O Coice de Mula - COMPLETO - Lançado no dia 03/05/2020

FIM

          "As escolhas são suas, e as consequências também. As vezes criamos um monstro com uma frase mal dita."
J. I. Jr

Seis meses depois da cirurgia, Amanda mora em sua casa nova, na capital do Rio Grande do Sul. Ela ontem, assistiu no noticiário das vinte horas, mas, que na verdade começa às nove horas da noite, os últimos acontecimentos.

         A cirurgia ainda incomoda. Porém, o que mais a incomoda é não ter Júlio mais por perto. Ao seu lado. E ela saber que nunca mais amará ninguém.

O que aconteceu continua vivo em suas memórias, e vai continuar enquanto ela viver. A dor da ausência lateja por todo seu corpo. É maior do que qualquer outra dor que já tenha sentido.

Sentada num banco no Parque Vinte de Maio, Amanda observa um grupo de meninos e meninas jogando queimado. Aquela brincadeira, onde se dividem dois times e com uma bola, cada time procura acerta seu oponente. Quem leva a bolada e a deixa cair, vai para o céu, se o jogador segura a bola, quem vai para o céu é quem arremessou. Vence o time que manda o outro time todo para o céu.

Ela sai caminhando pelo Parque e se detém admirando os cágados e patinhos num laguinho. E suspirando, observa mães felizes brincando com suas crianças nuns "plays" infantis.

O sonho de Júlio, era adotar uma criança. Amanda, sorri lembrando-se que dizia para ele, que o filho deles, iria "pintar e bordar" com o pai. Fazendo alusão que a criança iria fazer com o pai o que quisesse.

Amanda não sabia o que Rafael fazia. Ela desconfiava que era ilegal, mas, não sabia que era crime de pistolagem. Morte encomendada. Cangaço. Matador de aluguel. Assassino por encomenda.

Amanda, só ficou sabendo quando Rafael ligou para ela, assim que viu pela primeira vez a imagem dele na televisão, logo após o enterro da filha.

Rafael, naquele dia, a perguntou se poderia contar com ela... Amanda respondeu que sempre. Mas, falou por dizer. Rafael era cunhado dela. Família é família. Mas, foi aí que veio a surpresa. Rafael contou tudo. O que ele fazia, como fazia, qual era a ajuda que Júlio dava e como ele iria precisar dela, agora.

           De início, o mundo de Amanda desabou. Júlio, também tinha sangue em suas mãos. Ele era a pessoa que verificava, se as informações sobre o contrato pago eram verdadeiras, para Rafael. A única vez que Júlio não verificou com a devida atenção, foi o estopim que desencadeou tudo que aconteceu até ontem.

          Dois dias depois, Amanda retornou a ligação para seu cunhado, dizendo que poderia contar com ela. E ela ouviu todo o plano de Rafael. Os mínimos detalhes. Amanda, escutou todos os passos que seriam dado por ele, e também quais seriam as possíveis reações de cada um.

           Rafael, foi muito claro em dizer que possivelmente ela poderia não sair viva daquela situação. Mas, que iria dizer uma frase para Júlio, onde ele entenderia que deveria fazer um sacrifício por algo maior... que era a vida de Amanda.

         Rafael, também disse que se a carta bomba não fizesse Glauco repensar sua vida, ele viria com tudo para cima dos dois. E aí, ela saberia se Júlio iria levar até as últimas consequências, se ele falasse em negociar a vida dela. Amanda, também foi orientada a não recusar a oferta, e que saísse dali imediatamente.

           Quem sabia e sabe de todo o plano,  foi Amanda. Sempre foi ela. Desde o momento que Rafael soube que Glauco não pararia por ali. Ele, Rafael, também sabia que por amor, Júlio se sacrificaria por sua esposa. Amanda era inocente... era.

         O que Rafael não sabia, era o efeito que todas aquelas frases e humilhações, que Amanda sofreu naquele dia, culminado com a morte de Júlio, a fizesse deixar de ter remorsos pelo ocorrido com Glauco. Ela, compactuava agora com cada desejo de vingança do seu finado cunhado. E pior que isso... gostou de ser uma justiceira. Deleitou-se no sabor da vingança.

Rafael, nunca imaginou que estaria criando uma sucessora. Uma possível xerox. Uma cópia dele. Uma justiceira.

Alimentando os patos, com os pedaços de pão que traz em sua bolsa, ela diz baixinho:

— Meu nome é Amanda Souza.

         Levantando seus olhos, Amanda para de alimentar os peixes, e sorrindo, lendo um letreiro de neon, que está com uma parte do nome de uma grife apagado, repete:

— Lady K. Gostei... Lady K.