e com a reação de Ravenna com tudo isso, apesar de não ter culpa. Droga, nos meus olhos, nada era culpa daquela menina.

            - Eu também quero saber. – Ri ironicamente.

Ele me soltou após me analisar um pouco. Suspirando, ele ajeitou a minha gola que fora amassada por sua brutalidade.

            - Desculpa, sou o Henry. E peço desculpas pela minha prima... Enna pode dar trabalho às vezes, mas é uma boa menina.

            - Sua prima?

Ele assentiu. Não disse nada, apenas me entregou uma sacola. Com uma sobrancelha erguida, abri a mesma e encontrei algumas peças de roupas.

            - Você sabia que eu estava aqui? – Questionei.

            - Sim, mas não que tinha passado a noite no quarto da minha priminha. – Ele piscou.

Ri e sacudi a cabeça – Não precisa se preocupar, não aconteceu nada.

Ele me encarou e logo assentiu.

            - Eu acredito em você. Não cheira a sexo.

Minhas bochechas se coram e escapei até o banheiro social, apenas os risos de Henry se restando.

Rapidamente me vesti; feliz por estar livre da roupa usada. Observei-me no espelho por um momento, logo lavando o rosto com a água gelada da pia.

Sair do conforto do pequeno banheiro e direcionei-me ao corredor largo. As escadas estavam a minha frente, mas uma voz impediu-me de descer as mesmas.

Lentamente virei, dando de cara com a Ravenna. Ela ainda parecia em estado frágil e antes que eu pudesse me restringir, dei dois passos a frente e a envolvei em meus braços.

Sua reação foi um pouco demorada, mas ela logo me abraçou de volta. Senti os seus ombros sacudirem e minha camiseta limpa ficar úmida.

Não sabia o motivo de tanta tristeza, mas sabia que faria de tudo para diminuir lá. Também não sabia por que tanta devoção a uma pessoa que obviamente não se importava comigo, mas queria descobrir. E era o que eu ia fazer. 

Redenção - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora