A Grande Decisão

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Assim que deixei Lanny fui tomado por um sentimento imenso de culpa e alívio, era estranho, pensei, que algo necessário pudesse ser ao mesmo tempo tão certo e tão errado. Era o ano de 1830, verão, estávamos em Fez no Marrocos, hospedados em um quarto de hotel medíocre. Foi em uma dessas noites, enquanto Lanore dormia, que algo começou a martelar em minha mente, algo que me dizia que eu deveria partir, comecei a andar de um lado para o outro do quarto enquanto pensava que aquela era a hora certa para deixa-la, ela dormia profundamente e não veria quando eu saísse, não iria chorar nem implorar para que eu mudasse de idéia; eu deixaria um bilhete me desculpando e pedindo que não me procurasse, eu precisava ir e dar uma chance para ela ser feliz sem mim, precisava dar a mim mesmo uma chance de ser feliz, pois ali com ela jamais seria.

Eu sabia que era culpado por tudo que tinha acontecido conosco, e conviver dia após dia com Lanny era uma tortura para mim, no fundo eu não a perdoava por ter me transformado e me odiava por isso. Ficar com ela era como consumir uma dose diária de veneno e morrer aos poucos, sem nunca realmente deixar de sentir os efeitos do veneno.

Após escrever rapidamente um bilhete e juntar minhas coisas, eu parti levando apenas o dinheiro que carregava comigo, não era muito mas teria que dar, eu não sabia para onde iria e saí sem rumo. Decidi viajar sozinho pelo mundo e procurar talvez alguém que entendesse o suficiente sobre poções para me transformar em mortal novamente, para que eu pudesse dar um fim em minha vida desgraçada, já não sentia a menor vontade de viver. Veja bem, não há sentido em continuar depois de magoar todos a quem se ama; e eu havia feito isso. Primeiro minha família que eu sabia depender de mim, e a inocente Evangeline, por Deus, eu havia jurado protegê-la e tudo que fiz foi abandona-la com nossa filha, nem posso imaginar como foi a vida dela depois que parti. E agora Lanore, a mulher que me amou desde sempre, e eu nunca consegui retribuir. Também havia o fato de que eu seria um eterno forasteiro, jamais poderia levar uma vida normal. Então, sim, eu ficaria feliz em morrer.

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