– Frank! Vem aqui rápido!– Liguei desesperado.
Eu não sabia o que fazer. Ray estava desmaiado e com um corte pequeno na têmpora direita, mas que sangrava.
– Tá Mikey, o que houve, onde você tá?
– Eu tô aqui no banheiro do corredor. Ray tá desmaiado e preciso da sua ajuda...
– Ray tá o quê? Olha, eu não sei o que você aprontou mas eu já estou indo aí– Ouvi Frank desligar a chamada. Coloquei o telefone de volta no bolso do moletom escuro e voltei a minha atenção ao cara desacordado na minha frente. Meu coração estava perigosamente acelerado. Eu não sabia o que fazer nessas horas. Eu mal consegui me socorrer ontem, imagina tentar socorrer alguém? Me ajoelho e tento verificar onde mais ele havia sido ferido. Além do corte na cabeça, havia um hematoma que estava começando a ficar arroxeado na região dos olhos. Também havia um machucado no canto da boca. É, estava bastante detonado. Me perguntei por alguns segundos o que esse novato havia feito de tão grave para levar uma surra daquelas pelos jogadores do time do colégio? Se bem que, conhecendo a reputação dos "valentões machos e populares" do time da escola, qualquer um que se opusesse a eles, iria se dar mal. Mas Ray era novato. Não, ele não iria levar essa surra de graça. A não ser que ele fosse o alvo novo daqueles caras, principalmente do Joe, o líder deles. Mas todas essas perguntas eu deixaria pra depois. Agora terei que me concentrar em ajudar ele.
Olhei ao redor. A mochila dele estava toda revirada e os livros estavam espalhados. Sorte que os caras não jogaram seus livros na privada. Fui pegando cada um e colocando na sua mochila preta. Assim que terminei, fechei a mochila e esperei pelo Frank, que estava demorando demais. Quando eu fui colocar a mochila do seu lado, percebi que havia faltado um livro, que estava no lado de Ray, mas esse era diferente dos demais, que eram didáticos. Esse era de capa preta, parecia mais um diário, pois era de porte médio. Mas o que chamou minha atenção era o desenho na capa. Parecia uma espécie de símbolo, de cor dourada. Fui pegar o livro. Certo. Eu sei que isso era errado, mexer aquilo que não era da minha conta, mas eu estava curioso demais. Me aproximei mais um pouco para pegar o livro quando uma mão me impediu de imediato, agarrando meu pulso.
– Nem... Pense...– Ray alertou. Seus olhos estavam vidrados na minha direção, parecia receoso. Senti um calafrio inexplicável percorrer meu corpo.
– De-desculpe... É que... Você tava desmaiado e... Cara, você tá bem?
– O que você acha?– Revirou os olhos e pegou o livro preto e guardou na mochila. Parecia irritado.
– Desculpa... Eu só tava tentando te ajudar... Você estava desmaiado aqui e...
– Olha, tudo bem, não precisa se preocupar... Tô bem...
– Bem fodido você quis dizer... Vamos, eu só quero retribuir o favor...– Ray me olha confuso– É que você salvou a minha vida ontem, lembra?
– Sim... Eu lembro...
– Então... Eu só queria te ajudar agora... Meu nome é Mikey Way– Estendi a mão para comprimento, mas ele parecia relutante.
– Ray... Eu sou Ray Toro...– depois de alguns segundos, ele finalmente aperta minha mão de volta.
– Olha... Você consegue se levantar?
Ray tentou se inclinou um pouco para frente, mas fez uma expressão de dor e levou sua mão até o lado do seu abdômen.
– Mikey...– Me viro rapidamente na direção da porta, com um pouco de receio de que fossr algum daqueles caras do time voltasse novamente para o banheiro. Pro meu alívio, era apenas Frank, que já estava com uma expressão preocupada.
– Cara... Até que enfim você veio! Venha, preciso levar o Ray até uma enfermaria, ele tá muito ferido...
– Eu já disse que estou bem...– O cara de cabelos afros respondeu com certa rispidez, mas ignorei mesmo assim.
– Não, não está! Frank, me ajuda a levantar ele...
Frank se aproximou e mandei que ajudasse o maior a se levantar, com um pouco de dificuldade, já que Ray era mais alto do que eu pensava, conseguimos deixar ele de pé. Apoiei os seus braços ao redor do meu ombro e Frank fez o mesmo, em poucos segundos já deixamos o banheiro indo direto pra enfermaria do colégio.
***
– E então... Como ele tá?– Frank perguntou primeiro. A enfermeira estava costurando a última parte do ferimento na têmpora de Ray, que estava deitado na maca da pequena sala da enfermaria. Eu estava sentado ao lado.
– Bem... Este ferimento não atingiu nenhuma vaso sanguíneo importante da cabeça, mas ainda sim, vai precisar levar alguns pontos. Mas ele vai ficar bem.
– E enquanto a dor na barriga dele?– Perguntei um tanto apreensivo.
– Ele já foi medicado... mas aparentemente deixou só um hematoma.
– Viu? Ela tem razão, eu vou ficar bem. Agora podem ir.– Ray fez um sinal despachando a gente. Mas como esse cara era teimoso.
– Não... Eu não vou sair daqui até que você se recupere.– Ray me olha confuso.
– Mas porque diabos você tá se importando comigo? Eu nem sei quem é você...
– Bem... Você salvou a minha vida ontem, eu só quero retribuir. Da pra colaborar?
Ray deita a cabeça de volta no travesseiro da maca, finalmente se rendendo a discussão.
Depois de mais alguns minutos que pareciam horas, a enfermeira finalmente dá alta para o Ray, aconselhando ele a fazer um exame de raio-x, caso a dor no abdômen vier a insistir. Ela perguntou ainda quem fora o responsável por aqueles ferimentos, e antes de eu abrir a boca para contar a verdade, Ray chegou primeiro e mentiu, dizendo que havia sido assaltado antes de chegar na escola. O olhei incrédulo. A enfermeira só falou para que ele fizesse um boletim de ocorrência. Agradecemos e saímos os três para fora da salinha. Frank achou melhor retornar para a aula, porém eu falei que era melhor acompanhar Ray até a saída, pois ele não tinha as mínimas condições de assistir a aula. Se bem que nem eu estava afim, depois de hoje. Frank seguiu seu caminho até a sala de aula e eu acompanhei o cabeludo até a saída da escola.
Ficamos mais alguns segundos em silêncio enquanto andávamos pelo pequeno jardim, onde sentamos em um banco para Ray descansar um pouco. Resolvi quebrar o silêncio.
– Então... Porque eles te bateram?– Perguntei meio receoso, achando que estava sendo intrometido demais. Ray ficou fitando o chão por mais alguns segundos. Já ia desistir de tentar uma conversa quando ele se pronunciou.
– Babacas... Eles acham que podem tudo... Inclusive humilhar...– Ray respondeu, mais para si mesmo do que pra mim, seu semblante era sério.
– Você... Fez alguma coisa para eles?– O cabeludo se vira para mim.
– Sabe aquele loiro lá, o Joe?– Assenti com a cabeça. Então ele sabe pelo menos o nome de um dos agressores.– Pois é, ele já estudou comigo no ensino fundamental. E bem, ele infernizava a minha vida por lá. E quando ele soube que eu iria estudar aqui, ele foi fazer gracinhas junto com aqueles bandos de imbecis. Mas eu o ignorei. Então eles tentaram me provocar e acabei dando um soco na cara desse trouxa. Só que eles revidaram. E aqui estou. Todo fodido.
– Puxa... Que história...– Eu sabia que a surra que levou não foi de graça, mas porra, aqueles caras agora vão ficar no pé dele até o final do ano. Acho que faria o mesmo no lugar do Ray, só que era capaz de eu terminar pior que ele.
Ouço atrás da gente um barulho de buzina. Me viro e olho na direção de um carro de cor prata. Um homem aparentemente de meia idade estava esperando.
– Bom, tenho que ir... Até logo.– Ray se levanta rapidamente do banco e vai na direção do carro. Provavelmente aquele homem deveria ser o pai dele.
– Hey!– Grito para ele. Ray se vira para mim, meio confuso.– Você não vai me agradecer por hoje?
– De nada. Adios – Ray sorri pelea primeira vez desde quando eu o conheci, e se vira de volta, onde acaba adentrando o veículo, que vai embora. Fico observando o carro até perder ele de vista.
Pelo menos ele agradeceu.
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Corrupted Angel
Misterio / SuspensoMikey estuda em um colégio renomado em Belleville, e leva uma vida completamente normal, com amigos e até uma namorada. Mas a chegada de um dos alunos que sobreviveram a um trágico atentado na escola anterior, acaba chamando a atenção de muitos, o q...