Ajuda Inesperada

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Fazia cerca de seis meses que eu havia beijado Ágata. Ela continuava decidida a ser apenas minha amiga e eu ainda não tinha conseguido falar para ela que a amava. Nós continuamos nos encontrando apenas quando estávamos trabalhando, ela havia mudado consideravelmente comigo me evitava sempre que podia. Eu me mantive afastado tentei respeitar o espaço dela mas isso era agonizante para mim. Sonhava todas as noites com ela, que á tinha em meus braços e que seria assim para sempre, enquanto sonhava me sentia absurdamente feliz, então eu acordava e sentia os efeitos do sonho escorregarem de mim junto com minha felicidade. Acho que no fundo eu não merecia ser feliz assim e sabia disso. Afinal, quando no mundo ou fora dele um condenado como eu, merecia algo tão puro quanto felicidade ou amor?

Duas semanas mais tarde um grupo de médicos foi enviado para uma vila distante, eles ficariam lá por algum tempo para tratar um surto de dengue. Eu e mais alguns médicos ficaríamos no centro de exames montado na cidade mais próxima. Ágata também ficou e Isabella, que ao que parecia havia esquecido que eu existia. Continuei com minha rotina que estava ficando cada vez pior. Naquela noite fazia muito calor e todos estavam fora de suas barracas. Após tomar um banho frio, saí e me juntei a eles. Como sempre meus olhos encontraram Ágata antes de qualquer outra coisa. Ela estava linda em sua simplicidade com uma camiseta rosa claro e shorts jeans escuros, os cabelos em um rabo de cavalo bagunçado, estava descalça. Não pude deixar de sorrir enquanto a observava, ela não fazia ideia do quão atraente era e fazia menos ideia ainda do que isso me causava. Me aproximei e sentei quase em sua frente, ela sorriu para mim mas não falou nada, não aguentei ficar ali muito tempo era terrível ficar ao mesmo tempo tão perto e tão longe dela.

Saí para caminhar um pouco, enquanto levantava percebi que Ágata me olhou e senti seu olhar em mim enquanto me afastava. Continuei andando sem olhar para trás e quando dei por mim estava na beira das árvores, no lugar onde nos beijamos. Não era o melhor lugar para eu estar então comecei a andar para o outro lado. Andei um bom tempo e encontrei um banco, me sentei nele e fiquei lá sozinho, vi alguém vindo em minha direção mas como estava escuro não consegui identificar quem era. Então a pessoa riu e soube quem era antes de ver. Isabella. Ela se aproximou com um sorriso e disse:

- Dói, não é?

- Não sei do que você está falando. - Respondi.

- É claro que sabe, não seja idiota.

- Olha Isabella, eu realmente não estou no clima para suas gracinhas. Então se você não tem um lugar melhor para ir procurarei um para mim.

Levantei e comecei a me afastar. Ela disse alto o suficiente para que eu escutasse:

- Ágata imbecil, estou falando de Ágata.

Parei onde estava e me virei para ela:

- O que tem Ágata, garota?

Ela ergueu uma sobrancelha e respondeu com a voz cheia de sarcasmo:

- Sabe, sempre ouvi falar que as pessoas ou eram bonitas ou inteligentes, não acreditava nisso, por minha causa é claro, afinal sou muito dos dois. Mas você está começando a me fazer questionar se sou a única exceção nessa regra.

Ela estava me irritando e sabia disso.

- Quando você decidir parar de se auto elogiar e resolver me dizer porque me procurou para falar de Ágata me avise.

Virei de costas novamente e ela falou:

- Não tente usar sua superioridade para cima de mim. Você tem muito mais a perder do que eu. - Ela sorriu. - Se quiser ouvir o que tenho a dizer sente-se aqui e cale a boca. Vamos, decida logo.

Eu queria mandá-la para o inferno, mas ela tinha algo que eu queria saber então voltei e sentei.

- Estou ouvindo.

Ela me olhou de cima, era a arrogância em pessoa.

- Então doutor. - ela continuava sendo sarcástica. - Eu percebi como você estava olhando para Ágata, não faça essa cara de surpresa você não é nada discreto...

- Ou talvez você seja intrometida.

- Eu disse para você sentar e ficar quieto, não disse? Arriscaria dizer que você nunca olhou para ninguém como olha para ela. E veja bem, eu gosto de Ágata, de um jeito que não gosto de quase ninguém. Embora ache você tão desprezível quanto uma mosca. Sei que você faria ela feliz e vejo como ela olha para você quando acha que ninguém está vendo.

- O que prova que você é intrometida.

- Quer que eu repita a parte de " tão desprezível quanto uma mosca " ou você vai lembrar que não gosto de você e que estou fazendo isso por Ágata não por você? Me interrompa mais uma vez e deixarei você em seu purgatório particular.

Ela me encarou com uma expressão desafiadora, eu tinha que admitir que, embora irritante ela era admirável.

- Vou ficar quieto, prometo.

- O problema é que mesmo ela gostando de você, ela não tem boas lembranças de relacionamentos e ela vai lutar com unhas e dentes contra o que senti, e talvez ela vença. Você terá que ser rápido, por que no seu caso já não tem mais volta, não é?

Fiquei em silencio.

- Quando eu faço uma pergunta você pode falar, só não pode me interromper. Então responda!

- Não. Não tem mais volta, quero dizer. Nunca senti por ninguém o que sinto por ela. Nunca passei por isso e não sei o que fazer. Feliz agora?

- Feliz? Não, essa não seria a palavra. Satisfeita, essa é a palavra para o que estou agora. Vou dizer o que você tem que fazer.

- Vai? Como vou saber se não é uma vingança sua?

- Não vai saber. Você só irá me ouvir e depois decidir se quer minha ajuda ou não. Simples assim.

- Fale.

- Se aproxime dela, vocês tem muito em comum, caso o contrario não estariam como estão. Vocês conversavam bastante antes, agora nem ficam no mesmo lugar. Mude isso, deixe ela conhecer você e ter confiança, esteja onde ela estiver e a deixe saber que você quer estar perto dela. Seja algo sólido na vida dela não algo que evapora na menor mudança. Eu não sei o que aconteceu com vocês para se afastarem, mas se vão continuar assim é melhor acabar com essa merda agora.

- Foi um beijo. Ela me contou a história dela com o filho e seu irmão, então nos beijamos e depois tudo mudou.

- Você mudou. Ela ainda é a mesma, você se afastou dela. Sério, se você não percebeu isso, você é muito mais burro do que eu pensava...

- Você poderia parar de me ofender?

- Você já é uma ofensa para si mesmo. Faça o que estou dizendo, não hoje é claro. Amanhã quando estiverem trabalhando converse com ela, seja o Jonathan que você era antes de a beijar, foi por esse que ela se apaixonou. Posso não entender muito sobre relacionamento mas entendo de Ágata, sei o que ela passou e sei o que ela precisa para superar isso. Acredite eu preferia qualquer outra coisa do que dizer o que estou prestes a dizer mas é você, é de você que ela precisa para ser feliz novamente.

Ela se virou e começou a andar, eu a chamei:

- Isabella, acha que um dia conseguirá me perdoar?

Ela olhou para mim.

- Se você fizer Ágata feliz, talvez. Mas não se preocupe comigo, você não fez muita diferença para mim. Sabe, você é lindo mas é só isso. Além do mais, já tive parceiros muito melhores que você.

Ela sorriu e começou a andar.

- Obrigado. - Eu disse, mas não sei se ela ouviu.

Esperei por um tempo para voltar, não queria ser visto vindo da mesma direção que Isabella, mesmo que agora simpatizasse muito mais com ela. Quando cheguei onde estavam todos reunidos, me assustei em perceber que só restavam poucos ainda na rua, a maioria tinha ido dormir. Fui para minha barraca também.

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