"Sabe qual é a distancia para se chagar no inferno? Sessenta segundos. Isso mesmo que você leu. Não são sessenta passos, metros ou quilômetros... são malditos sessenta segundos. independente de qual ordem tenha começado sua contagem."
J . I . Jr
Seis pneus prendem o corpo da freira. A mulher lembra morbidamente o espetinho que atravessa a linguiça que ainda não foi para o fogo. Rafael, está encostado numa frondosa mangueira, esperando-a acorda. A ordem havia sido queima-la viva.
O assassino suspira. A deixaria sofrer um pouco, para que fosse noticiado que havia morrido queimada, antes do ato derradeiro, que seria um tiro na cabeça.
A mulher desperta grogue. Rafael aproxima-se dos pneus, mancando e segurando uma bengala. A mulher o olha assustada. Eles ficam de frente. O olhar do homem é sem expressão. É como se ali estivesse a pior pessoa do mundo, enquanto isso, Luciana tenta desesperadamente falar através dos seus olhos esbugalhados.
Rafael, sabendo que vai ouvir todos os tipos de mentiras não tira a mordaça. Além de estarem num lugar vulnerável às batidas policiai por ser uma área tradicional de desova, com certeza não vai demorar muito para uma viatura aparecer por lá.
A mulher não para de se contorcer. Seus olhos dilatam. Ela os abrem da maior forma possível destilando inúmeras informações abafadas pelo pano grosso e azul, que amordaça sua boca. O desespero lhe é incomum, embora Rafael ache normal... quem não quer escapar do micro-ondas?
A borracha queima junto com o corpo humano, destruindo quase tudo. O calor começa por fora, depois a borracha isola o fogo no corpo da vítima, misturando-se enquanto queima a pele da vítima. A fumaça preta queima os órgãos internos, antes que o fogo passe pelos músculos da vítima.
— Bem, dona moça... a sua hora é chegada. Eu não preciso explicar o que vai acontecer, até porque com certeza já sabe. — Rafael procura o isqueiro dentro do terno preto. — A senhora é culpada por todos seus crimes. Não me olhe assim... com essa cara surpresa. Quer que eu repita alguns deles? Não! Não adianta chorar assim, você teve as melhores oportunidades de fazer a coisa certa, mas não fez... nunca escolheu o melhor caminho.
Luciana grita desesperadamente olhando para o céu estrelado.
— Você fez tráfico de drogas, humano e de crianças... Luciana porra! Crianças? Elas eram crianças. E você as levou para o inferno. Meninas que sonharam com um príncipe encantado tiveram todos os tipos de homem as estuprando. Oh... não me olhe assim. — Rafael limpa com um lenço as lagrimas da moça que joga sua cabeça na mão dele, igual um animal buscando arrego. — Eu não vou deixar você queimar para sempre. Estou com um cronômetro, passados os sessenta segundos você levará um tiro na testa.
Rafael afasta-se da mulher que grita desesperadamente e o olhando fixamente, implora por sua vida fazendo gestos refletidos no corpo que tenta se libertar do seu fatídico destino.
— Luciana, pense da seguinte forma,
no passado os guerreiros eram queimados depois de mortos... um momento, essa analogia não faz sentido porque você está viva. Se eu disser que você vai morrer igual uma bruxa, estarei xingando todas as bruxas. — Ao terminar de dizer isso ele joga o isqueiro nos pneus encharcados com gasolina. — Então seja apenas uma pira, uma nefasta pira que queima todos os seus pecados, vagabunda. — Rafael, olha para o cronometro do seu celular.50 segundos. As chamas não demoram a subir. A tocha-humana queima. Arde e começar a fazer o maldito som do fogo encarquilhando a carne.
30 segundos. A mulher consegue gritar no meio da sua dor: "Por que meu pai, por quê? " . O assassino sempre achou estranho os pecadores se apegarem ao divino, na hora da morte.
10 segundos. A mulher grita, grita e grita o mais alto que pode. Como se o fato de gritar tivesse o poder terapêutico de fazer cessar sua dor.
— Se você tem um pai, com certeza não é Deus. O inferno te espera... nos encontraremos em breve, vagabunda. — Rafael, pega sua 9mm e aproxima-se de Luciana atirando no meio da testa dela. Depois vai até a mangueira, por trás da árvore, e pegando um extintor volta para a pira e apaga o fogo.
Embora as chamas não sejam visíveis, a fumaça que sobe dos pneus, denuncia que o fogo ainda queima... imperceptível ao olho humano, mas ainda queima.
Rafael, cobre seu nariz com o lenço que enxugou as lágrimas da moça, e como lhe é de costume, pega seu celular e bate a foto da freira, a mandando para Júlio.
Puxando pela perna esquerda, caminha até seu carro e sai na direção de sua casa. Assim que chega em sua casa, joga a bengala para o lado e segue para o banheiro. Lavar seu corpo com cheiro de fumaça de corpo humano assado.
A cama recebe seu corpo definhado e desfigurado pelo câncer. Com dificuldade, vira-se para o lado e de dentro do minibar pega uma cerveja Heineken. O gole demorado o faz tossir. Faltou folego. Ele liga a televisão e não demora sessenta segundos para pegar no sono.
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O Coice de Mula - COMPLETO - Lançado no dia 03/05/2020
Mystery / ThrillerA "sorte", a morte, um coice, a vida e a verdade... tudo caminha junto. Tudo está ligado. Somos um tudo de um todo. Conexões e conexões. Rafael Souza, 45 anos, solteiro, assassino por natureza e com uma doença terminal, recebe seu últim...