Asmático

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Acordei de sobressalto.
Uma luz forte bateu no meu rosto, quase me cegando. Demoro alguns minutos parado até meu cérebro processar onde eu estou.
Era uma sala pequena e branca. Levo as mãos ao meu rosto na tentativa de me proteger da forte luz quando sinto um objeto no meu rosto. Tateio até descobrir o que é. Uma máscara de oxigênio. Mas que porra estava acontecendo? Tento me lembrar de alguma coisa mas minhas  memórias estavam muito falhas. Acabo ouvindo algumas vozes detrás da porta azul. Pude reconhecer uma delas.
– E então doutora... Como ele tá?
– Ele ainda está desacordado. Mas ele já foi medicado.
– Aí meu Deus... Eu falei pra ele nunca esquecer essa porcaria da bombinha no armário... Mas ele é teimoso...
Reviro os olhos. Se eu conheço meu irmão, ele com certeza irá me dar a bronca do século, do jeito que ele é dramático. Ouço um clique e logo em seguida, Gerard entra com uma mulher toda de branco que sugiro ser uma médica, e atrás dele, Frank. Ambos pareciam preocupados. Antes que eu tentasse fechar os olhos na tentativa de fingir que ainda estava dormindo, Gerard acaba me vendo primeiro e veio correndo na minha direção.
– Mikey... Ai graças aos céus que você está vivo!– Gerard me dá um forte abraço, e fico até aliviado por ele não estar tão bravo assim. Mas essa sensação durou pouco depois que ele desfez o abraço e acabou me dando um tapa detrás da minha cabeça, que doeu.
– Ai! Qual é Gee? Eu ainda tô acamado! Não pode me bater assim...
– Isso é pela sua falta de noção! Que história é essa de que você matou a aula? E ainda passou mal no corredor? Frank me contou tudo.
Olho por detrás do Gerard, fuzilando Frank com o olhar.
– O que foi? Você tava desmaiado, você queria que eu fizesse o quê?– Frank se defendeu .– E depois, não fui eu que te socorreu...
– Não foi?
– Não.  Na verdade o seu salvador foi aquele cabeludo novato da sala, o tal do Ray. Ele até te carregou no colo... O que achei bem romântico.
Mostro o dedo médio para Frank, que se abre na gargalhada junto com Gerard.
– Desculpe eu interromper a conversa de vocês mas... Eu preciso verificar o paciente...– disse a médica, com gentileza.
– Ah, sim. Desculpe, é que eu estava preocupado com meu irmão...
– Tão preocupado que até me deu um tapa...– Gerard me olha feio, mas não me importo. Eu só queria sair dali e esfriar a minha cabeça e tentar esquecer o dia de hoje.
– Bem... Você está sentindo mais alguma coisa?– A doutora indagou, enquanto examinava a minha pressão.– Está com alguma tontura ou falta de ar?
– Não, eu já estou melhor agora... Já posso ir?
– Hum... A sua pressão está normal... Bem, não vejo problemas em libera-lo... Só espere alguns instantes aqui. Vou fazer um receituário para você comprar um outro tipo de remédio pra asma e também vou chamar um enfermeiro para retirar sua máscara de oxigênio. Volto logo.
Assim que a médica sai da sala, fico mais alguns minutos conversando com os meninos até a chegada de um enfermeiro, que retirou a minha máscara e me deu um receituário com um novo medicamento, para tratar a doença em casa. Também me dá um atestado para levar para a escola para justificar a sua falta nas suas últimas aulas de hoje. Bom, você já está liberado.
Me levanto da cama com a ajuda de Gerard e Frank. Fico um pouco tonto ao ficar de pé, mas acho que deve ser só fome mesmo. Gerard pega o receituário médico e logo em seguida saímos do hospital. Fiquei impressionado que já era de noite. Eu fiquei em coma há tanto tempo assim?
                           ***
– E então... Como foi a escola?
– Péssimo... Eu queria esquecer o dia de hoje...
– Hum... Sei...– Gerard me olhou de lado. Havia poucos minutos que chegamos em casa. Gerard havia corrido direto para a cozinha preparar uma sopa light que só ele sabia fazer, toda vez que eu ficava doente. Quer dizer, não que eu fosse uma pessoa doente o tempo todo, mas Gerard tinha uma preocupação exagerada só pelo fato de eu ser asmático e ser um pouco mais magro que o normal, o que ele achasse que qualquer rajada de vento que me pegasse, eu quebraria ao meio, por exemplo.
– Você tem certeza de que está tudo bem? Porque você matou a aula hoje?
– Eu... Fui me encontrar com a Alícia...–  Respondi, enquanto remexia o prato de sopa que meu irmão havia feito para mim.
– E como foi a conversa de vocês?
– Ela... terminou comigo– Digo, sem cerimônias, olho para Gerard e ele tinha uma expressão engraçada de surpresa.
– Nossa eu... Eu sinto muito Mikey... Você deve estar arrasado agora...
– Tudo bem... Eu vou superar mais essa...
– Mas ela disse pelo menos o porquê?
– Ela disse que iria se mudar para Londres por causa de uma bolsa de estudos amanhã... E ela disse que o melhor era que a gente não ficasse mais juntos...–
Respondi. As lembranças do seu rosto triste e da sua frase mexeu comigo de uma forma muito forte. Acho que nem umas mil facadas no peito doeria tanto quanto ver ela ir embora sem se despedir. Logo quando eu estava disposto a lutar para ficarmos juntos, agora é meio tarde demais para isso. Infelizmente, eu não vou superar tão cedo.
– Bem... Quem vai acabar perdendo no final é ela, por terminar com o cara mais legal que já conheci na vida...– Gerard deu um sorriso de consolo, o que me confortou um pouco.
– Obrigado... Bom, eu já vou indo pra cama, tô exausto.
– Mas você não vai terminar de comer a sopa? Deu trabalho...– Reclamou enquanto apontava para o prato.
– Tá bom... – Revirei os olhos– Depois de terminar isso aqui eu vou deitar, pode ser?
Depois de terminar a sopa, fui direto para o quarto, onde tomei um belo banho, e depois vesti as minhas roupas pra dormir e logo em seguida me joguei na cama. Não demorou muito para eu pegar no sono.
                            ***
No dia seguinte, acordei um pouco mais disposto. Fui ao banheiro para me arrumar para mais um dia de aula. Olhei para a minha aparência no espelho. Ao contrário do meu irmão, eu era um pouco mais magro, não tinha o nariz afinilado como o dele, mas não deixava de ser bonito, bom eu pelo menos me achava mediano. A única coisa que eu gostava era dos meus olhos, que eram verdes, porém, no olho esquerdo tem uma pequena mancha castanha acima da íris. Era o meu diferencial.
Após tomar um banho e me arrumar, desci as escadas e tomei o meu café, Gerard até se surpreendeu com a minha disposição hoje. Sinceramente até eu estou assustado. Terminado o café da manhã, fomos direto para o carro e seguimos rumo a escola.
Não demoramos muito para chegar no colégio. Me despeço de Gerard, que vai direto pra faculdade e caminho em direção a entrada. Hoje eu vou falar com aquele Ray. O cara praticamente salvou a minha vida. Eu acho que devo no mínimo agradecer ele por isso. Vou andando pelos corredores. Faltava alguns minutos para a aula de Inglês. Entrei na sala e esperei o sinal tocar. Frank, Brendon e mais um outro conhecido entram quase juntos na sala e me cumprimentam. Logo perguntam como eu estava e em poucos minutos, já estávamos conversando sobre outra coisa. Nem vi a hora em que o professor entrou na sala e mandou todo mundo sentar nos seus lugares. Olhei para todos os lados. Nenhum sinal de Ray. Talvez agora ele estivesse pego outra aula. Depois eu procuro ele.
                            ***
O sinal tocou, indicando a hora do intervalo. Me levanto da carteira, e olho para trás. Eu não vi o Ray a aula toda. Suspiro enquanto me preparo para sair da sala. Talvez eu consiga falar com ele pelos corredores.
Frank me convida para irmos juntos ao refeitório, mas acabo recusando, com a desculpa de ir ao banheiro antes, ele e Brendon acabam indo na frente. Fico andando pelo corredor alguns segundos, até a direção do banheiro. Mas quando chego lá, um cara estava bem na frente, com a porta fechada atrás dele. Parecia que estava de vigia. Me escondi no canto do corredor. O cara com um penteado moicano saiu da frente da porta e logo em seguida, mais três caras saíram do banheiro. Ambos mantinham uma expressão vitoriosa e zombeteira no rosto. Um deles, que reconheci como Joe, um dos caras do time de futebol americano da escola, ainda se virou para trás, na direção do banheiro.
– Isso é um presente de boas vindas pra você, seu latino de merda!
Os outros amigos que estavam com ele riram em conjunto. Fiquei alguns segundos escondido detrás da esquina do corredor até ver eles entrarem em uma porta larga que dava acesso ao refeitório. Com passos lentos, fui andando em direção ao banheiro. Seja lá quem estivesse lá dentro, deve ter comprado uma briga muito grande. Mas ao adentrar o banheiro, tive que conter um grito horrorizado. Ray estava sentado com as costas apoiada nas paredes. Sua mochila estava totalmente revirada. Mas seu rosto, estava muito ferido. Parecia desacordado. Inexplicavelmente senti uma dor incompleto da no meu peito ao ver ele naquele estado.

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