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  Olhou para o celular mais uma vez, mas a tela reluzia a mesma resposta de horas atrás: visualizado. Mordeu os lábios, cravando os dentinhos fortemente na carne vermelhinha boca, a machucando. Jimin só queria entender porque diabos seu melhor amigo o estava evitando, o ignorando. 
  Ontem Jimin tinha tomado uma decisão muito importante para si de se assumir publicamente gay. Não era uma coisa fácil, principalmente na sociedade coreana, na qual aquilo era quase que passível de crime, mas felizmente não era de fato. Ele esperava que alguns olhares estranhos começassem a segui-lo, ou até mesmo que houvessem rumores sobre ele, mas nunca esperou que seu vizinho, seu melhor amigo de infância, fosse ser uma dessas pessoas. 
  Taehyung passou a evitar Jimin desde o momento que a notícia caiu em seus ouvidos. O Park lhe mandou algumas mensagens, pedindo para saber se tinha acontecido algo, mas todas elas acabaram sendo vistas e propositalmente ignoradas pelo Kim. Aquilo machucou demais Jimin, estava lhe fazendo muito mal não saber ao certo onde ele tinha errado. Sem poder fazer nada, esperou pelo próximo dia, quando fosse para a faculdade e pudesse ter uma chance de falar pessoalmente com o amigo.
  No entanto, as coisas desandaram mais ainda. Assim que Jimin pisou na faculdade, foi em direção ao seu armário, pegar os materiais da sua aula. Ao lado dele haviam duas garotas, provavelmente um ano mais novas que ele, conversando meio que incrédulas. Elas estavam sendo tão histéricas que o Park não conseguiu não escutar do que elas falavam.

"Então, ele realmente está namorando? Não é possível… Você viu a garota?" Uma delas disse, olhando fixamente para a amiga.

"Não sei ao certo, mas eu a vi sim. Ela é totalmente linda! Fiquei com inveja… Ele até mesmo estava segurando a mão dela." A outra respondeu, fazendo um bico.

"Aaaa… que inveja! Eu deveria ser a única que o Taehyung iria gostar! Não posso acreditar nisso…"

  Elas continuaram a reclamar e fofocar, mas Jimin tinha totalmente parado de ouvir quando ouviu o nome do melhor amigo. Sua mente colapsou. Taehyung estava namorando??? Engoliu em seco e correu para sua sala. Seus olhos não puderam acreditar no que viram quando ele adentrou o recinto com alguns alunos. 

— Taehyung…

  Os olhos castanhos límpidos do moreno se viraram para o amigo louro quando ouviu ser chamado pela voz suave de Jimin. Não o olhou por muito tempo, desviando o rosto levemente para um ponto próximo do Park. O loiro olhava incrédulo para a situação do melhor amigo. Suas mãos estavam interligadas com os dedos de uma jovem moça, colega de classe de ambos. Ela estava toda alegre e sorridente ao lado do Kim, e agora também olhava para Jimin. 

— V-Você… Está namorando? — perguntou, apertando a alça da mochila nos dedos. 

— Sim — Taehyung respondeu simplista, dando um vago olhar ao melhor amigo. 

— D-Deuses..  Você não me disse nada sobre. Eu estou… surpreso — Jimin dizia, tentando agir normalmente. Olhou para a garota e então se aproximou com um sorriso. — Ei, é um prazer-

— Pare. 

Jimin foi repentinamente afastado por uma das mãos de Taehyung. Olhou surpreso para o moreno, sem entender porque ele havia o afastado de sua namorada.

— Eu não te disse porque não queria você se aproximando assim. 

— O-O que? Taehyung-ah…

  Jimin disse baixinho, o coração começando a ficar apertado e dolorido pela atitude ríspida do Kim. O sinal então tocou e o professor adentrou a sala. O loiro rapidamente olhou desnorteado ao ver a namorada de Taehyung tomar seu habitual assento ao lado do melhor amigo. Mordeu os lábios e se afastou, sentando-se no fundo da sala. Queria desaparecer.
  Ao término das aulas, Jimin se sentia ainda pior. Todos seus amigos iam acompanhados para casa e ele comumente ia com Taehyung, desde que era vizinhos e melhores amigos. Mas dessa vez o moreno agarrou nos dedos da garota e o casal foi, deixando para trás um solitário garoto louro, olhando tristemente a cena. Começou a caminhar sozinho para casa, seus passos rápidos, querendo logo chegar e expulsar toda aquela tristeza que sentia. 
Visualizou a fachada de sua casa, aquele sobrado com cor bege bonito. Adentrou o lar, sentindo o familiar cheirinho de lavanda que a casa possuía. Subiu as escadas e foi direto para seu quarto, deixando a bolsa jogada na cama. Pensou que se sentiria melhor de tomasse um banho. Adentrou o banheiro e retirou as roupas, indo para o box. Junto das gotas de água daquela ducha quentinha, escorreram as lágrimas do rapaz também, saindo automaticamente de seus olhinhos castanhos magoados. O rostinho ficou vermelhinho conforme o choro ficava às vezes intenso, gerando soluços e sons dolorosos da garganta do Park. Não entendia o porquê de tudo aquilo. 
  Saiu do banho depois de longos segundos e se vestiu com um pijama quentinho, caindo na cama, onde o travesseiro acolheu mais algumas de suas lágrimas pela madrugada toda. Sua mente estava agitada, então ele apenas conseguiu dormir depois de um bom tempo. Felizmente — ou infelizmente — acordou bem tarde no dia seguinte. Sua faculdade era no período da noite, então ele não precisava se preocupar com o horário de acordar e não havia ninguém ali para acorda-lo de qualquer forma. 
  Se levantou, sentindo o rosto inchado e os olhinhos com algumas remelas depois do choro noturno. Desceu as escadas para tomar um café. Ou seria almoço? Estava perdido no tempo e não queria realmente se achar, não fazia questão. Sua cabeça estava ainda ocupada com o vazio que se instalava nela e a mágoa que o corroía. Enquanto cortava alguns legumes, só conseguia pensar no toque rude de Taehyung lhe afastando, empurrando, para longe de sua nova namorada. Se fechasse os olhos podia sentir sua pele arder onde o melhor amigo o tocou rudemente.
  Fez por fim um prato saudável para si, mesmo que sua vontade de cozinhar estivesse tão baixa quanto sua energia no geral. Comeu aos pouquinhos, sem apetite. A casa vazia apenas o fazia se sentir ainda pior. Jimin olhou para o retrato dos pais que ele tinha na mesa da cozinha e o tocou delicadamente, dedilhando a madeira do porta retratos. Os rostos sorridentes dos progenitores o fazia se sentir quentinho na maior parte das vezes, mas hoje estava sendo difícil. Tinha prometido que ficaria bem sem eles, desde que os pais passaram a morar em outro país assim que Jimin virou um adulto. Eram pessoas de negócios e as coisas estavam ficando complicadas com as viagens, seria mais confortável administrar de pertinho, lá na sede da Europa. 
  Jimin obviamente aceitou. Ele era um adulto, poderia lidar com a casa dos pais e manter tudo em ordem até terminar os estudos e ir morar com eles também na Europa. Faltava só mais 2 anos, ele pensava naquele instante, esperando logo estar no braço de seus pais, no conforto das asas protetoras dos mais velhos. Sempre foi mais fácil lidar com a solidão porque tinha Taehyung ao seu lado, literalmente. O Kim sempre esteve ali por ele nesses 3 anos que Jimin esteve longe da família, sempre cuidando de si — mesmo na maior parte do tempo sendo o contrário —, sendo seu conselheiro, o fazendo companhia e enchendo um ao outro de ótimas lembranças e rolês engraçados. 

  Suspirou, lembrando-se que agora ele simplesmente não podia ter o apoio do amigo. 

— O que eu fiz, Taehyungie? Só me diga…

  Seu murmúrio morreu no silêncio da casa e ele sentia as lágrimas encherem seus olhos de novo. Ele se sentia tão fraco. Limpou forçosamente os olhos, os secando, e então se levantou. Levou o prato para a pia e o lavou. Olhou no relógio, ainda estava um pouco longe do horário para se preparar para a faculdade, então decidiu que iria cuidar do jardim. O sobrado tinha um lindo quintal de fundo onde o loiro resolveu criar um pequena horta e manter um jardim bonito com plantas grandes e pequenas, flores e frutos. Aquilo lhe dava uma paz enorme. 
  Se direcionou para lá e então pegou suas luvas de jardinagem e uma tesoura grande para aparar os galhos e folhas. Começou a trabalhar nele e por fim foi até a árvore principal que ficava no centro, lindamente decorando todo o espaço como uma mãe. No entanto, seus olhos castanhos se assustaram quando ele se aproximou e viu algumas vinhas. Aquilo era raro de nascer na árvore e ele tinha aparado ela literalmente três dias atrás! Deu a volta no tronco para ver de onde elas nasciam e foi então que seu coração parou de funcionar.

— ICK! O QUE…?!

  Soltou um grito, o corpo cambaleando para trás em resposta rápida de proteção. Os olhos ficaram arregalados e mal podiam acreditar naquilo que estava repousado contra o tronco da árvore. Nos seus pés surgiam flores, desabrochando rapidamente como num efeito rápido de primavera e o cheiro de rosas o invadiu por completo enquanto ele fitava o corpo humano que estava surgindo do tronco de sua árvore. A silhueta se formava perfeitamente e as vinhas soltavam aos poucos o ser, o libertando. Jimin engoliu em seco, vendo os olhos do ser se abrirem lentamente, as irises negras profundas encontrando com as suas. 

— Papai! 

  A cabeça entrou em choque e num colapso nervoso e Jimin não viu mais nada enquanto seu corpo caía molenga no solo do jardim.

Plant boy • JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora