Capitulo Dois
Ravenna
Acordar nunca foi melhor, ainda mais depois que eu percebi onde estava. Na segurança da minha casa, um pequeno lote localizado nas extremidades da cidade, beirando nos desertos de Califórnia. Suspirei ao puxar o meu cabelo para trás, lembranças de ontem à noite retornando a minha cabeça.
Meu trabalho não era algo do qual eu me orgulho, mas tinha que ser feito, e se participar de uma máfia fosse evitar a minha morte, eu não me importava.
Meus pés caíram sobre o chão gelado ao pular da cama, o barulho sendo o único que se escutava por perto. Como de costume, eu peguei a pequena faca que mantinha dentro da cômoda e o coloquei no bolso de trás da minha calça de pijama.
Dei mais alguns passos para fora do meu quarto e deixei com que os meus pés me levasse até o quatro de hóspedes. Quando meu olhar não se deparou com a pessoa que era para estar na cama, obriguei-me a ficar calma.
A faca agora estava em minhas mãos enquanto eu descia as escadas de madeira o mais rápido que conseguia sem fazer sequer um barulho. Mantendo as costas contra a parede, me direcionei até a sala, espiando pelo canto para ver se encontrava alguém.
- O que você está fazendo?
O sussurro era próximo ao meu ouvido, e como reflexo, girei e mirei a faca no pescoço do intruso.
A pessoa agarrou a mão em que faca estava antes que ela pudesse perfurar a sua garganta. Quando a minha visão finalmente ficou clara e minha adrenalina drasticamente abaixou, vi que a minha vitima era o Travis.
Suspirei, aliviada por não ter feito algo do qual me arrependeria depois.
- Nunca mais me pega de surpresa. – Eu disse ofegante.
Ele também estava chocado. Parecia surpreso pelo fato de que eu carregava uma faca cedo de manhã e também por que ele poderia ter morrido naquele instante. Graças aos seus reflexos, ele estava vivo. Ele finalmente expirou e se apoiou contra a parede.
- Já é a segunda vez que eu quase morro. – Ele disse para si mesmo.
- E ambas às vezes foram culpas suas. – Retruquei, sabendo que estava certa.
Não esperei por uma resposta e fiz caminho até a cozinha, retirando do armário a torradeira.
Sem questionar a sua preferencia de café de manhã, comecei a fazer o que sempre comia numa rotina diária. Ou seja, quando eu não estava ocupada matando pessoas pela minha salvação. A torrada com suco de laranja era a única coisa remotamente fixa na minha vida. Por mais patético e triste isso seja, era algo confortante a se voltar para. Nada melhor do que afogar a consciência pesada na comida.
Travis apenas sentou-se à mesa, me esperando terminar o café da manhã. Imaginei que, como um cavalheiro, ele até me ajudaria, mas não duvidava que ele pensava que eu não merceia. Não merecia muita coisa. E mesmo assim, seria bem provável que eu recusasse ou o acusasse de tentar botar fogo em minha casa caso algo de errado acontecesse.
Em apenas alguns minutos, coloquei o seu prato a sua frente e sentei na cadeira paralela a ele.
- Quantos anos você tem? – Eu perguntei.
Travis hesitou antes de responder, mas disse – Vinte. E você?
- Dezenove.
Ele assentiu e tentou se focar em comer a sua torrada, mas eu ainda estava curiosa em relação ao garoto a minha frente.
- Qual é o seu nome todo?
Ele levantou os olhos surpresos, - Travis Wilder.
Ele parecia não saber bem por que respondeu, talvez fosse o jeito que eu o encarava, ou o fato de que eu estava com uma faca em meu bolso e poderia mata-lo a qualquer minuto. Mas, ainda assim, parecia não saber o porquê de sua submissão a mim.
Acabei dando de ombros e peguei o meu prato vazio e o coloquei dentro da pia.
- Ultimo a sair da cozinha lava os pratos. – Eu disse, quase cantando.
Ele foi deixando a sós. Eu só não sabia que era tudo que ele mais queria no momento.
-x-x-x-
Trajando a mesma blusa branca e jaqueta de couro em que o Travis me viu pela primeira vez – exceto esses não estão sujos de sangue – virei à esquina e sai pela porta, sem dar a ele a chance de responder ao meu chamado.
Então, apressadamente, ele desligou a TV e saiu correndo atrás de mim.
- Aonde vai? – Ele questionou, me observando subir em minha moto.
- Passear.
Ele revirou os olhos, irritado pela falta de informações. Mas nós dois sabíamos; que sobe nenhuma circunstancia ficaria sozinho na casa, então resolveu não perguntar mais e apenas subiu na moto.
A viagem pela estrada continua de terra parecia durar horas, quando na realidade, levou só alguns minutos. Chegamos à outra casa, muito parecida com a minha. Ele não perdeu o seu tempo perguntando sobre o dono, já sabendo que não receberia uma resposta concreta.
Subimos os poucos degraus e quando chegamos à porta principal, eu levantei o punho e bati três vezes em sequência, adicionando mais um único toque no final.
- É algum tipo de toque secreto? – Travis interrogou.
- Shh.
Ele deu de ombros e logo a porta foi aberta por uma mulher de meia idade.
- Enna! Meu amor, como você está? A transição... Ocorreu tudo certo?
O sorriso que estava no meu rosto ao ver a mulher desapareceu assim que o assunto da transição chegou.
- Não, tia. Quer saber por quê? Pergunta a ele. – Obviamente aborrecida, passei direto pela minha tia e segui caminho para dentro da casa.
Ele foi deixado lá sem saber o que fazer; a mulher tão perdida quanto o garoto.
- Vamos, pode entrar, sou a Susie. – Ela sorriu.
- Travis. Você é tia da Ravenna?
- Sou sim, e você é o namorado dela?
Suas bochechas coram e ele ficou sem jeito. Respondendo com um simples não, a moça pediu desculpas no meu nome e pediu para que ele explicasse a situação melhor.
Então, foi o que ele fez. Dês do começo.
Ela parecia mais chocada do que chateada que a tal transição não ocorreu sucessivamente, mas não depositou a culpa sobre os ombros de Travis totalmente. Ele sim, se culpava parcialmente, mas era orgulhoso demais para admitir isso para alguém que mal conhecia, ou também a alguém que o trata mal desde momento em que se conheceram. Cof cof eu.
- Vamos, acho que iremos precisar de você. – Susie disse, surpreendendo o.
- Por quê? Eu não sei atirar, e sei somente o mínimo de karaté e isso é de quando eu tinha apenas doze anos – Ele tagarelou.
- Isso se aprende, mas acho melhor do que ficar fugindo de uma gangue pelo resto de sua vida e possivelmente morrer uma morte dolorosa e tortuosa. – Ela racionou com um sorriso simpático, as palavras soando como uma cena normal que acontece todo dia.
Travis estava horrorizado e não sabia bem o que fazer, mas algo o disse que era melhor descer as escadas que Susie o levou até, a mesma em que momentos antes eu percorri.
- Tudo bem. – Ele engoliu em seco.
Mal sabia da aventura que fosse enfrentar.
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Redenção - Vol. 1
Misterio / Suspenso"Sou o Travis." "Ravenna. Eu diria que é o meu prazer... Mas não é." A história de um garoto que não conhecia corrupção e de uma garota que era a definição da palavra.