A CARTA

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"Se você acha que um cão late por coragem, está enganado. O cão que ladra não morde, está com medo."
J. I. Jr

Júlio, assiste estarrecido e agarrado aos braços da cadeira, a casa que sempre visitou, e que dormira lá várias vezes, sumir pelos ares.

Ele está imóvel. Sem ação e reação. Parado no tempo. Escutando o repórter gritar horrorizado, ao vivo, relatar a cena dantesca desenhada diante deles.

A vingança começou. O cronômetro decrescente foi ligado. Júlio, continua assistindo, incrédulo, os pedaços da casa e das pessoas chovendo sobre o local. Amanda, solta aterrorizada a Long neck no chão, ao entrar na sala, saindo da cozinha.

— Meu Deus. Eles mataram Rafael! — Júlio, olhando para sua esposa, igual um robô responde:

— Foi Rafael quem matou eles.

          Dentro do apartamento, Glauco e seus filhos, Marcos, Cezar e Antônio ainda balançam suas cabeças sem acreditar no desfecho que estão vendo.

— O que vamos fazer? — Pergunta o filho caçula, Antônio.

— O que podemos fazer? — Retruca o filho do meio, Cezar — Não faremos nada. O homem morreu.

            Glauco, levanta-se e segue para varanda do apartamento frente mar. Os filhos veem seu pai ficar pensativo.

— Amor — Sai Elizabeth, esposa de Glauco e madrasta dos filhos dele, de dentro do seu quarto —, vou me encontrar com as esposas dos meninos e vamos para o shopping. Você deseja alguma coisa de lá? — O marido só faz balançar a cabeça dizendo não.

— Pai, por que essa cara assustada? Parece que viu um fantasma. — Pergunta Marcos, atualmente o mais velho, tocando no ombro do seu pai.

— Precisamos tomar cuidado. Ele vai tentar nos matar. Eu tenho certeza disso.

— Como assim? O senhor acha que ele contratou um serviço de outro assassino? — Pergunta o caçula, colocando as mãos no bolso.

— O senhor desconfia do irmão dele? — Pergunta o filho do meio.

— Não! O Júlio é um borra botas. Um cagão.

— Mas, será que ele não saberia dos planos do irmão? — Marcos, pergunta encostando-se com as costas na parede e colocando o pé na parede.

— Não sei — Responde Glauco —, pode ser que você tenha razão.

— Podemos fazer uma visita para ele. — Sugere Cezar. O filho do meio, que está usando a camisa do Manchester.

— Eu não quero ninguém saindo sozinho! Eu vou reforçar a segurança de vocês! Eu tenho que reforçar a segurança de todos.

— Papai, não dê atenção mais que o necessário. Nós já temos seguranças. — Reclama Antônio.

— Vocês não entendem. Ele matou o irmão de vocês, sem fazer muito esforço. Os seis capangas que faziam a segurança dele, morreram com um tiro na testa.

             O silêncio que se abate dentro do apartamento, é aterrorizante. O interfone toca, assustando a todos. Marcos, rindo vai até a cozinha para atender o telefone.

— Quem era?

— Era o porteiro, papai.

— O que ele queria?

— O Castilho está subindo com suas correspondias e jornais. Mas, voltando ao assunto, podemos pedir para o Coutinho fazer uma visita ao irmão do Rafael.

— Sei não Marcos. Mas, não é um ideia que possa ser deixada para lá.

— Pode deixar. — Fala Cezar — Eu atendo a porta.

— Marcos, vá com seu irmão. Cezar! Espere o Marcos ir com você.

— Atender a porta? O senhor está tirando onda. — Brinca Cezar, empurrando o irmão mais velho para o lado — Eu não preciso de babá.  — Glauco, arqueia a sobrancelha não gostando da brincadeira.

— Vamos! A companhia não para de tocar. Eu aproveito para beber água. Alguém também vai querer um copo com água?

— Irmão — Antônio debruça-se na varanda —, eu vou aceitar um copo com água. — Depois que os dois saem, Glauco olha para seu filho caçula e diz:

— Eu sei que você sempre foi o mais sensato. Então, trate de colocar nas cabeças dos seus irmãos, que eles não podem subestimar o homem que morreu.

— Papai, o senhor sabe que não será fácil. Um está no fim da sua juventude, com vinte e nove anos... o outro,  acha que tem o corpo fechado. — Glauco segura os ombros de Antonio.

— Por isso mesmo, estou pedindo isso para você. Eles sempre te escutaram. Se você tomar as primeiras medidas de segurança, seus irmãos te seguirão.

— Eu não vou vacilar. Embora ache tudo isso um exagero. — Cezar volta com um copo com água gelada — Ops. Obrigado. — Antônio agradece.

— De nada. Marcos pediu para te entregar.

— E ele ficou fazendo o quê? — Pergunta Glauco.

— Ele recebeu uma carta. — Olhando para Antônio e o pai comenta sorrindo — Quem nos tempos de hoje, perde tempo escrevendo uma carta?

           Marcos, tem suas mãos explodidas  até a altura dos cotovelos. De dentro da carta, saem da explosão mini pedaços de metais, porcas, vidros colados no cerol e uma carta de Ás de paus, que rasgam o rosto do filho mais velho de Glauco, o jogando contra a parede.

            O pai vê seu filho morrendo e com os braços amputados até os cotovelos, chamando por ele... pedindo socorro. Marcos, morre cego, sem os braços e afogado no próprio sangue.

O Coice de Mula - COMPLETO - Lançado no dia 03/05/2020 Onde histórias criam vida. Descubra agora