A ORDEM

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"Um pai ou mãe, nunca deveria enterrar sua cria. É contra a ordem natural."
Autor desconhecido

— O senhor deu, ele tomou! — Fala o padre, segurando a Bíblia enquanto a lê, e um crucifixo grande, de ouro, apoiando a capa preta do livro. O corpo de Marcos está sendo velado com o caixão fechado.

Por mais que a família tenha contratado um maquiador profissional, para tentar atenuar as cicatrizes deixadas pelo estrago provocado pela bomba, mesmo assim, não conseguiu melhorar muito. O rosto dele estava totalmente desfigurado.

         Glauco, mudou-se no outro dia para uma casa que tem mais de mil hectares, e reforçou a sua segurança por toda propriedade.

         Dona Elizabeth, está chorando e urrando mais uma vez, agarrada ao caixão de mais um filho. A esposa de Marcos, Valéria, continua sentada e com sua mão estendida, toca o esquife onde se encontra seu marido. Seus olhos quase não piscam. Marcos e Valeria, não tiveram filhos. Não tiveram tempo.

         Depois que o padre termina a cerimônia e o rapaz é guardado num dos túmulo da família, Glauco chama os dois filhos que restaram e os abraça.

— Pai, por que o senhor não fica em casa o restante dessa semana? — Pergunta Cezar, que está usando um óculos escuro de armação vermelha.

— Vocês pediram para olharem embaixo dos carros? — Glauco pergunta olhando para seu celular, afim de verificar que horas são.

— Sim, meu pai. Tudo está limpo. — Responde Antônio, olhando para seu pai e seu irmão.

— Não! Nada está limpo! Nada está tranquilo! Precisamos fazer aquela visita. — Glauco se exaspera por um momento, e volta a tocar no assunto com seus dois filhos, de fazerem uma visita para Júlio.

— Meu pai, eu não acredito que teremos mais alguma surpresa. A polícia identificou que a carta bomba foi enviada, um dia antes do cara ligar para a polícia se entregando.

— Antônio, meu filho... o seu nome estava  na carta que aquele filho da puta escreveu. De alguma forma isso não vai parar... eu sinto isso.

— O senhor já parou para pensar, que ele contava que a carta fosse aberta, com todos nós próximos? — Cezar, olhando para as pessoas que estão indo embora, faz a pergunta pra seu pai.

— O que estou pensando, é que ele teve quase duas semanas para arquitetar sua vingança... e colocar seus planos para nos matar, em prática.

— Eu ainda não acredito que nosso irmão, não está mais entre nós. — Lamenta-se Cezar.

— Mas, de alguma forma... mesmo morto, ele vai me pagar!

— Meu pai, será que não houve mortes o bastante? — Antônio, de alguma forma tenta demover o pai da sua busca por mais vingança.

— Você não entende Antônio? Agora, não depende mais de mim, mas, dele matar todos que estavam com os nomes naquela carta. Eu tenho que proteger vocês. — A voz de Glauco sai quase sem som. Amargurada.

— Sr. Glauco, as vistorias dos carros foram feitas. — Lourenço chega avisando e mantém uma distância de segurança dos três.

— Ligaram também os carros?

— Sim, senhor. Todos os carros estão funcionando a mais de cinco minutos.

— Obrigado Lourenço, obrigado. Eu já estou indo. E avise para todos continuarem atentos.

         Os três homens observam Lourenço pedir licença e sair. O guarda-costas trabalha a cinco anos com a família.

— O senhor vai para casa?

— Não. Vou para empresa. Não consigo ficar em casa. O choro da mãe de vocês, só faz aumentar a dor que estou sentindo.

— Eu vou com o senhor. — Fala Antônio, sobre o olhar reprovador do seu irmão.

— Antônio, será que você não entendeu a gravidade da situação? Não podemos andar todos juntos... no mesmo carro.

          O caçula não gosta muito do que ouviu, mas, tem que concordar que não seria uma boa ideia. Toda mudança requer tempo para adaptações.

— Até quando vamos viver assim?

— Até quando obtivermos respostas confiáveis do irmão do desgraçado. — Glauco começa a andar na direção do seu carro — Enquanto isso, não vamos arredar os pés das medidas de segurança que tomei.

          O comboio sai do cemitério depois que todos os convidados saíram. Glauco está tão inerte em seus pensamentos, que não percebe uma sombra aproximando-se do seu carro.

          Ele pula amedrontando para o lado, ao ser abordado por um pedinte que bate no vidro da sua janela, pedindo um trocado.

— Tudo bem com o senhor? — Pergunta o segurança que está dirigindo, olhando para Glauco, pelo retrovisor.

— Eu não posso viver assim, Feliciano. — Responde Glauco olhando para o segurança — Avise aos demais que não demoraremos quando chegarmos em casa. — O homem depois de dar a ordem, encosta-se no banco de couro preto e não descansa sua vista, continuando a olhar para tudo que move-se, fora do carro.

O Coice de Mula - COMPLETO - Lançado no dia 03/05/2020 Onde histórias criam vida. Descubra agora