- Cara... Eu não acredito que tem biologia hoje...- Bufei, frustado. Não bastasse as duas aulas de matemática que tive que ver logo no começo das aulas, ainda tinha mais essa para me infernizar.Frank me acompanhou até a segunda sala que ficava a aula e sentou se perto de mim. Bem, eu poderia dizer que me senti até calmo quando Frank puxou alguns assuntos sobre bandas de rock, que pra ser sincero, Gerard não poderia ter escolhido o melhor namorado, porque ele realmente sabia tudo sobre bandas e shows e isso me ajudou a me distrair. Até que ouço o sinal que indicava que as aulas iriam começar e uma mulher com roupas formais entrasse na sala. Suspirei fundo e voltei a minha atenção para a frente. A professora Ana começou. Seu semblante era sério, o que me dava um pouco de medo.
- Bem, alunos... Como vocês devem saber, semana passada houve um atentado hediondo em uma escola de Newark, onde infelizmente, houve muitas vítimas. Fora que o prédio acabou sendo danificado pelo incêndio... E então, a pedido do governo, alguns alunos para não perder o ano letivo, foram transferidos para cá, em Belleville School e ...
A professora é interrompida por uma pessoa que acabara de adentrar a sala.
O cara que entrou estava distraído com fones de ouvidos e retirou imediatamente quando já estava dentro da sala de aula. Era aquele cabeludo que havia visto no refeitório algumas horas antes.
- Desculpe pelo atraso, professora...é meu primeiro dia de aula aqui... E eu tava meio perdido...
- Tudo bem, eu já estava esperando por você... Bom turma, este é Raymond Toro, um dos alunos que sobreviveram ao atentado...- A professora se virou para ele- Eu sinto muito pelo que houve...
- Tudo bem... E por favor, só me chame de Ray, tá?- O cara alto respondeu de forma seca e rapidamente foi se sentar nas últimas carteiras da sala.
A aula continuou sem anormalidades. Com a diferença de que eu não entendia absolutamente nada da matéria. Escuto um barulho do celular. Pego o aparelho enquanto a professora estava distraidamente escrevendo algo no quadro negro e olho a caixa de mensagens. Era Alícia. Meus Deus, só agora era que ela queria falar comigo? Na mensagem dizia que éramos para nos encontrarmos no ginásio do colégio depois da aula. Respondi confirmando o encontro. Finalmente eu poderia tirar satisfações sobre o nosso relacionamento.
Guardo de volta o celular e dou uma olhada ao redor da sala. A maioria dos alunos estavam ora escrevendo algo no caderno, ou mexendo no celular. Olhei para trás e enxerguei aquele tal de Ray sentado quase na última carteira, perto da janela. Ele estava olhando para alguma coisa do lado de fora de forma concentrada, com fones de ouvido.
Para minha surpresa, ele vira o rosto e olha na minha direção. Rapidamente me viro. Mas sinto meu rosto esquentar estranhamente. Tento me distrair novamente, dessa vez, tentando me concentrar na aula.
***
Apresso os passos. Minha ansiedade estava me matando. Tive de matar uma aula, mas isso eu reponho depois. Agora eu precisava conversar com a Alícia.
Entro no ginásio de basquete e procuro por ela e sorrio ao vê-la. Ela estava de moletom, com uma touca azul na cabeça, sentada no último degrau da arquibancada. Ela estava linda. A cada passo que eu dava meu coração dava palpitações. Subo até ela e fico na sua frente. Honestamente, eu estava com saudades dela. Fico na sua frente e tento beija-la, mas assim que ela percebe a ação, acaba desviando o rosto. Estranho a sua atitude, mas tento ignorar e ir direto ao assunto.
- E então... Sobre o que você queria falar comigo?- Pergunto a Alícia, que retira um dos fones que estava em seu ouvido. Estava sentada nas escadarias da quadra. Eu havia combinado de ver ela no ginásio no final da aula, mas estranhamente ela queria adiantar logo a conversa. Seja lá do que fosse, eu estava tentando me preparar para o pior.
- Mikey... Eu vou ser bem sincera... Acho que nós dois...- Ela pausava, parecia tentar escolher as palavras certas. Sua expressão parecia triste.- Mikey, sinto muito, mas acho que nós dois temos que terminar.
Imediatamente sinto um baque ao ouvir estas palavras. Um nó na garganta parecia me sufocar. Eu gostava muito dela.
- Alícia... Nós estamos há quase três anos de namoro... Porque você quer terminar? Olha, eu fiz alguma coisa errada?
- Não é isso, é que... Você è um cara muito legal, gentil, lindo- Ela deu um sorriso simples.- Mas... Eu vou me mudar de Belleville.
- Alícia...- Sinto um leve alívio ao ouvir aquilo.- Porque você não me falou isso antes? Não precisamos terminar meu amor, olha, se quiser, eu posso te visitar sempre e...
- Mikey, acho que você não entendeu... Eu vou me mudar de Belleville, direto para Londres... Meu pai conseguiu uma bolsa de estudos pra mim... É uma oportunidade única pra mim- Alícia completou, me deixando ainda mais abalado.
- Amor... Nós não podemos terminar... Eu gosto muito de você. Olha, a gente pode ficar conversando por webcam... Não precisa ser assim...
- Mikey... Não dá, é sério. Sabe que isso não funciona na prática... É melhor pararmos por aqui - Seus olhos estavam cristalinos, tentando segurar o choro, sua voz estava embargada.- Foi bom enquanto durou, mas eu vou embora amanhã mesmo... Me desculpe...- Alícia se levanta, pegando a sua mochila e desceu as arquibancadas rapidamente, tento alcançar, porém, ela para imediatamente.
- Mikey... Por favor... Não vem atrás de mim... Vai ser pior... Adeus...
- Alícia! Por favor, espere...- Tento alcança-la, mas ela acaba saindo pela porta de saída do ginásio, desaparecendo do meu campo de visão. Meu coração já estava dolorido. Eu não acredito que ela terminou comigo. Porque ela não conversou comigo sobre a mudança? Me sinto tão péssimo. Eu acho que não devo ter sido um bom namorado, acho que ela deve ter se cansado mesmo de mim. É, pelo visto vou ficar sozinho pelo resto do ano.
***
Fito o chão. Eu nem tava com cabeça pra voltar a última aula. Depois dessa conversa - que não imaginava ser a última que teria com ela - eu fiquei tão desanimado, que a vontade era de sumir de vez. Sinto algo vibrar no meu bolso do moletom. Enxugo algumas lágrimas que ainda insistiam em cair do meu rosto e tento olhar a tela do celular. Era Frank, me avisando para voltar a aula, pois a professora iria fazer uma atividade que valeria ponto. Ótimo.
Me levanto e desço as escadas. Por mais chato que seja a situação, pelo menos a aula poderia me distrair um pouco do que aconteceu há alguns minutos atrás. Mas só um pouco.
Caminho até os corredores. Estão totalmente vazios, o que significava que eu poderia me foder se algum supervisor me flagrar do lado de fora do horário de aula. Caminho rápido até tentar encontrar a sala. Faltava só mais alguns metros quando sinto uma repentina falta de ar. Merda. A crise de asma me atacaria justo agora? Só faltava esta!
Retorno para o corredor, agora tentando achar o armário onde ficava a bombinha de ar. A minha respiração estava ficando cada vez mais sufocante. Me apoio nas paredes, tentando alcançar meu armário. Eu deveria me lembrar sempre de levar essa bombinha comigo, mas agora é um pouco tarde para arrependimentos. Chego, enfim, até o meu armário e procuro desesperadamente pelo remédio. A minha visão estava cada vez mais turva. Quando finalmente enxergo o remédio, acabo pegando e levo a bombinha de asma na minha boca. Mas quando tento apertar a válvula, ela acaba travando.
- Merda!- Tento apertar várias vezes, mas a válvula estava dura. Tento olhar ao redor mas em um instante em que dou alguns passos, sinto uma forte tontura e acabo me desequilibrando, indo de cara ao chão. É isso. Eu vou morrer pela minha burrice.
Tento gritar por ajuda, mas minha garganta estava se fechando cada vez mais. E a minha visão dica cada vez mais escura devido a falta de oxigênio para o cérebro. Viro o meu rosto para a direção da sala onde eu iria estudar.
De repente, consigo ver uma silhueta alta demais para ser o Frank. A última coisa que me lembro era que essa pessoa se aproximou de mim. Ele gritou por ajuda, mas sua voz parecia muito longe para mim. Minha última visão foi do seu rosto e dos seus cabelos afros. E então, tudo ficou escuro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Corrupted Angel
Mystery / ThrillerMikey estuda em um colégio renomado em Belleville, e leva uma vida completamente normal, com amigos e até uma namorada. Mas a chegada de um dos alunos que sobreviveram a um trágico atentado na escola anterior, acaba chamando a atenção de muitos, o q...