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Acordo com uma forte dor de cabeça, parece que exagerei ontem. Acabei dormindo no sofá e acordei no chão com dores espalhadas por todo o corpo.

Ando pela casa, mas parece que os garotos já tinham acordado. Vou até a varanda e vejo JJ e John fumando.

"Bom dia, Kie" - John sorri de lado.

"Bom dia" - me deito na rede.

"Parece que exagerou na dose, Kiara." - JJ se atreve.

"E você parece que que exagerou em cuidar da minha vida" - revido e ignoro seu olhar.

"Para uma garota da classe alta você está bem atrevida."

"Por que você não cansa de falar de mim?" - ele ri e traga seu cigarro.

Depois de alguns minutos Pope chega e vamos para a praia. Surfamos um pouco, brincamos de beer pong e ao anoitecer voltamos para a casa do John B.

Se passavam das 22 horas, quando vejo o carro da minha mãe se aproximando.

"mãe?" - me levanto e desço as escadas.

"O que você tá fazendo aqui?" - pergunto confusa.

"Vim cumprir o meu papel de mãe e te levar pra casa. Eu não vou deixar você aqui com esses..."

"Vai em frente... Pode falar." - JJ grita da varanda.

Merda. Por que ele tem que ser tão intrometido?

"Garoto... Eu não tenho tempo para ficar jogando conversa fora." - Ela abre a porta do carro e fica à minha espera.

"Kiara, você vêm ou não?"

Meu olhar se volta para minha mãe, que já estava impaciente com a minha demora para me decidir.

"Vou deixar bem claro pra você. Você tem duas opções: vai agora comigo, ou vou te colocar para fora de casa"

Ela seria capaz de fazer algo assim? De qualquer forma, olho para John e ele dá um pequeno sorriso, na intenção de me confortar. Entro no carro, coloco o cinto e fixo meu olhar no lado de fora.

"Eu não queria ter feito isso, Kiara. Se você não tivesse procurado esses garotos... Não estaríamos passando por essa humilhação."

"Eu não entendo, mãe. É humilhação eu me sentir bem e feliz? Pra mim, humilhante era quando eu tinha que andar com pessoas esnobes e sem nenhum senso."

"E seus amigos têm? São garotos sem futuro e mentalidade alguma."

Me viro de canto, tentando afastar a raiva que eu estava sentindo.

"É disso que eu estou falando Kiara. Precisamos resolver isso." - ela coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha.

[...]

Chegando em casa, vou para meu quarto e me jogo na cama. Minha mãe e meu pai entram no quarto. Eu já não estava entendendo mais nada.

"Você está sem celular e sem o seu carro. Até quando acharmos necessário." - eles pegam meu celular na cama e saem.

"Merda. Merda. Merda" - começo a chorar e socar o travesseiro.

Vou até a janela, era alto demais. Seria loucura pular dali. A casa devia estar toda trancada. Ou seja, sem chance de sair.
Acabo desistindo, vou até o banheiro, tomo um banho, escovo meus dentes e me deito.

Meu estômago começa a apertar. Eu, por ser muito orgulhosa, não iria descer até a cozinha.

Fecho meus olhos e deixo o sono chegar.
No outro dia, acordo com uma buzina, vou até a janela e vejo Pope, John e JJ na kombi.
Abro a janela e tento falar baixo, mas, de uma forma que eles ouvissem.

"Estou de castigo. Meus pais tiraram meu celular e o meu carro."

"Eles não disseram que você não podia sair, disseram?" - JJ sorri.

"Vem logo" - John liga a kombi.

Meus pais tinham trancado a casa, a única opção era a janela do meu quarto. Minha mãe estava rondando, e a qualquer hora podia entrar no quarto, para ver como eu estava.

Abro a janela e a fecho com cuidado. Caminho pelo telhado tentando não fazer barulho, digamos que eu tropecei em uma ou duas telhas que estavam soltas. John aproxima a kombi o máximo que ele consegue, pulo no teto da mesma e me jogo nos braços de JJ que estava no chão.

"Valeu" - Me sento em um dos bancos.

"Então quer dizer que você foi proibida de nos ver?" - Pope pergunta.

"Digamos que eu fui proibida de sair de casa e de conversar com qualquer pessoa."

"E o que você vai fazer?"

"Por enquanto, não faço idéia"

Eu só queria que meus pais entendessem que o quanto que eu melhorei emocionalmente quando conheci os meninos. E que deixassem essa implicância de lado. Apenas isso.

"O que acham de pararmos em algum lugar para comermos? Eu tô morrendo de fome" - eu sugiro.

Paramos em um restaurante perto da praia. Pegamos uma mesa, e fazemos nosso pedido.

O clima estava fechando, as nuvens estavam cada vez mais escuras.

Mike, dono do restaurante trás a bandeja com o peixe.

"Obrigada, Mike." - Corto um pedaço do peixe e coloco no meu prato. Eu estava com tanta fome, que podia comer aquela bandeja inteira. Mas, me controlo e como apenas dois pedaços.

Passamos a tarde inteira juntos, conversando e irritando um ao outro com brincadeiras. Não bebi nada, preferi ficar sóbria, aliás, eu iria ter que ir embora mais tarde.
A chuva estava muito forte, e já estava anoitecendo. Então, pedi para John me levar para casa.

Depois de me despedir de John e Pope, desço correndo da kombi, para a porta. Abro e dou de cara com minha mãe.

"Que orgulho de você, Kiara. Não basta tudo o que você vem aprontando, agora você foge de casa, sem mais e menos?"

"Eu sei que você ficou preocupada, eu sei. Desculpa, mas você não me deu opção. Mãe, você quer me privar de algo que me faz bem. Eles são meus amigos, são pessoas que me trouxeram felicidade. Eu sei que vocês não gostam deles, mas, eu não posso simplesmente largar pessoas que se tornaram especiais pra mim. Eu era infeliz antes, você tem que entender que isso não é pra mim. Eu não quero ficar rodeada por pessoas que só pensam nelas mesmas. Por favor, entenda que eles são importantes pra mim."

"Pode ir para seu quarto, conversamos depois."

Embora eu esteja derrotada por meus pais quererem me afastar dos meus amigos, eu estava feliz por ter visto eles.

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