Felicidade Simples

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No ano de 1930 recebi meu diploma, eu era um médico; havia me formado entre os cinco primeiros, até eu me surpreendi com minhas notas, cerca de um mês depois elas me deram uma vaga em uma clínica renomada, mas não era o que eu queria. Por acaso encontrei um anuncio em um jornal, uma ONG procurava médicos que estivessem dispostos a viajar pelo mundo para cuidar das pessoas em paises pobres e subdesenvolvidos; era o que eu procurava. Não pensei duas vezes antes de entrar em contato e marcar uma entrevista, aceitei o emprego, apesar de pagarem mal, mas isso não me importava e nem precisava realmente de muito dinheiro. Então comecei a trabalhar na ONG, o primeiro lugar para onde fui mandado foi para a Ásia, quando cheguei lá e comecei a cuidar das pessoas, adultos, idosos e crianças senti que tinha encontrado um motivo para viver e me senti feliz como a muito tempo não me sentia.
Passei 80 anos da minha vida mudando meu nome mas em nenhum momento cogitei mudar de profissão, renovei milhares de vezes meu diploma e minha licença para exercer medicina, também sempre me recusei a trabalhar em clínicas privadas, então fui pulando de uma ONG para outra durante todo esse tempo. Estava agora no Paquistão a três, junto com um grupo de dez médicos tratando vitimas de varíola, e me sentia realizado.
Em uma manhã do mês de julho recebemos a notícia de que um surto de febre hemorrágica havia saido de controle, e que precisávamos ir no mesmo dia para a África, apesar da situação fiquei empolgado, eu iria para a África, finalmente ajudaria aquelas pessoas. Quando chegamos lá, a situação era pior do que imaginavamos, cerca de cinco pessoas morriam por dia, em uma semana segurei quatro corpos de crianças que deram seus últimos suspiros enquanto eu tentava salva-los, era arrasador. Dois meses depois a situação estava parcialmente controlada, ainda havia casos da doença, mas a maior parte da população estava a salvo; os doentes eram isolados e tinham acompanhamento médico em turno integral.
Quando fez três meses que estava lá, recebi uma proposta; os responsáveis pela ONG , preocupados com a situação dos africanos, decidiram criar uma clinica e queriam que eu permanecesse na África para administrá-la, eu teria ajuda é claro, viriam médicos de outros lugares que permaneceriam ali também, deram-me até o outro dia para responder.
Naquela noite deitado em minha barraca ouvindo os mosquitos zunindo em minha volta, comecei a pensar em Lanny e me dei conta de que não pensava nela a muito tempo. Senti uma vontade enorme de entrar em contato para saber como ela estava, mas decidi deixar como estava, era melhor para nós dois. Enquanto pensava em Lanny, percebi que estava começando a me sentir sozinho, sentia falta de uma companhia feminina, era fácil conseguir se eu procurasse, as mulheres se jogavam em cima de mim como cachorros famintos em cima de um pedaço de carne, mas eu não me sentia atraído por ninguém ali. Durante uns 15 minutos considerei voltar para a Europa e tirar umas férias, mas no fim a culpa que sentia por todo o resto falou mais alto, e no outro dia aceitei a proposta de ficar na África.

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